O Matuto e o Zodíaco

Vêm estas arredias opiniões à baila porque o Matuto topou com um artigo defendendo a readaptação dos signos do zodíaco à realidade do hemisfério sul.

O Matuto não entende nada de astrologia e nunca consulta o horóscopo. No entender do Matuto, não vem daí nenhum mal ao mundo. Entretanto, o Matuto leu uma entrevista a um cidadão de rara perspicácia que defendia o uso do Brasileirês em vez do Português. Parece que o basbaque veio com esta balela porque em Portugal lhe “roubam o gerúndio”. O lanfranhudo ficou abespinhado com o furto gramatical, revelando algo mal resolvido na sua relação com Portugal. O Matuto não tem pachorra para estas lamúrias e assegura que os Portugueses adoram o Brasil, esgotam os concertos de artistas Brasileiros e deliciam-se com o sotaque tropical. O Matuto relembra uma ideia escaganifobética dum pseudocientista social querendo reduzir as 4 estações do ano a apenas 2. Na mente do patego, o clima dos trópicos, sem estações tão bem definidas como as do hemisfério norte, não precisa de 4 estações. Bastam 2. Vêm estas arredias opiniões à baila porque o Matuto topou com um artigo defendendo a readaptação dos signos do zodíaco à realidade do hemisfério sul. No artigo falava-se na sensatez de tal empreendimento, embora o Matuto saiba de fonte segura que tal é uma tolice, um despautério, uma proposta totalmente desconchavada.

Todavia, se os astros têm realmente influência na vida dos homens, o Matuto, agora que habita o hemisfério sul, não quer perder esta oportunidade. Pois é! O Matuto é de signo escorpião. E está farto! Farto de ser destratado como “traiçoeiro”. Cansado de insinuações do tipo: “em quem vais largar o ferrão”? É tempo de mudar. E lucrar. O Matuto deseja ser identificado como “peixe”. Peixe é um signo de água, fluir, coisa de enseada amena, rio da vida… Como peixe, o Matuto poderia ser um arguto bacalhau – “o fiel amigo”. Ou um elegante salmão, para frequentar salões nobres. Não mais os barrancos e as sujeiras de escorpião. Matutando maduramente no assunto, o Matuto decide identificar-se como touro. Sempre é um animal de porte robusto elegante, e não rastejante. E com o fim previsível das touradas, os touros serão escassos, assim o Matuto poderá aproveitar umas quotas sociais para arranjar emprego confortável. Gémeos! O Matuto sempre quis ter um irmão. (desculpa maninha, é liberdade artística!) E naturalmente, existe o signo de leão – representa uma personalidade forte. Isso! Venha daí o “hakuna matata” – como no Rei Leão – não há problema! Não há preocupações! No worries! Relaxa Matuto. E vida é bela.

Dada a sua ignorância do zodíaco, o Matuta consulta o Mr. Google. Agora que está livre da ditadura dos mapas astrais, o céu – literalmente – é o limite. O Matuto decide sacudir o jugo dos ascendentes. Olha, olha! Existe o signo “virgem”!… O Matuto fica embeiçado. Voltar a ser criança. Começar do zero. Castidade renascida. Na sua nova identidade zodiacal, o Matuto sente toda uma candura, uma pureza, brandura, lhaneza, um ar dócil, uma delicadeza no trato, uma inocência de criança, uma pré-disposição para a paz entre os homens e boa vontade com as mulheres, uma singeleza diante dos biquinis, um rubor nas faces quando mencionam certas intimidades, um pudor existencial. O Matuto sente toda uma leveza que lhe dá uma sensação de levitar acima das fajutices e baixezas deste mundo escorpi-cão. E, se alguém ousar verbalizar uma grosseria ou obscenidade, na frente do Matuto, ele irá protestar – “respeitem-me, porque sou virgem”!