Trump ganhou! E agora Senhoras e Senhores Jornalistas e Comentadores?
Foram meses a fio em que, com raríssimas exceções, as/os Comentadores e Jornalistas da grande maioria dos Órgãos de Comunicação Social, fossem Televisões, Rádios e Jornais, nos intoxicaram com notícias e comentários para demonstrarem que a vitória primeiro de Biden, depois de Harris, era inexorável. Em Portugal não foi diferente do resto da Europa. Mas com o mal dos outros podemos nós bem!
Depois do penoso debate Biden-Trump de 27 de Junho em Atlanta, Geórgia, era patente a resignação por Trump ter um passeio à sua frente; depois dessa prestação desastrosa, assistimos a um verdadeiro Golpe, não de Estado mas de Partido, com a “defenestração” impiedosa do pobre Joe Biden a 21 de Julho. Que, era certo, não dispunha já das faculdades intelectuais para gerir uma Nação como os Estados Unidos. Umas semanas de desespero! Mas imaginemos que tinha sido ao contrário: que o golpe tinha sido nos Republicanos! Teriam sido semanas de protestos pelo atentado à democracia, desrespeito pelos votos dos milhões de eleitores que participaram nas Primárias, contra o ‘golpe palaciano nas costas do povo’. Assim, foram elogios a Biden pela lucidez (o tal fator que o afastara…), pelo altruísmo ao serviço do Partido, da Nação e do Mundo.
Seguiu-se a fase da ‘euforia’, quando as sondagens pós-Convenção Democrata de Agosto em Chicago, Illinois, pareciam sugerir uma inversão das intenções de voto a favor de Harris. E o debate Harris-Trump, a 10 de Setembro em Filadélfia, Pensilvânia, veio encorajar essa falange de fervorosos e empenhados apoiantes. Porém, não durou muito esse período em que tudo parecia mais equilibrado.
Com o aproximar das eleições de 5 de Novembro, os semblantes iam fechando, os sorrisos foram desaparecendo, e a preocupação parecia apenas ser a de fazer crescer a expectativa e o suspense quanto ao desfecho final: estava tudo empatado, com ínfimas diferenças nas sondagens dentro da margem de erro, portanto tudo podia acontecer.
Para o espetador ou leitor que seguia o tema eram evidentes, mesmo assim, a forma tendenciosa como as ‘notícias’ eram transmitidas: tudo servia para ‘justificar’ porque Harris, no fim, ia ganhar! Era a idade de um Trump idoso, com 78 anos, quando a idade de Biden, com 81, nunca tinha sido questionada. Era o tremendo impacto que uma disparatada gaffe dum apoiante num comício de Trump sobre os porto-riquenhos ia ter nos swing states, fatal para o Republicano. Quando Biden tem uma gaffe semelhante, foi apenas um ‘deslize’ sem consequências de um idoso. Até uma suposta sondagem nos últimos dias no minúsculo Iowa ia mudar o mundo! Nesse Estado, no fim, Trump ganhou por mais de 12%!Foram os alinhamentos das notícias, os ‘tempos de antena’ dados a cada um, as perguntas colocadas, os inquéritos de rua, os enviados especiais e os correspondentes na América, sempre enviesados e tendenciosos a favor de Harris.
Em Portugal, infelizmente, não temos a tradição que existe em Espanha, em França ou no Reino Unido, de ser conhecida a orientação política de cada jornal. Um eleitor de direita não compra o El País, o Liberation ou o Guardian, um de esquerda não lê o ABC, o Le Figaro ou o Times. Por cá, as Redações são esmagadoramente de esquerda, tendo os bloquistas ultrapassado largamente os comunistas. Não haverá nada de mal nisso, se não pretenderem fingir e propalar uma total isenção e independência que não é verdadeira. Sabe o leitor que na Alemanha 65% dos jornalistas são dos Verdes, um Partido que tem nas sondagens 10% das intenções de voto? Como seria interessante um estudo idêntico por cá…
Um Comentador deverá ser, por definição, um profundo conhecedor dos temas que ‘comenta’. Ora o conhecimento das variantes do sistema eleitoral para as presidenciais americanas, com o seu Colégio Eleitoral e a evolução da orientação política nos 50 Estados, evidenciam que, num caso de empate nas sondagens nacionais, a probabilidade duma vitória final de Trump é enorme, mesmo sendo derrotado no número total de votos em todo o País. O que nem foi o caso pois teve mais cerca de 5 milhões de votos que a sua adversária. Por isso a linguagem corporal incomodada e o tom dececionado que traduzia o desconforto dessa imensa maioria de Comentadores e Jornalistas nos últimos dias. Eles sabiam bem o que ia acontecer! Mas insistiam em difundir, conscientemente, o que era o seu wishful thinking! Não a realidade! Não a verdade da informação de que dispunham!
Por isso, para a grande maioria dos leitores e telespetadores nacionais, o resultado das eleições nos Estados Unidos terão sido uma total surpresa!
Então, durante semanas, Jornalistas e Comentadores que se habituaram a respeitar, a ver, ler e ouvir, ‘asseguravam’ uma vitória de Harris e, afinal, quem ganhou, largamente, foi Trump!
Não estavam a comentar ou a informar sobre uma importante campanha do outro lado do Atlântico, estavam envolvidos numa fervorosa campanha por Harris, esquecendo-se que os Portugueses e os Europeus não votavam! Mas os nossos compatriotas teriam preferido ser elucidados de forma isenta e objetiva. Esses Comentadores e Jornalistas falharam clamorosamente, uns mais que outros por alguns o fazerem por ‘militância’, e faltaram ao dever, que devia ser sagrado, de ‘informar’!
Até no anúncio dos resultados foi penoso tentarem esconder o óbvio! O descalabro do Muro Azul, como era possível perder a Carolina do Norte, depois a Geórgia! Mas faltava a Pensilvânia, e esta ia resistir. Mas caíu! E quando chegou o resultado do Wisconsin já de nada servia suspirar pelo Arizona ou pelo Nevada. Perdida a Presidência, restavam o Senado e a Câmara dos Representantes. Afinal o Senado também virou para os Vermelhos, que ironicamente nos Estados Unidos são os ‘reacionários’ republicanos! Restava a esperança da Câmara Baixa mudar para uma maioria democrata que equilibraria os poderes, uma forma de dizer que era a reserva para travar as ‘nefastas’ reformas oriundas da Casa Branca. Mas também esta manterá, quase de certeza, uma maioria Republicana!!! Nos Governadores, os Republicanos ganham 27 a 23. E não falaram dos ‘retrógrados’ Juízes do Supremo Tribunal Federal! Demais para uma noite só! Esgotou o Alka-Seltzer tal a azia! Seguramente, era a Realidade que se equivocava!
Quando recuperarem da ressaca do resultado das eleições, uma palavra de desculpas ficava bem!!! E, por favor, não repitam este triste espetáculo! l
Politólogo