Há oito anos, após o resultado das presidenciais norte-americanas, notei que os que falharam todas as sondagens e erraram todas previsões eram os que naquele momento explicavam a vitória de Donald J. Trump. Sem surpresa, os mesmos especialistas em coisa nenhuma continuaram a perorar, na sua tentativa vã de (re)educar o povo.
Durante o consulado de Biden, tal jornalismo militante perdeu totalmente a vergonha e alimentou uma acérrima e declarada campanha anti-Trump antes mesmo das eleições. Os factos, a análise, os dados, ou o enquadramento pouco importavam. A narrativa, como agora se diz, substituiu a informação, porque o objectivo era impedir a «catástrofe». Este prenúncio do fim dos tempos assumia várias formas nas previsões dos analistas de serviço, desde os que falavam no «regresso do fascismo» e no «fim da democracia», até aos que asseguravam o início de uma «guerra civil».
Os erros da administração Trump, as promessas eleitorais que não passaram do papel e a alteração profunda no Partido Republicano, para dar alguns exemplos gritantes, passaram para segundo plano. Foi um processo em que as críticas legítimas foram substituídas por uma cruzada moral – a luta do Bem contra o Mal.
Nesta «guerra santa», tais jornalistas comportaram-se como técnicos de farmácia que distribuíam moralina a todos os que desejavam ver o reino dos céus na Terra, enquanto temiam a falência iminente dos seus dispensários, nos quais cada vez menos acreditam.
É inaceitável que nas discussões sobre a «crise da Imprensa» este aspecto fundamental nunca seja tido em conta seriamente. Das poucas vezes em que é referido, nomeadamente perante o alcance e influência das ditas redes sociais, é numa comparação absurda entre meios tradicionais e grupos conspiranóicos. Mais uma vez, estes paladinos bem-pensantes, que se consideram os «salvadores do mundo», caem num maniqueísmo que não admite compromissos e ignora o que não lhe convém.
Por outro lado, os seus fiéis assumiram este credo como um combate existencial e os partidos, associações, movimentos cívicos, entre outros, tornaram-se os meios nesta luta sem tréguas.
Estes monges-guerreiros da justiça social, racial e climática, que culpam os «males estruturais» e os seus «agentes tóxicos», sabem que os seus principais inimigos são a liberdade e o «povo». A liberdade vale apenas para o seu próprio campo ideológico e deve ser cerceada àqueles considerados politicamente incorrectos. Quanto ao «povo», consideram que lhes pertence, mas que é «deplorável», ou mesmo «lixo», quando «vota mal».
Compreende-se, assim, o desespero dos devotos deste «progressismo trans» perante uma vitória clara e em toda a linha de Trump e dos Republicanos nestas eleições. É uma questão do foro religioso, uma questão de fé. É por isso que a sua auto-atribuída superioridade moral nunca desaparecerá. São os «eleitos» e, como tal, donos da verdade absoluta. Nada, muito menos a realidade, os mudará.