Pedro Guerra. Jornalista obcecado e comentador intempestivo

1966-2024. Um dos maiores adeptos do Benfica

O seu lema de vida era «Deus não dorme». Era conhecido por incendiar debates em defesa do Benfica. Em novembro de 2015 explicava a sua paixão pelo clube numa entrevista ao i: «A origem foi a de milhares de Benfiquistas – os golos de Eusébio, para mim o maior jogador de futebol de sempre. Apesar de ser filho de um sportinguista, que nunca me quis impor nada do ponto de vista clubístico, um primo meu também teve influência na minha escolha». Pedro Guerra, fervoroso adepto do Benfica e comentador combativo, morreu na sexta-feira passada, dia 15, aos 58 anos, vítima de cancro.

Nascido a 3 de março de 1966 em Angola, chegou a Portugal com 10 anos. Admitia ser intempestivo e uma das suas‘armas’para os debates sempre foi a preparação. Levava sempre «pilhas de papéis e dossiers atrás». Escrevia o i no mesmo ano, que este puxava de documentos, exibia fotografias que tinham anos, consultava cábulas intermináveis. Tinha uma leve obsessão por recordes, não tivesse sido ele arquivista numa pequena sala da redação do jornal O Independente, já no final da década de 1980. «Recortava notícias e catalogava textos e fotos em dossiers meticulosamente ordenados. Vivia afogado em papéis».

Interrogado pelo i se não lhe pesavam nas costas, respondeu que já estava habituado. «O corpo é que paga!», brincou.

Tinha um pouco mais de 20 anos quando começou a trabalhar no O Independente. Pouco tempo depois, já escrevia pequenos artigos sobre curiosidades e, mais tarde, sobre os grandes casos da Justiça. Era famoso na redação e, pela sua «piada», era chamado às reuniões de primeira página do jornal. Segundo antigos colegas daquela publicação, ficava quase sempre agarrado a um candeeiro de pé alto que Paulo Portas tinha no gabinete e ia atirando títulos e trocadilhos que foram transformados  em «manchetes históricas». Obcecado pelo trabalho, possuía uma infindável rede de fontes na área da Justiça e investigava as questões mais quentes.

Em 2002, quando Paulo Portas chegou ao governo de Durão Barroso, acabou por convidar Pedro para assessor do Ministério da Defesa. Foi depois comentador no programa Prolongamento e diretor de conteúdos da Benfica TV. Nos últimos anos a atualidade desportiva em vários canais, como a CMTV e a TVI.