Estamos estupefactos com a vozearia crítica que se avolumou nestas últimas horas a condenar a “polémica” intervenção do Primeiro-Ministro de Portugal por, em horário nobre, na abertura dos jornais da noite, ter decidido falar ao país sobre, pasme-se, o tema da Segurança. Sendo efectivamente algo inédito, ficamos espantados, se não boquiabertos, com a crítica viperina que lhe tem sido dirigida, deixando no ar a ideia de que o tema em sim mesmo não tem assim tanta dignidade para ser discutido e apresentado no fórum público, e muito menos numa abertura noticiosa, sem prejuízo do conteúdo, ao qual já lá iremos. Mais espantados ficamos perante o paradoxo de todos os comentadores assumirem que o tema é deveras muito importante, mas depois, talvez entumecidos por alguma falta de hábito, vêm dizer que foi uma intervenção falhada, desnecessária, em que o Primeiro-Ministro decidiu vestir uma farda, e assim politizar o tema, para “tentar ocupar o espaço mais à direita”. Quanto à análise política deixaremos isso para quem é mais entendido na matéria, mas não deixa de surpreender que se continue a demonizar o tema, desde logo tentando-o enquistar a um qualquer ideário político, e pior, quer desvalorizá-lo como se a segurança se adquirisse a la carte, sendo escabroso ao Governo, seguindo o diapasão de anteriores, vir falar sobre ele, sendo portanto matéria menor nas preocupações da população. Essa é a questão central, é que (1) a segurança é uma preocupação das pessoas e (2) nunca deixou de o ser, e com isto não se queira vir edificar a ideia de que existe um descalabro securitário e que por isso é preciso colocar trancas na porta, não, o que se pretende é que não se tenha que chegar aí para olharmos com prioridade para um pilar fundamental do bem-estar do Estado, mas sobretudo da ordem e paz social.
Não é por acaso que no mesmo dia do anúncio saíram duas notícias a assinalar, mais uma vez a importância da temática por parte das duas maiores câmaras do país, uma a reclamar, com unanimidade, mais investimento na segurança (no Porto[1]), designadamente o reforço da capacidade da PSP na visibilidade e reacção a fenómenos criminais cristalizados como o tráfico de droga e todos os crimes a ele associados, e outra a anunciar a criação de um observatório de segurança da cidade (em Lisboa[2]) fazendo-o a coberto de uma recomendação ao Governo intitulada “ Reforçar a Segurança em Lisboa – Confiança, Eficácia e Proximidade” que tem como objectivo monitorizar a criminalidade da cidade, fazendo-a acompanhar de relatórios periódicos para reforçar a transparência e a confiança das pessoas, não as iludindo com falsas percepções de (in)segurança. Esta criação mereceu a aprovação, para além da coligação do executivo que a apresentou, também do maior partido da oposição, o PS. Muitas outras autarquias têm seguido este diapasão, fazendo investimentos robustos na segurança das suas comunidades, sendo disso exemplo a disseminação de sistemas de videovigilância na via pública em várias cidades de Portugal, tal como a criação de mais departamentos de polícia municipal, contando hoje já com mais de 40, a que se juntarão outras em fase de desenvolvimento e implementação como, por exemplo, a recentemente anunciada Polícia Municipal de Faro[3].
Tudo isto demonstra exactamente o contrário do que muitos quiseram vir desacreditar nestas últimas horas, de que a segurança não é tema e que não tem dignidade para ser discutida. Perdoem-nos, mas não só tem, como sempre teve e sempre terá, isto se quisermos continuar a viver num dos países mais pacíficos e seguros do mundo (veja-se até o recente barómetro cujos resultados foram apresentados no Diário de Notícias há uns dias[4]). E veja-se como assim é, que 1 semana de tumultos não se tornou em várias mais como assistimos, por várias vezes, noutros países não muito longe de Portugal. Com isto não poderemos dizer que não deva existir muita cautela quando falamos do assunto para que não se alimentem falsas percepções de insegurança ou alarme social, mas isto não significa, a contrario, que não se fale no assunto com propriedade e almejando um reforço [ainda] maior da confiança das pessoas (que continuam a eleger as Polícias como a instituição mais confiável do Estado[5]), ou pior, que se associe a segurança como a bandeira de um partido X ou Y, quando ela deve ser bandeira de todos e, mais importante, bandeira de Portugal. Só assim continuaremos, como o Primeiro-Ministro também o referiu, a contribuir, sem que nos quedemos à sombra da bananeira, para um Portugal onde a segurança é sua marca de qualidade para quem queira visitá-lo, nele investir ou nele decidir viver.
[1]https://oprimeirodejaneiro.sapo.pt/noticias/fenomenos-da-criminalidade-e-inseguranca-na-cidade-exigem-mais-investimento
[2]https://www.publico.pt/2024/11/27/local/noticia/assembleia-municipal-lisboa-defende-criacao-observatorio-seguranca-cidade-2113494
[3]https://www.sulinformacao.pt/2024/05/camara-de-faro-estima-que-policia-municipal-comece-a-trabalhar-no-inicio-de-2025/
[4]https://www.dn.pt/7484633761/eleitores-do-chega-sao-dos-que-menos-confiam-nas-policias/
[5]https://www.publico.pt/2022/07/13/politica/noticia/portugueses-confiam-policia-comunicacao-social-politicos-2013455