CDS-PP. Um partido revitalizado despede-se de três dinossauros

A pouco menos de um ano para as eleições autárquicas, o CDS despede-se de três presidentes. As seis autarquias devem continuar na mão do partido, que se tem procurado revitalizar a partir da renovada Aliança Democrática. António Loureiro tem sido o mais mediático.

O CDS-PP tem vindo a registar, principalmente desde a década de 1980, uma queda que coloca o partido numa luta constante pela sobrevivência. Em 2022, o partido fundado por Adelino Amaro da Costa, Diogo Freitas do Amaral, Basílio Horta, entre outros, não elegeu qualquer deputado para a Assembleia da República. Também nas autárquicas a evolução tem sido descendente, com uma ligeira subida em 2009 e em 2021, quando mantiveram as seis autarquias que lideram fora da coligação com o PSD.
Das seis autarquias detidas pelo CDS-PP, três não contarão com a recandidatura do respetivo líder do executivo camarário. É o caso de António Loureiro e Santos em Albergaria-a-Velha, de José Pinheiro e Silva em Vale de Cambra, e de Luís Silveira em Velas, na Região Autónoma dos Açores.
Destes três presidentes de Câmara, destaca-se António Loureiro. Eleito em 2013, exerceu o cargo de vereador no mandato anterior (2009-2013) e é presidente da Mesa da Assembleia Geral da ANEFA (Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente). Acumula ainda a posição de vice-presidente do Conselho Fiscal da Associação Florestal do Baixo Vouga, de membro do Conselho de Administração da AdRA (Águas da Região de Aveiro) e faz ainda parte do conselho administrativo da Associação de Municípios do Carvoeiro-Vouga. Um currículo que lhe vale o título de dinossauro autárquico e que demonstra o interesse do autarca pelas questões ambientais.
Com isto, António Loureiro deixa uma obra considerável neste setor. Um dos pilares desta obra foi a inauguração do troço da Ecopista do Vouga, que liga Águeda a Albergaria-a-Velha, projeto que “estabelece (…) a ligação de Sernada do Vouga a Santa Comba Dão, ligando os municípios de Águeda, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul, Viseu, Tondela e Santa Comba Dão, através de um traçado ciclável e pedestre contínuo de cerca de 120km, criando uma rede de Ecopistas de âmbito regional”, pode ler-se no website da Infraestruturas de Portugal.
Em dezembro do mesmo ano, a Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha criou um Bairro Comercial Digital com vista à modernização e digitalização, fatores imprescindíveis para o desenvolvimento da atividade económica nesta nova era digital. António Loureiro disse, à data, citado pelo AveiroMag, que o projeto “promove a digitalização da economia, através da adoção tecnológica por parte dos operadores económicos e pela digitalização dos seus modelos de negócios, atraindo novos clientes e potenciando a criação de novos projetos e oportunidades de emprego”.

A vantagem do Testo

No verão deste ano, a multinacional alemã Testo abriu uma fábrica em Albergaria-a-Velha, investindo 25 milhões de euros e criando até cerca de 500 postos de trabalho, como foi noticiado pelo jornal digital Eco. A adoção de projetos de modernização e de estímulo ao tecido empresarial são responsáveis pela atração de Investimento Direto Estrangeiro, uma pedra angular do desenvolvimento tanto nacional quanto regional.
Voltando à ação de Alberto Loureiro no âmbito ambiental e da sustentabilidade, é de realçar que Albergaria-a-Velha foi galardoada com a Bandeira Verde ECOXXI 2023, “que distingue os municípios mais sustentáveis de Portugal”, informa o website oficial da ECOXXI. “O presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, António Loureiro, recebeu a Bandeira Verde ECOXXI 2023, um reconhecimento pela participação e empenho do município no Programa e das boas práticas de desenvolvimento sustentável adotadas (…) candidataram-se 66 municípios (…) tendo este ficado entre os 30 melhores classificados”.

Ajusto Secreto

Mas nem tudo foi um mar de rosas nos cerca de doze anos à frente deste município localizado no Distrito de Aveiro. Em 2019, António Loureiro foi constituído arguido no processo “Ajuste Secreto”, que resultou de uma investigação terminou com a detenção de sete indivíduos. Segundo o Público, o Ministério Público deduziu acusação contra 68 arguidos, aos quais imputou “890 crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, peculato, abuso de poderes, tráfico de influências, falsificação de documentos, violação de segredo, participação económica em negócio, prevaricação e detenção de arma proibida”. No decurso da investigação, e segundo o mesmo jornal, foi apurado que o Executivo camarário de Albergaria-a-Velha realizou uma obra particular, em benefício de um munícipe, com os custos “diluídos em empreitada de obras públicas cujo procedimento corria paralelamente”.
Em 2019, António Loureiro disse, numa nota enviada à Lusa, que estava “com a consciência limpa” e que acreditava na Justiça. “Na sede própria será dada justificação a toda a atuação, não prestando mais declarações até ao respetivo desfecho judicial”, conclui. Após sete anos, o caso ainda está em curso, e não custou a reeleição de António Loureiro em 2021 para o terceiro e último mandato à frente de Albergaria-a-Velha.
Durante os incêndios que assolaram Portugal neste verão, o concelho liderado por António Loureiro foi um dos mais afetados, com 50 habitações a serem danificadas e com cerca de cinco mil hectares de terreno a serem consumidos pelas chamas. Os incêndios provocaram prejuízos na ordem dos 30 milhões de euros e vitimaram mortalmente quatro pessoas, ferindo outras 36. Este foi o último desafio do líder camarário, que ainda terá mais nove meses de mandato para tentar mitigar estes danos.