A vida depois do fim do mundo

Tal como no fim do ano há um renascer na página  seguinte do calendário, há uma vida que continua, uma segunda, terceira… infinitas oportunidades.

Com o aproximar do fim do ano tendemos a fazer contas do que passou e, eventualmente, de alguns outros que deixámos para trás. E, com os olhos mais postos no futuro do que no passado, idealizamos o ano que aí vem e aquilo que esperamos dele, o que estamos dispostos a fazer para que seja ou sejamos ainda melhores. Os planos podem ser variados, mas o entusiasmo e a determinação do primeiro dia do ano dificilmente serão ultrapassados. É como um novo fôlego quando, depois de percorrermos as quatro estações, chegamos a meio do inverno com algum cansaço acumulado; é uma imaculada página em branco que se abre à espera de ser escrita. Como se ganhássemos forças e, ao virar a página do calendário, aparecesse, como por magia, uma nova oportunidade para tudo o que não conseguimos fazer até então.
Quando olhamos para os adolescentes ao soar das 12 badaladas, no auge da força da vida, imaginamos os desejos e projetos arrojados e otimistas que fazem. No entanto, a adolescência é uma fase em que o virar da página nem sempre é um processo pacífico. Sobretudo pela dificuldade em vislumbrar um recomeço depois do final de qualquer coisa importante.
Mais do que a pensar no futuro, os adolescentes vivem no presente, no ‘aqui e agora’. A linha de tempo é diferente: traz-se o passado, mas sobretudo vive-se intensamente e ansiosamente o presente, com uma ideia pouco clara de um futuro longo, demorado, novo e imprevisível. Se por um lado isso permite aproveitar imensamente cada momento, celebrar cada dia como se fosse o último, também pode ter o efeito contrário. Se a vida corre de feição é fantástico viver com os sentimentos à flor da pele, saborear profundamente os pequenos pormenores, dar tudo por alguém ou por uma tarde bem passada, investir em cada dia como se fosse o último. Mas quando se pensa no fim de um namoro, numa discussão com uma amiga, numa humilhação nas redes sociais, num semestre desastroso, o cenário pode não ser tão animador. Pode até ser muito difícil de ultrapassar, com direito a horas fechados no quarto ou àqueles dramas, mais típicos das raparigas, que nem sempre os adultos têm facilidade em entender e que muitas vezes desvalorizam. Aos nossos olhos são exagerados, mas para elas são bem reais e sentidos com aquela inquietante intensidade.
À medida que se cresce e que se vive, que se experimenta, que depois do ‘fim do mundo’ se consegue reconstruir um outro, que depois de uma discussão definitiva com a melhor amiga se fazem as pazes, que depois de terminar uma relação única e perfeita se vê nascer uma nova, aprende-se que o mundo não termina a cada perda ou fracasso. É bom saber que, tal como no fim do ano há um renascer na página seguinte do calendário, depois do ‘fim do mundo’ há uma vida que continua, uma segunda, terceira, e infinitas oportunidades. Nada se esgota enquanto houver ânimo e esperança. É preciso não desistir, ousar, experimentar e viver. Já a sabedoria popular diz: ‘a cada porta que se fecha, há uma janela que se abre’.
Tal como o ano termina e volta a nascer, cheio de esperança e vigor, também assim é a vida de todos os dias e nem se tem de esperar pelo ano seguinte.
Um Feliz 2025 – o ano do quadrado perfeito, dizem os matemáticos. E se não puder ser perfeito, que seja o melhor possível!