Influência? Ou compromisso e estímulo?

O próximo PR tem de assumir uma prática de compromisso e de estímulo económico e social e não apenas a requentada magistratura de influência.

Depois do regresso de Trump, o mundo será substancialmente diferente.         Para melhor? Para pior? É o dilema que divide a opinião pública mundial.

E se é verdade que no mundo ocidental o sentimento é de apreensão, não é menos verdade que no resto do mundo a sensibilidade coletiva orienta-se para a esperança.

Esta estranha dicotomia aparece clara numa mega-sondagem (28 000 pessoas de 24 países), realizada por duas instituições de grande credibilidade, que acaba de ser divulgada.

A realidade é como é e não como cada um de nós a imagina e estas conclusões contraditórias podem servir para que, com humildade, mas também com muita determinação, os europeus se preparem para encarar o futuro com pragmatismo, sentido de mudança e confiança coletiva.

Até porque, independentemente dos diferentes estados de alma, há a certeza inabalável de que os novos tempos estarão condicionados por uma grande imprevisibilidade.

Logo no primeiro dia do exercício das suas funções, o novo (velho) presidente dos Estados Unidos disse ao que vinha, assinando dezenas de ordens executivas (leis) que anularam políticas públicas bem sucedidas da presidência anterior e deixaram a marca essencial da nova ‘democracia autoritária’ que acaba de nascer nos EUA.

O abandono do Tratado de Paris sobre alterações climáticas, a saída da Organização Mundial de Saúde, o lançamento de tarifas alfandegárias sobre quase todas as importações e, sobretudo, a exaltação de um clima de isolacionismo político e de protecionismo económico, a que Trump chama «o início da idade de ouro na América» não podem deixar de causar uma profunda apreensão.

Consciente desta ‘ameaça’ a Presidente da Comissão Europeia já reagiu, declarando de forma assertiva «que não interessa a ninguém perturbar a economia global» mas reconhecendo, de igual modo, «que a ordem mundial cooperativa que se imaginava há alguns anos, não se transformou em realidade».

Este é, por isso, o momento de passar das proclamações grandiloquentes à concretização de soluções práticas com resultados a curto prazo, conscientes que o tempo escasseia e a frágil arquitetura institucional da UE não ajuda.

A verdade é que há ‘pupilos’ europeus que aguardaram com ansiedade a vitoria de Trump e agora se extasiam com o seu regresso ao poder.

A atitude de países como a Hungria, a Eslováquia e, parcialmente, a Itália mas, sobretudo, a fragmentação parlamentar que se verifica na generalidade das democracias liberais europeias não antecipam que seja fácil regressar à via da ordem cooperativa que a Presidente da Comissão alvitra.

A União Europeia tem, atualmente, ao seu dispor o Next Generation EU (vulgo PRR) mas já se percebeu, que face aos novos condicionalismos, é necessário ir bastante mais longe.

Ora, para ir mais longe já existe o instrumento teórico adequado; é o Plano Draghi elaborado a pedida da própria Comissão. Só (?) é preciso aglutinar a indispensável vontade política.

Serão os governos europeus capazes de a construir? A alternativa seria a derrocada absoluta do projeto europeu, para gáudio das minorias que ainda o integram, mas que apenas funcionam, enquanto ‘agentes’ de Trump e Putin, para o enfraquecer.

Portugal é uma sociedade com uma economia frágil e dependente que tem dificuldade em resolver problemas básicos como o funcionamento dos serviços públicos ou a erradicação da pobreza e não passará, assim, imune às dificuldades que se avizinham.

O debate sobre as presidenciais não pode ficar reduzido aos faits divers dos mínimos e dos máximos que espíritos dementados, mas usufruindo de generosos tempos de antena, vão debitando na opinião publicada .

No atual contexto, a escolha do próximo Presidente da República é decisiva.

Sem violar a Constituição, quer na letra quer no espírito, o PR tem de assumir uma prática de compromisso e de estímulo económico e social e não apenas a requentada magistratura de influência.

Numa sociedade confusa e deslaçada e com uma fragmentação parlamentar que criará instabilidade na governação é inevitável que se reforce e reclame uma maior intervenção presidencial.

Com mais ou menos resistência é, seguramente, o que virá a acontecer.