Querida avó,
Uma das coisas boas do meu trabalho é conhecer pessoas, com imensos conteúdos para partilhar e com as quais aprendo imenso. Outra coisa boa da minha profissão é percorrer o país de norte a sul. Ir a locais que descubro pela primeira vez ou a outros que aproveito para visitar com mais tempo.
Aveiro é uma dessas terras.
Já perdi a conta ao número de vezes que fui a Aveiro. Cada vez que visito a Cidade dos Canais descubro coisas novas.
Recentemente estive por lá vários dias, alguns dos quais com o nosso Ruy de Carvalho. Aproveitei para conhecer melhor a cidade.
Aveiro é muito mais do que os moliceiros e os ovos moles!
Parti à descoberta dos azulejos de Aveiro. Visitei a linda estação dos caminhos de ferro, e os seus 59 painéis, que são como cartões-postais da região. A cidade tem inúmeros edifícios com belíssimos painéis de azulejos, que vale a pena visitar.
Sabia que a zona sempre foi grande produtora de cerâmicas. Todos os dias acordava de frente para a alta chaminé central e a imponente fachada de tijolo de barro vermelho que tornaram a antiga Fábrica de Cerâmica Jerónimo Pereira Campos num ícone da paisagem urbana de Aveiro. Este local é hoje o Centro de Congressos. Quis conhecer melhor esse legado, como tal fui visitar a exposição: Fábricas de Cerâmica de Aveiro no Período da Arte Nova, patente no Museu Arte Nova, edifício que por si só já vale apena a visita.
Em 2024, Aveiro foi Capital Portuguesa da Cultura. Entre muitas atividades homenagearam Ruy de Carvalho com a exposição Retratos Contados e o descerramento de uma placa com o seu nome. Uma belíssima iniciativa do Presidente José Ribau Esteves, e da sua equipa. Desta forma, eternizam o nome do ator no Teatro Aveirense. Uma justa distinção para que as gerações futuras não o esqueçam.
Tanto que fica por dizer de Aveiro e dos aveirenses.
Vamos combinar uma ida à Cidade dos Canais?
Bjs
Querido neto,
Como sabes, tenho uma grande ligação a Aveiro. O Mário Castrim era da Costa Nova, distrito de Aveiro. Como tal, passávamos lá grandes temporadas. Muitos dos meus livros foram escritos nas esplanadas de Aveiro, saboreando umas tripas ou uns ovos moles.
Muitas vezes via passar os Marnotos da Ria de Aveiro. Homens robustos e tisnados, que trabalhavam normalmente, de sol a sol, de fevereiro a setembro, nas marinhas de sal. Numa mão traziam o ancinho, noutra o rapão do sal. Carregavam pesadas canastras cheiinhas de sal das salinas para as eiras e destas para os barcos saleiros. Tanto podiam ser cagaréus, como oriundos de localidades como a Gafanha da Nazaré, Mira, Aradas ou mesmo, Trás-os-Montes. «Aveirense verdadeiro ou é cagaréu ou é ceboleiro!» Era uma expressão que ouvia frequentemente.
Gostei muito de conhecer a história da Fatinha Ramos, a artista aveirense premiada internacionalmente. Obrigada pelo livro que me deste sobre a sua vida e obra e que faz uma retrospetiva da sua carreira e olha para o futuro do trabalho artístico da ilustradora.
Aveiro sempre foi uma cidade de ilustres. Sabes que Zeca Afonso nasceu em Aveiro?
Nunca foste à Romaria de São Gonçalinho, as festas em Aveiro onde se atiram toneladas de cavacas para a multidão?
É tradição atirar cavacas do cimo da Capela de São Gonçalo, enquanto centenas de pessoas as tentam apanhar no adro. As cavacas são tão rijas que algumas pessoas usam capacetes para proteger a cabeça, imagina.
Ribau Esteves já foi presidente da Câmara de Ílhavo. O Centro Cultural de Ílhavo foi uma ideia sua (entre outras). Uma aposta arrojada, que qualificou a cultura da cidade.
Bem que nos podiam convidar para sermos Confrades dos Ovos Moles. Era bem interessante arregaçarmos as mangas e vestirmos a pele de doceiros (por umas horas) numa oficina de doces.
Podemos ir a Aveiro na altura da Feira do Livro. Tratas disso?
Bjs