Ao assumir erros na governação socialista em matéria de imigração, defendendo um novo rumo, com um instrumento diferente da manifestação de interesse (que apresenta esta sexta-feira), uma atenção particular à integração com respeito pelo nosso ‘modo de vida’, Pedro Nuno Santos fez muito mais do que mudar a posição do Partido Socialista numa política setorial. O líder socialista deu uma guinada no próprio partido. A entrevista foi de molde a obrigar os seus correligionários a posicionarem-se: ou estão comigo, ou estão contra mim. E de caminho recolocou o PS na mesa dos adultos. Chegou-se à frente, retirou o domínio da moderação ao Governo e trouxe para cima da mesa uma proposta para discutir de igual para igual com Montenegro.
É sabido que em política, os fragilizados de um dia, são os fortes do dia seguinte. E a fragilidade anunciada pela bolha dos comentadores (pelo menos dos que se consideram educadores do povo), cada vez corresponde menos ao sentimento dos eleitores. Pedro Nuno sabe disso, e também sabe que a sua liderança supostamente unânime e incontestada precisava de fazer um corte com o passado. O opositor interno de António Costa precisava de se libertar da sua sombra, para poder ser um líder de corpo inteiro. E se para conquistar a sua própria liderança, Pedro Nuno Santos tiver de assumir uma oposição interna, seja. Mais, os críticos são o combustível de que o secretário-geral precisa para se afirmar.
Pedro Nuno Santos deu-se conta de que estava a definhar à frente de um partido que continuava a ser de António Costa. Os deputados, os candidatos, os senadores, todos guardiões do legado do ex-primeiro-ministro. Ficar preso às suas opiniões tornaria impossível preparar o partido para um novo ciclo e deixava-o numa camisa de forças em que cada posição divergente
do mainstream de Costa seria
bloqueada.
Depois de se afastar das teorias costistas sobre imigração, Pedro Nuno Santos recuperou terreno político e ganhou a sua carta de alforria para dirigir o partido de acordo com a sua estratégia. Acresce que o líder do PS, que é muito menos radical do que o pintam, percebeu que nas questões que mais preocupam os portugueses, como é o caso da imigração, não podia ficar colado à extrema-esquerda e deixar todo o espaço do centro a Luís Montenegro. Fez bem e voltou a virar o jogo. O governo vai ter de se acautelar, porque o PS está de volta.
Só nos faltava uma Pendrive
Sim, é grave, muito grave mesmo. O simples facto de ninguém saber explicar por que razão estava guardada no cofre do gabinete do primeiro-ministro uma pen contendo informação sensível sobre agentes de serviços secretos, polícias e outros representantes de serviços sensíveis do Estado, é assustador e permite-nos pensar que é a segurança do próprio Estado que está em causa.
O Ministério Público abriu um inquérito por suspeitas de violação de segredo de Estado e do sigilo fiscal. Isto, por si só, dá-nos a dimensão do que está em jogo com esta descoberta num gabinete que não é um gabinete qualquer, é o gabinete do chefe do Governo. A casa onde está depositada a confiança dos portugueses.
Fazendo fé nas declarações de Costa que garante que não sabia de nada, isso deixa-nos ainda mais intranquilos. Afinal qual é o grau de confiança e conhecimento que um primeiro-ministro tem na escolha do seu chefe de gabinete?