Jules Feiffer. O mestre dos cartoons

1929-2025. Dos mais influentes cartoonistas, Feiffer escreveu ainda guiões para Mike Nichols, Robert Altman e Alain Resnais.

O cartoonista e escritor norte-americano, vencedor de um Óscar e de um Pulitzer, cujos instintos criativos e compulsão para o comentário social e político não se deixavam confinar em nenhum género, morreu, no passado dia 17, aos 95 anos, na sequência de uma insuficiência cardíaca, em casa, em Richfield Springs, Nova Iorque.

Reconhecido como o anjo que soube deitar um contorno à angústia da América do pós-guerra, o próprio apelido dele passou a funcionar como sinónimo para uma certa atitude perante a vida, pelo que a sua tira Sick Sick Sick, mais tarde passou a ser conhecida apenas por Feiffer. Como assinala o obituário do The Guardian, a típica personagem que surge naquelas tiras é um nova-iorquino angustiado e liberal, alguém que passa vida a narrar as suas crises ao psicanalista, reforçando o vício auto-analítico e a queda pela ilusão.

Feiffer demarcava assim aquele território que associamos às fitas de Woody Allen, mas isto foi ainda antes de Woody Allen servir como referência fosse para o que fosse. No início, aquele traço foi um dos elementos identificativos do Village Voice, a revista que marcou uma época e definiu o elemento algo delirante ousado do jornalismo na sua feição mais passional. Foi ali, a partir de 1956, que Feiffer publicou a sua primeira tira semanal, depois de várias tentativas frustradas de encontrar um editor. Mais tarde viria a desenhar também para a Playboy, The Nation e Esquire, e, com o tempo, ganhou confiança e aventurou-se não só como autor de comics, mas como romancista, ensaísta, dramaturgo, argumentista de cinema.

Nascido a 26 de janeiro de 1929, no Bronx, no seio de uma família judia originária da Ucrânia, descobriu que podia romper com os muros de uma realidade bastante austera, marcada pela Grande Depressão, desenhando, isto depois de se encantar com os comics que então emprestavam cor aos quiosques do bairro.

Primo do advogado Roy Cohn, uma das mais malévolas personagens da vida política nos EUA, Feiffer foi, em grande medida, a sua antítese, alguém que sempre que ia para o estirador sabia muito bem para onde apontar, de forma a expor a hipocrisia mediática e governamental, o racismo, a violência militarista do seu país, as mentiras de Nixon… Foi preciso a morte para lhe partir o bico do lápis.