Deportações e IA marcam semana de Trump

A segurança nas fronteiras americanas é uma bandeira de Trump e um dos temas que mais importa para os eleitores. Contudo, não é Trump o único “deportador”. No setor da IA, os EUA têm também um novo desafio apresentado pelo seu grande rival.

Deportações e IA marcam semana de Trump

Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos há menos de duas semanas, mas, e como seria de esperar, as suas primeiras ações já fazem correr muita tinta. E isto é principalmente notório no tema do controlo da imigração ilegal e das consequentes deportações. Tendo sido uma das bandeiras da campanha dos republicanos, e um dos temas que assumia uma das preocupações maiores dos eleitores – principalmente dos eleitores do Sul -, é natural que assim seja.


Trump escolheu Tom Homan, ex-diretor da Agência para a Imigração e Controlo Aduaneiro (ICE), para tutelar o processo de deportações e de segurança fronteiriça. Por outras palavras, é o “czar” da fronteira. Ainda durante a campanha, Homan havia dito que seria responsável pela «maior força de deportação» da história dos Estados Unidos. Uma das críticas que, desde logo, foram dirigidas a este projeto de deportações em massa tinha que ver com os custos associados, ao que o novo czar respondeu, à data, que «quando as pessoas mataram e assassinaram, quando os chefes da droga destruíram países, e agora voltarão para esses países porque não vão ficar aqui, não há preço».
Ainda assim, a questão económica parece mesmo ser um fator importante em todo este processo. «Vamos fazer o que pudermos», disse Homan, «com o dinheiro que temos». «Estou a ser realista», continuou, «vamos tentar ser eficientes, mas se eu não tiver dinheiro para retirar tantas pessoas… O nosso sucesso todos os dias é tirar uma ameaça à segurança pública das ruas ou tirar uma ameaça à segurança nacional daqui», disse numa entrevista à jornalista Martha Raddaz, no canal americano ABC. Homan necessita de 86 mil milhões de dólares para executar o plano, e espera aprovação do Congresso. O czar da fronteira também entrou em disputa com o Papa Francisco, após o pontífice máximo ter criticado a política da administração Trump em relação aos imigrantes: «Portanto, ele pode proteger o Vaticano onde vive. Pode construir um muro no sítio onde vive, mas os americanos não o podem fazer». «O Papa devia limitar-se à Igreja Católica e resolver o problema. É uma confusão», concluiu em entrevista a Rob Schmitt no canal Newsmax.

Um objetivo inatingível
Donald Trump apontava para um número de deportações perto dos 11 milhões. Uma meta ambiciosa, mas, continuando o ritmo atual, seria apenas atingida em 2052, segundo os dados publicados pelo ICE. Tom Cartwright, do grupo de ativistas de esquerda Witness at the Border, disse, citado pelo Newsweek, que, nos últimos seis meses, o ICE levou a cabo, em média, 126 voos de deportação por mês. 2024, o último ano da presidência de Joe Biden, ficará marcado como o maior em termos de deportações desde 2019, tendo sido expulsas perto de 329 mil pessoas.
E se Trump faz das deportações uma bandeira fundamental do seu programa, vangloriando-se das mesmas, é importante olhar para os números dos últimos dois presidentes democratas, Biden e Barack Obama. Quando comparados os números de deportações da anterior administração com os da primeira presidência de Donald Trump entre 2017 e 2021, há um dado que salta à vista: Apenas nos primeiros dois anos de mandato de Joe Biden, foram deportados mais 1 milhão e 300 mil imigrantes que em todo o primeiro mandato de Trump. No total dos quatro anos de mandato, foram repatriados cerca de 4 milhões e meio de cidadãos. Esta discrepância pode ser explicada, em parte, pela pandemia e por uma grande parte de atos voluntários dos próprios imigrantes.
Porém, o tema das deportações em massa não era novo para o ex-Presidente, que já tinha feito parte da administração Obama como Vice-Presidente. Foi precisamente na era Obama que veio o recorde de deportações num só ano: 432 mil, apenas em 2013. Em 2019, o ano em que Trump mais deportou, foram expulsos 347 mil, segundo dados do ICE. Obama chegou mesmo a fazer uma declaração que está agora a ressurgir para relembrar os democratas que as deportações não são um tema exclusivo de Donald Trump ou dos republicanos: «Se fores um criminoso», disse Obama, «serás deportado. Se planeias entrar ilegalmente nos EUA, as tuas hipóteses de ser apanhado e mandado de volta aumentaram». «As ações que estou a tomar não são apenas legais, são o tipo de ações tomadas por todos os presidentes republicanos e todos os presidentes democratas no último meio século», concluía.

Fricções diplomáticas
Os casos recentes de deportações para o Brasil e para a Colômbia são os que mais dão que falar. Para território brasileiro foi enviado um avião com oitenta e oito deportados, que realizaram a viagem algemados. O Presidente brasileiro, Lula da Silva, pediu esclarecimentos à administração de Donald Trump e tenciona acabar com estes procedimentos, que já estão em curso desde a presidência Biden. Nos últimos três anos, foram enviados para o Brasil mais de trinta aviões.
O caso colombiano foi diferente, tendo provocado um braço de ferro entre Trump e o Presidente colombiano, Gustavo Petro. Este último tentou desafiar Trump, não dando autorização para a aterragem do avião que transportava os imigrantes colombianos, ao que o líder da Casa Branca respondeu com ameaças – maioritariamente na forma de restrições económicas – e o ultimato acabou por surtir efeito com relativa rapidez. Petro acabou por ter de autorizar a aterragem.

A IA chinesa
Mas nem só as deportações mereceram destaque na primeira semana de Trump ao leme dos Estados Unidos. O aparecimento de uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA) chinesa, o DeepSeek, também tem sido um dos temas centrais e promete acicatar o combate tecnológico entre as duas maiores potências mundiais, principalmente por apresentar uma boa relação preço/qualidade.
Sam Altman, o CEO da OpenAI, empresa criadora do ChatGPT, afirma que o DeepSeek é «impressionante» e mostra-se entusiasmado com a nova concorrência. «Obviamente entregaremos modelos muito melhores e também é realmente revigorante ter um novo concorrente!», disse. «A natureza open source do DeepSeek», diz Chester Wisniewski, especialista da empresa de cibersegurança Sophos, «deixa-o aberto à exploração – tanto por entusiastas, como por adversários». «O tema mais urgente», continua, «é que, devido à sua relação custo-benefício, é provável que vejamos vários produtos e empresas a adotarem o DeepSeek, que potencialmente traz riscos significativos à privacidade».
Por se tratar de uma ferramenta chinesa, vários curiosos tentaram obter respostas a temas delicados para o Governo chinês. Respostas estas que, naturalmente, não foram dadas pela plataforma.