A irracionalidade progressista

A ditadura do relativismo cultural e moral conduz ao anything goes e à mais sórdida imoralidade.  

A semana passado Pedro Nuno Santos, líder do PS, numa entrevista afirmou tardiamente o óbvio, neste caso, o que se pode dizer de mais sensato, justo e razoável sobre os imigrantes que chegam a território nacional: «…perceber que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada».

Colegas do seu partido, alguns responsáveis pela existência de 400 mil imigrantes ilegais entregues a todo o tipo de exploração, detetaram nestas palavras uma inclinação de adesão às teses da extrema-direita. Num programa da SIC, o pivô de um programa e uma comentadora jornalista, chocados, repetiam, «imagine-se, agora os imigrantes têm de se adaptar à cultura do país onde chegam». Uma figura assídua de televisões, revistas e jornais escrevia um tuite numa rede social onde afirmava: «Sábado vou comer um brunch, ver um jogo de râguebi e fazer uma sopa Tom Yan para jantar. Se calhar não passo no teste da ‘nossa cultura’». A razoabilidade mais elementar tem este tipo de contraditório. Que sistema de ensino e que tempo permitiu este tipo de deliquescência cognitiva?

Para a mentalidade progressista é chocante pedir a quem chega o respeito pela cultura que o acolhe, e principalmente o seguir valores fundamentais. Nestas cabeças somos todos o bom selvagem que a sociedade, particularmente a sociedade ocidental, perverte. Este tipo de mentalidade leviana é extremamente perigosa pelos danos que instaura.

A imigração descontrolada e as teses multiculturalistas sem estratégias de integração e assimilação são devastadoras, principalmente para os próprios imigrantes, porque os abandona.

Os valores e as culturas também não têm todo o mesmo valor. A ditadura do relativismo cultural e moral conduz ao anything goes e à mais sórdida imoralidade. Os melhores valores deixam de ser defendidos, promovidos e legados e tudo se submete a um critério confuso de subjetividade e a uma crença superficial e ingénua de bem. Algumas das características essenciais da cultura ocidental, ou seja, do seu património civilizacional e espiritual são a liberdade de pensamento (não o afirmar que o verde é azul), a igual dignidade de direitos das pessoas independentemente do sexo, da orientação sexual ou da cor, o Estado de direito, a separação de poderes, a laicidade do Estado, a liberdade individual responsável. Esses são os valores que têm de ser respeitados.

A senhora que acha que comer brunch ou sopa Tom Yan é uma transgressão à nossa cultura, está muito errada. A senhora nessa outra cultura, nesse sábado, passaria provavelmente o dia fechada em casa com a filha, na cozinha, faria sexo com o seu dono se este não a preterisse nesse momento a outra das suas mulheres, a filha não poderia fazer educação física na escola e usar a roupa que gosta, o filho de doze anos trabalharia de manhã à noite, tomariam até conhecimento da prisão de algum familiar por ser homossexual, e quem sabe, teria de tapar o rosto e o corpo para sair à rua.

Temos de defender a nossa cultura e integrar as pessoas nos nossos valores fundamentais que são melhores que de outras culturas, porque respeitam a dignidade de todos os seres humanos de modo equitativo. Sim, a nossa cultura também tem aspetos negativos, e um dos mais graves é sem dúvida, o relativismo progressista.