Um dos argumentos para a prova de que Deus não existe e se existisse não seria um ser de amor, ganha maior força com o número de catástrofes naturais e humanas que têm assolado o mundo.
No centro do argumento está o problema do mal. De onde surge o mal? Qual a sua origem? Porque permite Deus o mal? Porque Deus permite o sofrimento dos inocentes, das crianças?
Alguns dizem: «Se Deus existe e permite o mal, então ele não é amor». Outros: «Se Deus é amor e não impede o mal, então Ele não é Todo-poderoso!». De facto, conceber a coexistência de Deus diante dos sofrimentos provocados pelo mal é muito difícil.
Um exercício que precisamos de fazer para pensarmos o problema do mal é o seguinte: «Se colocamos em Deus a origem do mal, tornando-o mau e impotente e não Bom e Todo-Poderoso, onde encaixamos a responsabilidade individual».
Poderia Deus ter-nos criado incapazes do mal? Poderia Deus obrigar os homens a não fazer o mal?
Teoricamente eu diria que sim. Se Deus pode tudo, também nos poderia ter criado sem a capacidade de fazer o mal. Porém, se o fizesse, não estaria a criar homens capazes de amar, mas marionetas, manipuladas por um ser superior. Pode parecer difícil compreender isto, mas se partirmos de alguns exemplos contemporâneos compreenderemos melhor.
Pensemos num deus chamado Putin. Um ser superior que criou a Rússia – um tal Éden como não existe no mundo. Nesse Éden chamado Rússia há uns senhores chamados russos. Este são tão homens como todos os outros e participam da humanidade como todos os homens do mundo. Há, no entanto, um problema: estão impedidos de exercer uma das características do ser humano: a liberdade.
Podemos dizer que na Rússia ninguém faz o mal, porque todos são orientados pelo ser supremo. Porém, a falta de liberdade torna-os prisioneiros dentro do seu próprio corpo, porque o que nos torna seres humanos é a capacidade de pensamento que nos liberta dos limites do material.
Pensar um mundo, onde Deus ao criar o homem o obrigasse a não pensar e, consequentemente, a não se desviar do Bem supremo, significaria criar uma humanidade que prescindisse de pensar, relegando a responsabilidade individual para o domínio do ser supremo.
Ora, é isto mesmo que não queremos. Nós não queremos voltar a prescindir da nossa liberdade, da nossa capacidade de pensar, da nossa capacidade de amar. E não haverá amor se não houver liberdade. Imaginem uma mulher ser amada pelo seu marido, não porque este a escolheu, mas porque este não pode não escolher outra mulher, e vice versa.
O amor exige, sempre, a liberdade. Uma humanidade incapaz de pensar e de ser livre, não poderia, nunca, ser chamada de humanidade, mas de marioneta, como referi atrás. Daí, ao considerar o problema do mal será mais simples relegar a sua origem num ser supremo – Deus – ou numa espécie de Nada.
Quando o texto de Adão e Eva nos é relatado aparece este mesmo problema. Quando Deus pergunta pela responsabilidade individual, ambos encontram outros culpados: «Aquela que me deste por mulher deu-me o fruto e eu comi» ou «a serpente enganou-me e eu comi». Porque o mal apareceu sempre por causa de um deus menor. A culpa do mal não é nossa é sempre dos demais. Porque a Rússia invadiu a Ucrânia por causa dos americanos… «Eles estenderam a NATO e nós comemos a Ucrânia».
O problema do(s) mal(es)
Se Deus pode tudo, também nos poderia ter criado sem a capacidade de fazer o mal, mas não estaria a criar homens e sim, marionetas…