Quando o Bloco de Esquerda surgiu no panorama político português pareceu uma lufada de ar fresco. Uma esquerda urbana e sofisticada, constituída por intelectuais socialmente aceites e com espaço numa comunicação social que, como hoje, combina um misto de ingenuidade ignorante sobre a real natureza da criatura, com o colaboracionismo próprio dos idiotas úteis.
Francisco Louçã era o intelectual-radical eternamente jovem que atraía, por um lado, os eleitores esquerdistas urbanos, dececionados com o fim do comunismo e, por outro, os socialistas frustrados com o facto do PS de ‘terceira via’ ser pouco socialista – o líder moderado, católico praticante, António Guterres, foi uma bênção para os fundadores do BE. Criado com apoio do PS para canibalizar votos ao PCP, acabou sendo instrumento do PSD para canibalizar o PS (uma história dos alçapões da política portuguesa, que um dia será contada).
Nunca teve, mesmo nos melhores momentos, a implantação real que o espaço mediático oferecido sugere (como hoje acontece com o Livre, muito suportado nas redações), conforme indiciam os pífios resultados autárquicos recorrentemente obtidos.
O desajustamento da sociedade portuguesa de então era evidente. Causas como a liberalização da interrupção voluntária da gravidez ou do consumo das drogas leves, assim como os falsos recibos verdes, desemprego e ordenados dos jovens, motivaram forte apoio social e ajudaram o partido a crescer.
Depois destas causas, procuraram ‘cavalgar outras ondas’, buscando o sucesso de causa em causa. Todavia, estas não têm tido resultados tão auspiciosos. O modo como a hipocrisia dos agentes políticos do BE foi exposto nas questões de habitação, igualdade de género, direitos das mulheres e no alojamento local é uma humilhação, e as primeiras reações do partido são sempre falsas e ridículas. São sempre ‘apanhados na curva’.
Na habitação, Ricardo Robles, o vereador de Lisboa que gritava contra a especulação era ele mesmo um especulador.
Na igualdade de género, o ‘guru’ Boaventura Sousa Santos, foi exposto como alegado predador sexual, sem que as camaradas se ofendessem ou defendessem as mulheres ofendidas. A ex-candidata presidencial Marisa Matias, do ‘vermelho Belém’, era particularmente próxima do alegado predador.
Nos direitos das mulheres, a cúpula do partido não hesitou em obliterar os direitos de mulheres grávidas ou lactantes, com consequências que estão já entregues às instituições judiciais.
A última facada surgiu do ex-assessor do ex-vereador de Lisboa, José Sá Fernandes. O dito assessor, que esteve na preparação de referendos em Lisboa para impedir a aprovação de mais alojamentos locais, mas que o próprio tinha dois desses estabelecimentos na cidade. Agia como um bom capitalista: evitava a concorrência no seu ramo de negócio. Deve ser este tipo de assessores que o BE quer contratar em Oeiras, sem que o Executivo permita.
A real face do BE está à vista: uma manta de retalhos ideológicos e um aglomerado de contradições. Gelatina política em puro estado de hipocrisia. Habitação pública é boa, mas não aqui. Igualdades de género e direitos das mulheres são bons, para os outros praticarem: o nosso ‘alegado’ predador, até é fofinho. Alojamento local descaracteriza a cidade, se for dos outros…
Se, há poucas semanas, vimos que o partido dos ‘portugueses de bem’ era afinal o coito dos ‘pilha-malinhas’, apenas as amizades nas redações impedem que se diga do estado comatoso em que está o BE.
Quando um dia se conhecer a certidão de óbito, a mesma dirá: morreu de ridículo!
BE: da agonia à morte será um saltinho
A real face do BE está à vista: uma manta de retalhos ideológicos e um aglomerado de contradições