Esta expressão tem sido citada por comentadores e analistas – cujos mais eminentes representantes norte-americanos serão provavelmente os Professores Jeffrey Sachs e John Mearsheimer, respetivamente das universidades de Columbia e de Chicago – para ilustrar garantias que teriam sido dadas por países da NATO, nos anos 90, de que a aliança não se expandiria para Leste.
A expressão parece ter sido efetivamente empregue por James Baker, então Secretário de Estado dos EUA, num encontro com o Presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachov, em 9 de fevereiro de 1990, de acordo com o registo norte-americano da conversa.
O contexto da conversa era o processo de unificação alemã, que, segundo Baker, se tinha «tornado inevitável» e avançava «muito mais depressa do que alguém poderia esperar… Estamos a enfrentar mudanças rápidas e fundamentais … Quero que saiba uma coisa com certeza: nem eu nem o presidente [norte-americano] procuramos ganhar qualquer vantagem unilateral neste processo».
A grande preocupação, efetivamente, era o futuro enquadramento militar de uma Alemanha unificada que estava a emergir rapidamente, uma Alemanha que havia sido a causa, num passado recente, de duas guerras mundiais. Continua Baker: «Não favorecemos uma Alemanha neutral… que não será necessariamente não-militarista. Poderá decidir que precisa das suas próprias capabilidades nucleares independentes, em vez de depender do dissuasor nuclear norte-americano». Daí a necessidade da manutenção da Alemanha na NATO, oferecendo, como penhor da manutenção do equilíbrio europeu de forças, a garantia de que a Aliança Atlântica não se expandiria para Leste.
Gorbachov – que começara a conversa por dizer que «tendo em consideração diversos sinais, a situação na Europa está a ficar fora de controlo» – preferia a dissolução de ambos os pactos militares, NATO e Pacto de Varsóvia, e um enquadramento da Alemanha unificada no contexto da CSCE, onde estavam representados 34 países europeus para além dos EUA e Canadá.
Para além dos EUA, outros líderes ocidentais abordaram nessa altura a questão de uma eventual expansão da NATO. A 31 de janeiro de 1990, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha Ocidental, Hans-Dietrich Genscher, proferiu um discurso público em Tutzing, na Baviera, sobre a unificação alemã, relatado para Washington pela Embaixada dos EUA em Bona. Genscher deixou claro que «qualquer tentativa de expandir as estruturas militares da NATO ao território da Alemanha Oriental bloquearia a unificação alemã».
Também o Chanceler alemão Helmut Kohl referiu a Gorbachov, a 10 de fevereiro de 1990, que «consideramos que a NATO não deve alargar o seu âmbito. Temos de encontrar uma resolução razoável. Compreendo corretamente os interesses de segurança da União Soviética e compreendo que o Senhor Secretário-Geral, e a liderança soviética, terão de explicar claramente o que está a acontecer ao povo soviético».
Por sua vez o Presidente francês, François Miterrand, referiu a Gorbachov em 25 de maio de 1990: «Disse sempre aos meus parceiros da NATO: assumam o compromisso de não deslocar as formações militares da NATO do seu atual território na RFA para a Alemanha Oriental».
Segundo o diário do Embaixador britânico Rodric Braithwaite, durante a visita a Moscovo do primeiro-ministro britânico John Major, a 5 de março de 1991, o então ministro soviético da Defesa, Marechal Yazov, expressou preocupação com o interesse de alguns países da Europa Oriental em aderir à OTAN. Major respondeu a Yazov que «não previa as circunstâncias, agora ou no futuro, em que países da Europa Oriental se poderiam tornar membros da NATO».
Em suma, como disse o Embaixador norte-americano Jack Matlock em 5 de dezembro de 1994, «embora não fosse uma garantia legalmente vinculativa, demos garantias categóricas a Gorbachov, quando a URSS ainda existia, de que, se a Alemanha unificada pudesse permanecer na NATO, a NATO não se expandiria para Leste… Embora não fosse legalmente vinculativo era, no entanto, um acordo geopolítico».
Fast forward 17 anos, até à Cimeira da NATO em Bucareste, Roménia, em 2008, tinham-se realizado 14 expansões da NATO, todas elas para Leste, relembradas neste mapa.

No entanto, isso não era suficiente. Nessa Cimeira, o Presidente Bush (filho) propôs uma nova expansão, desta vez para dois países que tinham pertencido à URSS (os bálticos nunca tinham sido reconhecidos como tal), tendo a entrada da Ucrânia e Geórgia sido aprovadas no ponto 23 da respetiva Declaração.
Stephen Wertheim recordou recentemente, no New York Times, que o então Embaixador norte-americano em Moscovo, William Burns, avisou nessa altura que: «A entrada da Ucrânia na NATO é a mais reluzente de todas as linhas vermelhas para a elite russa (não apenas Putin)». Burns previu especificamente que a tentativa de trazer a Ucrânia para a NATO «criaria um terreno fértil para a interferência russa na Crimeia e no Leste da Ucrânia». Mas Bush insistiu, enfrentando ampla oposição dos aliados europeus dos Estados Unidos, especialmente da França e Alemanha . No final, forjou-se um compromisso: a NATO declarou que a Ucrânia e a Geórgia «tornar-se-ão membros» da aliança, mas sem oferecer um caminho tangível para a adesão. Segundo Wertheim: «Foi uma solução estranha, que provocava a Rússia sem proteger a Ucrânia. No entanto, os líderes da NATO têm continuado a repeti-la obstinadamente, incluindo na última cimeira realizada antes da invasão da Rússia em 2022».
Efetivamente, segundo Fiona Hill, «quatro meses depois [da Cimeira de Bucareste], em agosto de 2008, a Rússia invadiu a Geórgia. A Ucrânia recebeu a mensagem da Rússia ‘alto e bom som’. Recuou na adesão à NATO nos anos seguintes. Mas, em 2014, a Ucrânia quis assinar um acordo de associação com a União Europeia, pensando que esta poderia ser uma rota mais segura para o Ocidente. Moscovo, acusando a Ucrânia de procurar uma porta traseira para aderir à NATO, voltou a atacar, anexando a península ucraniana da Crimeia e dando início a uma guerra por procuração, em curso, na região ucraniana do Donbass».
E assim, centímetro a centímetro, chegamos à atual Guerra da Ucrânia.