Os jornaleiros e os pseudo-comentadores que inundam os vários órgãos de comunicação social, e em especial os canais informativos de televisão, deveriam ser sujeitos a uma prova de aferição, condição prévia e obrigatória para que se possam dar ao luxo de debitar assuntos de interesse geral destinados a um público ávido de ser informado sobre o que se passa no País e no mundo em geral.
A primeira questão de avaliação de conhecimentos, e a cuja reprovação implicaria a proibição do exercício da actividade jornalística, seria sobre a diferença entre notícia e informação, conceito de que praticamente todos aparentam completa ignorância.
A um jornalista, e em particular a um pivô de televisão, exige-se que se abstenha de fazer passar notícias, mas sim, e apenas, que se limite a transmitir informação e sem tecer qualquer tipo de comentário, tarefa essa da responsabilidade dos comentadores que se amontoam em frente às câmaras ou que enchem páginas de jornais.
Tanto os jornalistas como os comentadores têm a obrigação de trabalhar uma notícia que lhes tenha chegado ao conhecimento antes de a divulgar, ou seja, apurar a sua veracidade e estudá-la no sentido de compreender a mensagem que deve ser passada e, somente no fim, depois de aquela se ter transformado em informação, disseminá-la junto do público.
Não é o que se passa na nossa imprensa.
Lançam-se notícias para o ar, sem antes se indagar da sua exactidão e sem se procurar compreender o seu significado, e de seguida os costumeiros opinadores de serviço deturpam por completo o seu conteúdo e servem-se delas para a habitual lavagem ao cérebro dos mais incautos.
Foi precisamente o que aconteceu recentemente, no momento em que o Ministério da Administração Interna fez espalhar um relatório da PSP alusivo aos números da criminalidade na grande Lisboa, episódio que levou, de imediato, a que as mentes ditas pensadoras da nossa praça aproveitassem para disparatar a torto e a direito, interpretando à sua maneira os dados constantes no referido documento.
Jornaleiros, comentadeiros e politiqueiros, uns por pura ignorância, outros, sem dúvida a maioria, com consciência da mentira em que se embrenharam, de imediato incendiaram a opinião pública com a ideia de que a criminalidade baixara na área de Lisboa e sentenciaram que a percepção de insegurança das populações se baseia numa realidade inexistente.
Segundo os dados oficiais, na verdade o índice de criminalidade do ano transacto desceu em Lisboa, quando comparado com o verificado em 2023.
No entanto, este facto deveu-se apenas a dois factores: a acentuada diminuição de delitos relacionados com a condução ilegal e com a condução sob os efeitos do álcool; e o decréscimo de crimes referentes ao tráfico e à posse de estupefacientes.
No primeiro caso, existe uma simples explicação, que consistiu no fechar de olhos dos polícias à fiscalização de trânsito, acção que teve como razão de ser a contestação a decisões da tutela, nomeadamente a ausência de subsídios de risco às forças de segurança.
Milhares de autos ficaram por levantar, como consequência de uma greve de zelo que se prolongou por diversos meses.
No segundo caso, os crimes alusivos às drogas diminuíram drasticamente fruto da alteração da Lei, a qual veio descriminalizar a sua posse e o tráfico de pequenas quantidades.
Toxicodependentes e pequenos traficantes passaram a consumir e passar drogas livremente em qualquer espaço público, deixando as autoridades sem capacidade legal para pôr cobro a esse flagelo.
Todos os restantes crimes, em especial os roubos, furtos e assaltos, aqueles que verdadeiramente provocam alarme social, aumentaram consideravelmente, pormenor que as televisões e os jornais, com raras excepções, pura e simplesmente ignoraram!
Alguns dos políticos e comentadores que se serviram da imprensa para atacar quem se tem insurgido contra o clima de insegurança que se vive em Lisboa e nos seus arredores, refugiando-se, para o efeito, no mencionado relatório da PSP, não o leram e basearam-se somente no seu título para daí retirarem conclusões bem distintas das consignadas no texto.
Mas que não haja dúvidas de que a larga maioria daqueles que se entreteram a dissertar sobre o assunto fizeram-no com o recurso à má-fé, socorrendo-se da mentira para tentarem enganar propositadamente quem se prestou a ouvi-los.
Os autarcas da área de Lisboa têm toda a razão quando apontam o dedo ao aumento da criminalidade como causa da insegurança de que as populações se queixam, não sendo esta uma simples percepção, como muitos pretendem fazer crer, mas sim uma realidade que tem vindo a afectar a qualidade de vida de quem vive na zonas mais vulneráveis por esse martírio.
Basta ler-se com atenção o teor do referido relatório, disponível para fácil consulta de quem queira estar informado, para facilmente se perceber que a criminalidade que causa medo e desconforto junto das pessoas sofreu um acentuado acréscimo, em particular nas ruas da capital sujeitas a um maior fluxo de imigração descontrolada.
Tudo o que se diga em sentido contrário a esta verdade inquestionável, não passa de combate político!