Nós, pais e adultos, temos muito pouco jeito para falar com os mais novos, principalmente com os nossos filhos. Estamos sempre desajustados da realidade deles. Quando são crianças comunicamos com eles como se fossem bebés e, quando mais crescidos, falamos como se eles fossem adultos numa dessintonia desconcertante.
Falar à bebé, além de parecermos parvos, só os torna mais bebés, mas é uma coisa que passa com o tempo: apesar do nosso esforço para que eles não aprendam a falar corretamente, os miúdos acabam por conseguir. O pior, apesar de tudo, é quando achamos que as crianças sabem conversar. Não sabem. As crianças respondem sim ou não às nossas perguntas, fazem perguntas diretas e quando querem falar, falam sem parar e perdem-se se são interrompidas. Manter uma conversa com uma criança como estamos habituados a fazer com os adultos, pode ser traumático: “Como é correu o teste? Bem. Bem como. Bem. Mas respondeste a tudo? Sim. Tudo certo? Não sei. O que que saiu? Não me lembro, foi de manhã. Mas saiu aquilo que estudaste? Algumas coisas, sim, outras não. Então, lembras-te? Mais ou menos.” É de arrancar cabelos.
Outra: “Como é que foi o jogo. Bom. Bom como? Foi giro. Não aconteceu nada? Não, foi normal”. E depois descobrimos que houve pancadaria, que chorou, que ficou no banco, mas acabou tudo bem. E é por isso que não há nada a registar.
Mais uma clássica: “Como é que correu a escola? Bem. Ou seja…? Bem. Tens TPC? Acho que sim, vou ver. Deram matéria nova? Não me lembro, mas acho que sim. Em quê? Não sei, tenho de ver”.
As crianças não respondem a nada no abstrato. Se queremos ser informados sobre estas temáticas é obrigatório fazer perguntas concretas, dirigidas, sem margem para erro. E não é por mal, é por condição infantil. As crianças gostam pouco de responder a perguntas. Perguntas são uma prerrogativa delas. E neste capítulo devemos estar dispostos a todo o tipo perguntas absurdas, descontextualizadas, inteligentes, exotéricas, interessantes e quase todas sem resposta. Uma criança não pergunta aos pais como é que lhes correu o dia, mas sim o que é o jantar ou porque é que as estrelas não caem do céu. Seguir o rasto das dúvidas que têm e ouvi-los a conversar uns com os outros são as únicas formas de conhecermos o que vai nas suas estranhas cabecinhas. Perguntar não ofende, mas também não adianta nada.
Depois crescem e quando crescem deixam de fazer perguntas, mas continuam a não dar respostas. Mantêm os monossílabos. Quando um jovem pergunta aos pais como lhes correu o dia, quando lhes liga só porque sim, é porque precisa de alguma coisa. Também não é por mal, é porque acham genuinamente que estão a ser bem-educados. E no fundo estão. Quando um filho telefona a um pai para saber como é que ele está, é sinal de alarme: quer dizer que o pai ou está doente ou está velhinho. Jovem que é jovem, precisa dos pais, não são os pais que precisam dele. Comunicar com os filhos é saber devolver as perguntas com perguntas e saber concretamente o que perguntar. Tudo o resto é ruído.
As falhas de comunicação
Quando um filho telefona a um pai para saber como é que ele está, é sinal de alarme: quer dizer que o pai ou está doente ou está velhinho. Jovem que é jovem, precisa dos pais, não são os pais que precisam dele.