Faltam 11 meses para que os portugueses elejam o próximo Presidente da República. Pelo meio, ainda vai haver espaço para muita crise, excitações com a aprovação do orçamento de 2026 e, no fim do verão, umas eleições autárquicas que servirão para marcar território, na preparação da verdadeira crise política, a qual, caso não haja surpresas de maior, ocorrerá a meio do mandato, na aprovação do orçamento para 2027. É caso para dizer que a preocupação com as presidenciais chegou mais cedo do que devia, ou talvez não.
Apesar das autárquicas dizerem mais diretamente respeito à vida das comunidades e ao quotidiano dos cidadãos, a verdade é que a eleição do mais elevado magistrado da Nação deverá marcar o compasso dos próximos anos do país. Ainda que, no sistema político português, o Presidente da República não tenha funções executivas, é ele o pêndulo e a referência do sistema. Não é de hoje que as intuições políticas estão desprestigiadas, mas a história certamente analisará o papel de Marcelo Rebelo de Sousa na dessacralização do poder e, consequentemente, no agachamento do poder político, sendo este substituído por poderes fáticos desprovidos de legitimidade para o exercício do mesmo.
É um lugar-comum dizer que o programa do Presidente da República é a Constituição, até por que é isso que ele jura na tomada de posse na Assembleia da República: ‘Cumprir e fazer’ a Lei fundamental. Todavia, essa perspetiva é redutora do seu papel. O poder de um Presidente tem uma dimensão formal fechada, legalmente prevista, e um poder informal que decorre da ‘geometria variável’ com que o ‘inquilino de Belém’ exerça o cargo no seu consulado. O exercício deste cargo é, pois, uma decorrência da sua visão do mesmo e da sua capacidade política de transformar a visão em realidade.
A mim preocupa-me uma dimensão da política que considero estar a ser perdida, o que provoca enormes dificuldades à comunidade. A ideia de país, de futuro e do seu lugar no mundo.
A aceleração do mundo contemporâneo encurtou, ainda mais, ciclos políticos já de si curtos. A geração das atuais lideranças, com pouca ou nenhuma perspetiva e cultura estratégica, ou de interesse nacional, virados para interesses de grupo ou de fação (não tresler para algo mais do que o que está escrito), com ganhos de muito curto prazo, impede que se adotem as reformas estruturais devidas.
Um líder de governo que adote medidas sobretudo de longo prozo não é capaz de responder ao ciclo eleitoral e mediático curto. Um líder da oposição que estabeleça acordos de regime é visto pelos seus opositores internos como fraco e incapaz de fazer real oposição. Tudo é foco de discussão e não há, assim, capacidades de entendimento em questões que são básicas e essenciais para a sociedade.
O próximo Presidente não pode ser um agente agitador deste ‘sistema politicamente hiperativo’, deve saber colocar-se acima dele. Só assim gera confiança entre os outros agentes, para estabelecer as pontes que permitem as tais decisões de fundo. Paralelamente, estando acima pode falar às instituições olhando mais para os princípios para as quais as mesmas foram criadas, para além da ‘espuma dos dias’ em que estas se deixam enredar. Tudo isto tem sido esquecido. Tudo isto precisa de ser novamente recordado e ser posto em prática.
Por fim, recordar também que o Presidente precisa de conhecer as razões de Portugal existir e de ter conseguido subsistir, com mutações, por já quase 9 séculos. Só assim se consegue definir o lugar que país quer ocupar no mundo.
Naturalmente que este perfil exclui candidatos dos extremos, agitadores de domingo ou os ditos candidatos de fação.
Não é difícil perceber os dados das sondagens e quem será o próximo Presidente da República.
O que eu espero do próximo Presidente
O próximo Presidente não pode ser um agente agitador deste ‘sistema politicamente hiperativo’, deve saber colocar-se acima dele.