O organograma de um mundo opaco virá à superfície

A revolução conservadora, ou do senso comum de Milei, primeiro e de Trump e do seu grupo depois, é contra este estado de coisas que está a ser feita.

A Revolução Francesa trouxe-nos o Estado tal qual hoje o concebemos. Girondinos e jacobinos constituíam-se como a Direita e a Esquerda no parlamento francês mas ambos partilhavam o mesmo conceito de um Estado tutelando a vida dos cidadãos com a progressiva eliminação dos corpos intermédios. E à medida que o tempo foi correndo, essa tutela foi-se tornando mais e mais pesada. Uma burocracia sempre mais complexa e cara foi-se instalando, alimentada por impostos cada vez mais pesados. Espoliados dos seus recursos, os cidadãos dos Estados do Ocidente foram perdendo, polegada a polegada, a capacidade para decidir do seu próprio destino. Restava-lhes, através dos parlamentos que elegiam, serem regidos pelas suas próprias leis.
Desde o fim da II Guerra Mundial, mas, sobretudo, a partir dos anos setenta do século passado, começamos a assistir ao crescente poder quer das máquinas burocráticas quase em autogestão nos diversos Estados, quer de múltiplas plataformas ditas multilaterais todas elas alimentando crescentes máquinas burocráticas, não eleitas, que se começaram a impor aos próprios países e aos parlamentos eleitos. Ou seja, os eleitores deixaram, de facto, de elegerem aqueles que iriam fazer as leis pelas quais eles se iriam reger. O futuro do eleitor europeu ou americano passou a ser em parte decidido por inúmeras máquinas burocráticas não eleitas caso da ONU, por exemplo, directamente ou por interpostas agencias internacionais autónomas não eleitas sob a sua tutela, caso da OMS, FMI, UNESCO e por aí fora. Ou ainda o TPI. Mais grave, para os Estados membros, o caso da Comissão Europeia e a devastadora máquina burocrática sob a sua tutela. Mas mais e pior: o poder judicial, não eleito, começa, em muitos países, nomeadamente da Europa, a sobrepor-se aos poderes Legislativo e Executivo esses, sim, eleitos, um directamente, outro indirectamente. Em síntese: as eleições começam a ser uma fraude porque o cidadão eleitor vai eleger um Legislativo que tem um poder cada vez mais reduzido e restrito. Querem um exemplo decisivo? As últimas eleições presidenciais na Roménia anuladas porque o vencedor não agradou ao Tribunal Constitucional da Roménia e à Comissão de Bruxelas. Um país da UE à medida da pátria dos coronéis Alcazar e Tapioca, lembram-se deles?
Tudo isto se foi traduzindo na proletarização social, económica e política da classe média ocidental. Que reagiu. Primeiro na Argentina, logo depois na América, farta de ver o seu poder e o seu dinheiro a serem sugados, através dessas sucessivas máquinas burocráticas, para bolsos que se não vislumbram bem mas que, muito provavelmente, em breve ficaremos a conhecer.
A revolução conservadora, ou do senso comum de Milei, primeiro e de Trump e do seu grupo depois, é contra este estado de coisas que está a ser feita. E promete sair vitoriosa. A sê-lo, representa um regresso à véspera da revolução francesa e ao seu conceito do cidadão como súbdito impotente de um Estado omnipotente. Representará a devolução da liberdade e do produto do seu trabalho às pessoas. E o fim da casta global alimentada por todos e por cada um de nós. Em breve, muita coisa ficará clara. A bem oleada máquina do Executivo de Trump, e a DOGE de Musk, estão a tratar disso. O organograma de um mundo opaco vai vir à superfície. A bem da transparência, sem a qual não há democracia.