1. Trump disse que tinha um grande projeto para a Irlanda. Grande era, seguramente, mas desistiu por ter sido advertido que a Comissão Europeia demoraria cinco anos para o aprovar! Mesmo que demorasse só seis meses, seria muito. Este é apenas um entre milhares de exemplos, dos mais ambiciosos aos mais comuns. A União Europeia não funciona. E não aprendeu nada com o Brexit.
Mas o problema não se deve apenas à mediocridade sempre crescente dos líderes e ao ripanço e desperdício geral de dinheiro da coisa, mas à matriz dela. O modelo da União Europeia não funciona. Multiplicam-se as comissões, os conselhos, as instituições, as representações, os funcionários. Tudo opiparamente pago, que para isso os recursos não faltam e a distribuição por todos os membros mantém tudo no melhor dos mundos. Todos os países querem ser membros, mas nenhum quer delegar soberania, transportando para a gestão da União as misérias e a fauna dos seus próprios sistemas internos. E a corrupção, claro, diz-se que o ‘Parlamento Europeu e o Conselho da Europa se tornaram ninhos de corrupção política’.
Nós estamos piores do que sempre estivemos. Sem líderes, sem escola, sem um projeto de Governo nem capacidade para o desenhar e determinação e autoridade para o executar. Mas o problema é a Europa. Olhe-se para esta pobre Europa, ameaçada a Leste, incapaz de aproveitar a oportunidade que a China lhe oferece para se libertar da muleta americana, humilhada em África, marginalizada no Médio Oriente, drogada pelos ‘senhores de Bruxelas’, instalados na opulência e na vacuidade do discurso e da pose. Europa agora ameaçada por quem lhe vem pagando as faturas.
Imagina o leitor, por exemplo a quanto monta o salário de António Costa? Quase tanto como o do Presidente dos EUA (!). E o que é que ele fez e faz e fará para isso? Menos que zero, como fez sempre. Tirou agora da cartola um… retiro. Mas em retiro não é onde essa gente tem estado sempre? É caso para se dizer, como se dizia antigamente mas agora com mais razões, ‘Vão trabalhar malandros!’
2. Trump ainda não fez nada. Só falou. Mas pôs o mundo a mexer. E inquietou (inquietou mesmo?) os ‘senhores de Bruxelas’. E o gozo que isso lhe está a dar. Trump é um gozão. Assumamos que a ideia de transformar Gaza numa estância de férias é verdadeiramente divertida. (Claro que os Palestinianos serão em qualquer lugar os mesmos: pedintes, ociosos, sujos, incapazes de se desenvolver, carne para canhão de guerras santas. ‘Pode-se tirar o tigre da selva, mas não se pode tirar a selva do tigre’.
As motivações e o comportamento de Trump são os de um empresário, e têm de ser percebidas e previstas a essa luz, à luz do deve e do haver. Também ele vai perder com a guerra das tarifas? Depois se verá, não é esse o tempo em que se move. Tal como Putin, afinal. O que Trump quer agora é capitalizar, encaixar. O que ele tem estado a dizer é não estar disposto a continuar a pagar. Acho que tem esse direito. Eu faria o mesmo.
3. Pela parte que como europeu me toca espero que Trump deixe mesmo a Europa entregue ao seu destino. Talvez assim os Europeus acabem com os ‘senhores de Bruxelas’ e a sua espécie (gente que nada tem a ver com os pais fundadores da União nem com a sua configuração inicial) e se arranque para o rejuvenescimento de que os Europeus carecem, precisam e podem, e o mundo aguarda.
Quando Biden entrou em funções, a União Europeia estava prestes a assinar um acordo comercial com a China, que acabou por cair com a pressão desse novo Governo americano. Agora, com a guerra comercial promovida por Trump, será a Europa capaz de reabrir as negociações que não devia ter rompido?
O que acontecer à Europa e a nós não será culpa de Trump, mas culpa dos Europeus, nossa culpa.