O mundo está a mudar drasticamente, bem à nossa frente, caminhando para novas economias baseadas no conceito belicista. A subida ao poder da visão protecionista do outro lado do Atlântico obrigará a isso, levando a Europa a enfrentar desafios inesperados e a readaptar-se a uma nova realidade para a qual nunca se preparou. Apesar dos sinais aparentemente visíveis para os mais atentos, sobretudo para aqueles que percebiam ser impossível mudar características tão intrínsecas em determinados líderes mundiais, o discurso de guerra tomará conta das agendas nos próximos tempos.
Quando já se ouvem alguns tambores, o pior parceiro possível à tempestade perfeita ganha dimensões preocupantes, crescendo de um modo incontrolável sem que nenhuma instituição ou supervisão consiga demonstrar alguma eficácia. Também à frente de todos, assistimos ao fim da verificação de factos nas redes sociais com a maior impunidade e à possibilidade de uma disseminação livre de fake news ou a ainda maiores ingerências e condicionalismos em atos eleitorais pelo mundo fora, deturpando a essência da democracia.
Nem os pertinentes avisos saídos dos sobreviventes de Auschwitz, oitenta anos após a libertação desse campo de tortura, acompanhados desde então pelos maiores horrores possíveis, nos obrigam a refletir e a impor a desejada evolução, continuando a assistir-se à propagação do ódio como maior consequência da desinformação.
Daqui a pouco tempo, Portugal entrará nas campanhas eleitorais para as eleições autárquicas, o próximo desafio de escrutínio, e as nuvens cinzentas deste atual momento começam a ficar visíveis, como sucedeu recentemente em Cascais. Por recurso à utilização da inteligência artificial nas vozes colocadas num vídeo anónimo, espalharam-se mentiras e procurou difamar-se de uma forma cobarde o candidato mais bem posicionado para vencer esse sufrágio.
Mesmo reféns do social, não podemos tolerar a perversidade da Internet e da manipulação das redes sociais, com as ameaças daí decorrentes, permanecendo impávidos e serenos, sem abrir os olhos.
A liberdade de expressão não é liberdade de espalhar inverdades pelas redes sociais. Difundir embustes e crimes na internet só serve aos déspotas e a quem pretende destruir o pensamento livre e os alicerces democráticos. E, para além disso, os desenvolvimentos tecnológicos que criam ou agravam conflitos desta natureza não são um verdadeiro progresso, porque a verdadeira liberdade de expressão cessa quando se mente e se ofende terceiros.
Vivemos tempos da maior apreensão e insegurança nas nossas comunidades, abanadas por alguns com a intenção de as derrubar quando estas deveriam ser o maior porto de abrigo. É sob esta maldição que falhamos nas regras mais essenciais do ser humano, ao sabor de um pretenso livre-arbítrio. A parte que continuamos a não compreender é a extrema inevitabilidade de nos reumanizarmos e de sermos sérios.
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