O título desta crónica remonta a um artigo de Roger Scruton, em 2013, no The Times, e parece-me oportuno reutilizá-lo por dois motivos. Primeiro, porque se cumpriu meio século, na terça-feira, da chegada de Margaret Thatcher à liderança do Partido Conservador; segundo, porque há paralelismos evidentes entre os tories de 1975 e os de 2025.
Há 50 anos, a política britânica e internacional mudou. Os deputados conservadores elegeram a primeira líder de um dos principais partidos, deixando pelo caminho o ex-primeiro ministro Edward Heath, na primeira volta, e William Whitelaw, que viria a ser o seu vice-primeiro ministro, na segunda. A sua liderança marca um ponto de rutura no partido Conservador, que durante os três anteriores executivos se preocupou em agradar a tudo e todos. Foi até concebido, em 1962, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Económico, pela mão dos tories, com o objetivo de, segundo Scruton, «perpetuar a ilusão de que (…) havia um plano» e de que «gestores, políticos e dirigentes sindicais estavam todos no mesmo barco e a trabalhar para o bem comum». Ora, Thatcher vem para quebrar esta linha de líderes conservadores incapazes, escudados num aparelho que os livraria de qualquer responsabilização política. Ou assim acreditavam eles.
A dama de ferro, como ficou conhecida, apresentou um programa baseado na economia de mercado, na luta contra as associações sindicais e contra o comunismo, e numa máxima que parece escapar à compreensão da esquerda dita humanista até hoje, preocupada apenas com a igualdade e com a doutrina da justiça social: para se distribuir riqueza, é preciso criá-la primeiro. E assim conseguiu chegar ao número 10 de Downing Street, fazendo-se acompanhar de uma cópia do livro A Constituição da Liberdade de Friederich von Hayek, como conta o historiador Richard Cockett no seu livro Thinking the Unthinkable.
Dito isto, o partido Conservador parece estar a atravessar um processo semelhante na atualidade. Após 14 anos no poder, durante os quais o thatcherismo parece ter caído no esquecimento, o Labour chega à liderança do executivo com um resultado esmagador – a pior derrota de sempre dos conservadores – e obrigou o partido a uma dura autorreflexão. Com a demissão do então primeiro-ministro Rishi Sunak, foram convocadas eleições para a liderança dos tories e eis que Kemi Badenoch emerge como vencedora. Uma mulher intelectualmente diferente das antigas lideranças, alinhada com a visão de Thatcher e pronta para restabelecer o common sense sem se preocupar, tal como Thatcher, com a ira da esquerda e dos intelectuais de sofá. De origem nigeriana, torna-se na primeira líder negra de um grande partido, o que não a livra da crítica woke por não encaixar na sua ideia determinista do que deve pensar uma mulher como ela. Por outras palavras, Badenoch é vilipendiada por pessoas que militam pela criação de quotas de diversidade, equidade e inclusão, simplesmente porque é conservadora.
Estabelecidos os paralelismos, há que notar uma importante diferença entre 1975 e 2025. Thatcher conseguiu galvanizar o eleitorado contra um executivo trabalhista impopular, mas Badenoch trava uma batalha em duas frentes. Também é a líder da oposição contra o Governo impopular de Keir Starmer, mas o partido Reform, à sua direita e liderado por Nigel Farage, é uma pedra gigante no sapato dos tories e já aparece à sua frente nas sondagens. Posto isto, a liderança de Kemi Badenoch é refrescante e mostra que as ideias liberal-conservadoras estão vivas, mas há uma montanha bem maior para escalar do que aquela que Margaret Thatcher, a sua inspiração, escalou há 50 anos.
O significado de Thatcher
Margaret Thatcher chegou à liderança dos conservadores há 50 anos. Em 2025, Kemi Badenoch carrega a sua tocha