Pela arte da dança

Talvez nenhuma iniciativa ou academia tenha conseguido fazer tanto como o TikTok pela arte da dança nos últimos tempos.

Os avanços e os recuos da suspensão do TikTok nos EUA continuam a lançar o pânico entre as marcas e os utilizadores norte-americanos. Por cá, o mais semelhante que se pôde viver dessa experiência foi na altura dos apagões momentâneos das redes sociais – de repente, o WhatsApp, o Instagram e o Facebook deixaram de funcionar e os alarmes dispararam.

Já não é possível imaginar a vida sem a partilha imediata, e os últimos dias voltaram a provar isso. Enquanto a terra tremia, em simultâneo, os telemóveis vibravam. 

Ainda se ouviam as primeiras notícias, já as redes sociais estavam inundadas de vídeos do momento. 

As redes vieram conferir um novo significado à palavra partilha – porque hoje já se tornou improvável passar 24 horas sem partilhar alguma coisa com alguém; aliás, muitas vezes pode até não ser possível acompanhar todas as partilhas feitas, sendo a reação através de emojis o novo método (e o mais eficaz) para mitigar a incapacidade de resposta mais efusiva ao vídeo mais insólito da semana.

Como o tempo é escasso, rentabilizá-lo tornou-se precisamente o principal segredo do TikTok, com uma hora a significar o consumo de mais de 350 vídeos, aproximadamente. Multiplicando isto por quatro ou cinco horas – as evidências que mostram muitos tempos de ecrã no uso das respetivas aplicações – estamos a falar de um consumo de milhares de conteúdos digitais num único dia.

Não por acaso a palavra do ano de 2024 para a Oxford University Press foi “brain rot” – expressão utilizada para referir-se à podridão mental do consumo desenfreado e trivial nas redes sociais.

As regras face à utilização das redes e destas  plataformas de entretenimento continuam a levantar questões de toda a ordem – e a Austrália, recentemente, tomou uma decisão pioneira nesse sentido, impedindo a sua utilização a menores de 16 anos. E, por cá, são várias as escolas que tentam cada vez mais barrar a entrada dos smartphones  até determinada idade. 

As medidas e os debates devem deixar os miúdos  insatisfeitos, sobretudo se se pensar na quantidade  de conteúdo que pode ser produzido a cada intervalo de 15 minutos. 

Entre as principais tendências, destacam-se as coreografias que são capazes de aprender e reproduzir de forma quase instantânea. E se este universo pode parecer todo demasiado esquisito – ou até “podre” – é inegável admitir que talvez nenhuma iniciativa ou academia tenha conseguido fazer tanto por uma arte como a da dança.