Não sendo economista, falo na qualidade de comum cidadã que observa a realidade e a compara com a sua vida pessoal. Fazendo apenas contas de merceeiro, é fácil perceber porque é que estamos na situação em que estamos. É simples, veja o leitor se me consegue acompanhar.
Se não tiver filhos, não terei quem me ampare na velhice, nem que seja só para me fazerem uma visitinha ao domingo. Mas se tiver filhos para garantir a velhice, tenho um problema, é preciso sustentá-los e o ordenado não chega para pagar a creche, o supermercado e os estudos pela vida fora. Sendo assim, fico-me, com sacrifício, por um filho, no máximo dois. Aqui chegados, restam duas alternativas: ou os sacrifícios bastam para que a prole possa crescer, estudar e tirar um curso; ou o dinheiro não chega e os nossos filhos vão ter um horizonte de pobreza pela frente e também eles evitarão ter descendência.
Os sortudos, os que conseguem tirar o curso, olham para a frente e, vendo um país de velhos e pobres, percebem que aqui não há futuro para eles. As empresas são poucas, pequenas e sem capacidade de gerar riqueza, logo, de pagar ordenados condignos. A solução está lá fora, além-fronteiras, onde a riqueza gera mais riqueza e as empresas têm capacidade de se transformar sempre que as crises o exigirem. A decisão de abandonar o país, para estes, é óbvia.
Os menos afortunados, que se ficaram pelos estudos mínimos, arranjam um emprego que lhes garanta o mínimo de subsistência e vão levando a vida, sem esperar grandes desafios. Com sorte encontram uma casinha para partilhar com quem lá estiver a ocupar os outros quartos e vão-se adaptando a viver num país em que se sobrevive em vez de se viver. Nem tudo é mau, sempre temos a praia e o futebol.
Os restaurantes, os hotéis e as praias, lá vão mantendo o país com vida, mas para isso são precisas pessoas para trabalhar. E como as que cá temos são poucas, têm de vir mais pessoas, de países ainda mais pobres, que conseguem achar que a nossa pobreza não é assim tão severa.
Voltando ao meu caso pessoal. Se dos meus dois filhos, um conseguiu estudar e partiu para outras paragens e o outro não teve sucesso e ficou, sempre fico com companhia, mas é muito provável que continue a ter de partilhar as minhas escassas economias com o filho residente. Seremos os dois pobres, mas tentaremos ser felizes. O outro, o emigrante, talvez apareça cá para passar férias, mas, entretanto, descobriu que não muito longe daqui se pode viver muito melhor e, sobretudo, dar uma vida muito melhor aos filhos. Ou seja, do investimento feito, a riqueza foi-se embora e a pobreza ficou cá a pesar.
Perante tal cenário, ou percebo que tenho de mudar a minha forma de vida radicalmente, ou a viver da mesma maneira, na mesma empresa, com os mesmos desafios, só posso concluir que tenho o destino traçado. E o destino é negro.
Conclusão, adaptando ao país. Ou criamos condições para poder ter mais filhos, mudamos radicalmente o nosso modelo económico e arriscamos dar prioridade à criação de riqueza a sério, ou não escapamos ao destino de país decadente. Que me lembre, desde os anos 80 do século passado, que nada, nem ninguém arrisca nada de diferente em Portugal. Não é surpreendente que tenhamos chegado aqui.
Pergunto-me o que leva a maioria, dos agentes políticos, da esquerda à direita, a entreterem-se com discussões fúteis, ao mesmo tempo que o país se afunda sem soluções.