
Querida avó,
Escrevo-te esta carta no Dia dos Namorados.
Já todos sabem que não damos importância nenhuma a este dia! Não o celebramos, não saímos para jantar, não compramos coisas pirosas, que não servem para nada a não ser para atafulhar as casas.
No entanto, tudo isto não quer dizer que não celebro o Amor. Apenas não o faço no dia 14 de fevereiro.
Como será que as gerações mais novas vivem o namoro?
As minhas avós falavam muito dos namoros à janela, com saudade e alguma nostalgia. Diziam: «Antigamente é que era bom. Nos tempos idos, o namoro à janela era com muito respeitinho».
Podia haver muito mais “respeitinho”, mas o facto é que casavam muito mais mulheres grávidas do que atualmente.
O namoro era vivido de maneira diferente, cheio de rituais que, entretanto, se perderam. As raparigas tinham de ter o consentimento dos pais, que tinham tendência a controlar de perto esses namoros. Para sair à rua, tinham de levar os irmãos mais novos para as acompanhar. O tempo de namoro era maioritariamente passado à distância. Uns à janela; outros dentro de casa, mas em lados opostos da mesa e sempre acompanhados.
Os jovens namorados tinham dificuldade em conquistarem o amor e o interesse um do outro. Principalmente, tinham dificuldade em conhecerem-se. Muitas mulheres saiam da alçada dos pais para ficar sobre o domínio dos maridos.
Antigamente nem tudo era bom!
Como sabes, da minha janela vejo passar os aviões. Fico a imaginar quantos casais apaixonados viajam para celebrar o amor, no mesmo dia em que tantos outros o fazem.
Será que alguém ainda escreve cartas de amor?
Uma maneira romântica de expressar os sentimentos, que também caiu em desuso.
Por falar nisso, vou ouvir a canção “Cartas de Amor” do Tony de Matos:
«Cartas de amor/ Quem as não tem/ Cartas de amor/ Pedaços de dor/
Sentidas de alguém»…
Com muito Amor!
Bjs
Querido neto,
Aitor, Berenice, Caetano, Dorothea, Enol, Floriano, Garoe, Jyna, Konrad, Lawrence, Martinho, Nuria, Hermínia, Ivo, Olivier, Pauline, Rudiger, Salma, Timotheo, Vanda e Wolfgang… Não são nomes de casais apaixonados! Estes foram os nomes escolhidos pela Organização Meteorológica Mundial (com sede em Genebra), para as tempestades que iriam ocorrer em 2024/2025. Depois os institutos de Meteorologia de Portugal, Espanha e França escolhem aqueles que lhes parecem mais adequados para os seus países.
O país que emite o primeiro aviso da tempestade é que escolhe o nome (de acordo com os da lista, claro).
Coisa complicada. Não bastava uma tempestade cair-nos em cima – era preciso mobilizar uma data de gente para a batizar!
O amor também nem sempre é fácil. Aliás, muitas vezes é bastante complicado.
Da lista de 2024/2025, já podemos retirar a Hermínia e o Ivo, que já nos visitaram – mas preparem-se para o que ainda vai acontecer! Lembrem-se que ainda estamos no princípio de 2025.
Até ao fim do ano, muita água ainda vai cair…
Nas tempestades os chapéus de chuva não servem para nada, vão todos pelo ar, como o Mary Poppins, por isso vê se tens os impermeáveis à mão!
Quanto ao Dia de S. Valentim, como sabes, sempre embirrei com isto. Tendo nós um Santo António como o nosso, que necessidade havia de importarmos um santo estrangeiro?! Mas assim que chegava o dia 14 de fevereiro lá ia eu jantar fora com o meu marido (e fiz isso com os dois), jantar a preceito, num restaurante bonito, com direito a champanhe no fim e tudo. O que poucos sabiam era que não era isso que nós festejávamos: no dia 14 de fevereiro eu tinha sido operada de urgência a um cancro e tinha-me safado! De resto, eu continuo a festejar todos os anos esse dia e sempre pela mesma razão!
Bjs com amor.