O bobo da república

Depois, deixou-se passear com o seu convidado de mãos dadas, como se fossem dois namorados, gesto muito comum no Oriente, o qual representa respeito pela pessoa que temos ao nosso lado, mas anedótico junto da cultura europeia.

Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, ao receber em visita oficial o seu homólogo francês, deu mais um sinal de indecência e de falta de sentido de Estado, comportando-se não como o mais alto magistrado da Nação, conforme seria sua obrigação, mas sim como um verdadeiro bobo desta decrépita república, número a que, aliás, nos tem habituado nos últimos tempos.

Começou por coagir Macron a uma praxe indecorosa, obrigando-o a apanhar uma valente molha durante a prestação das honras militares que lhe eram devidas, sem que previamente fosse acautelada uma forma de evitar esse transtorno provocado por uma forte chuvada, fenómeno meteorológico que estava mais do que previsto.

Essa imprudência levou a que o presidente francês cumprisse parte significativa do programa do dia completamente encharcado, submetendo-se a uma disposição embaraçosa, perfeitamente desnecessária.

Depois, deixou-se passear com o seu convidado de mãos dadas, como se fossem dois namorados, gesto muito comum no Oriente, o qual representa respeito pela pessoa que temos ao nosso lado, mas anedótico junto da cultura europeia.

Resta saber se com esta atitude, e considerando a maciça imigração vinda da Ásia central a que estamos sujeitos, Marcelo queira ter dado um sinal de que temos de adoptar, também, os seus costumes, mesmo que estes não sejam do nosso agrado!

Já anteriormente Marcelo prendara o seu homólogo com frenéticos beijos, se bem que, neste caso concreto, poderemos dar algum desconto, conhecendo-se o hábito beijoqueiro que tanto caracteriza os franceses.

Mas o pior estava ainda para vir!

No decorrer do jantar de cerimónia, Marcelo entendeu por bem disparar diversas bojardas em direcção ao Chefe de um Estado nosso amigo e aliado, com o qual temos tido sempre excelentes relações diplomáticas e comerciais e em cujo solo residem centenas de milhares de portugueses que para aí emigraram.

Marcelo não é obrigado a simpatizar com Trump, mas tem o dever de o respeitar e de o tratar com a consideração devida a quem foi eleito democraticamente pelo seu povo.

Sim, podemos gostar ou não do novo presidente norte-americano, e ele, como bem sabemos, não se furta a nos oferecer a muitos de nós motivos para desconfiarmos da sua aptidão para o cargo que exerce, mas foi essa a escolha dos seus concidadãos e através de um voto que, desta vez, não deixou qualquer margem para dúvidas.

Marcelo tem a obrigação de saber que ao atacar o seu homólogo norte-americano, mesmo que, eventualmente, possa ter acerto nas críticas que enuncia, não está apenas a pôr em xeque o inquilino da Casa Branca, mas também o país que ele representa.

Acontece que o presidente português não tem competência constitucional em matéria de política externa, cabendo somente ao governo a definição dos parâmetros em que as relações de Portugal com os outros Estados soberanos deve ser exercida.

Marcelo já não é comentador, realidade a que parece estar completamente esquecido, pelo que as suas opiniões, quando relativas à nossa política externa, e sobretudo quando proferidas na presença de um outro presidente estrangeiro, não o vinculam apenas a ele, mas sim ao Estado português.

Portugal tem sido extremamente cuidadoso nas relações com os países com os quais tem afinidades, em especial com aqueles que acolhem um grande número dos nossos conterrâneos, e evitando sempre qualquer tomada de posição que possa vir a ser entendida como ingerência nas suas políticas internas, incluindo com os que têm sido referenciados como exemplos de despotismo e corrupção.

Marcelo, sobretudo neste seu segundo mandato, tem-se entretido a obsequiar os monárquicos, entre os quais eu me incluo, com mil e uma razões para se justificar a preferência por uma Chefia de Estado entregue a um monarca, ao invés da bandalheira em que se tem transformado a república que nos foi imposta nos inícios do século passado.

Mais do que nunca precisamos de um Rei e não de um bobo!