O populismo vai ganhando espaço na comunicação social, nas redes, no Parlamento. Ensina a História que, com raras exceções, como o peronismo, os movimentos populistas são como balões que se enchem rapidamente e se elevam, mas acabam por perder gás e despenhar-se. Incapazes de cumprir as suas promessas quando chegam ao poder, os populistas de direita e esquerda acabam removidos, a bem ou a mal, por quem neles acreditou.
Ainda assim, aqueles que não estão contaminados tudo devem fazer para impedir que o populismo chegue ao poder. Revel explicou que a democracia tende a ignorar, e até a negar, as ameaças à sua existência, porque odeia fazer o que é necessário para as contrariar. Só acorda quando esse perigo é letal e iminente; quando já tem pouco tempo para se salvar, ou o preço da sobrevivência já se tornou esmagador.
Os partidos tradicionais não entendem que o cidadão comum sabe pouco e interessa-se menos pela política e é, por norma, conservador e garantista. Não quer ver posto em risco o que tem, desejando apenas que seja melhorado. Claro que as suas liberdades individuais e as da tribo fazem parte das coisas que valoriza e quer guardar, mas enquanto luxos não essenciais. A segurança e o acesso à habitação, saúde e educação a preços baixos são instintivamente prioritários.
Ora, os populismos de direita e de esquerda começam por convencer o cidadão de que há ameaças que pesam sobre ele e os seus haveres, elaboram cenários de ansiedade e incerteza, cavalgam emoções através das perceções e transformam essas narrativas num sentimento coletivo. Para isso, recorrem a fake news que desvalorizam a realidade objetiva (e até estatística) quando esta não lhes é conveniente.
Com as novas ferramentas disponíveis, os populistas fazem-nos chegar propostas de execução rápida, óbvias e simples, ao contrário dos partidos tradicionais que insistem em medidas complexas, envoltas numa roupagem ininteligível. E, sempre que pretendem simplificar e acelerar o processo, os populistas propõem infindáveis audições parlamentares e introduzem a suspeita como entrave, para depois reclamarem junto da população que quem os governa é gente que promete e não cumpre.
Os populistas de esquerda e direita têm um vasto leque de aliados na penumbra, entrincheirados na opinião moralista publicada e na burocracia que, invocando a transparência e a legalidade, ajudam a construir um conjunto de alçapões. Obviamente que, se chegassem ao poder, esses escolhos seriam removidos no mesmo dia, porque os populistas têm uma visão utilitária do Estado de direito. Serve para lhes garantir direitos e impor obrigações a outrem, mas sentem-se livres de transgredir ou de defender a violação da lei, quando isso lhes convém. É o caso de Jean-Luc Mélenchon, que participa no processo legislativo e procura chegar ao poder por via constitucional, mas incentiva e apoia os atos violentos dos gilets jaunes e os ataques a polícias.
Combater o populismo exige que, mesmo com prejuízo do garantismo, se acelere o processo judicial; que se perceba, num preâmbulo claro e de poucas linhas, para que serve cada nova lei; que os partidos tradicionais, nas suas disputas, nunca confundam transparência e escrutínio com suspeita; que os políticos não deixem que sejam os jornalistas a definirem o seu tempo, ou a tentarem impor a sua agenda, e que no confronto com a permanente indignação dos moralistas tenham sangue frio para, sem medo ou exaltação demasiada, denunciarem os seus truques e ridicularizarem a sua verborreia. É isso que se exige e espera neste tempo de urgência.