O Ártico, antes considerado uma região inabitável e de interesse limitado, tem vindo a assumir um papel cada vez mais relevante na geopolítica mundial. O degelo progressivo, impulsionado pelas alterações climáticas, tem revelado novas oportunidades económicas e estratégicas, colocando os Estados Unidos e a Rússia numa disputa intensa pela influência na região. O Ártico é também rico em recursos naturais, incluindo vastas reservas de petróleo, gás natural e minerais preciosos. Estima-se que a região contenha cerca de 13% das reservas inexploradas de petróleo e 30% das reservas de gás natural do mundo. Este potencial torna-se particularmente atraente num contexto de crescente procura por energia e de esforços para diversificar as fontes de abastecimento.
No entanto, a Rússia, que possui a maior extensão de costa ártica, tem estado a investir significativamente na exploração dos seus recursos, promovendo a construção de infraestruturas e de uma frota de quebra-gelos para facilitar a navegação nas rotas polares. Por sua vez, os EUA, têm reforçado a sua presença na região, reconhecendo a importância estratégica do Ártico para a segurança energética global.
Também a crescente acessibilidade ao Ártico tem levado a uma intensificação da presença militar na região. Países como os Estados Unidos, a Rússia, o Canadá e a Noruega têm reforçado as suas reivindicações territoriais e capacidades de defesa. A Rota do Mar do Norte, que se torna navegável durante os meses de verão, representa uma alternativa estratégica às tradicionais rotas comerciais, encurtando significativamente as distâncias entre a Europa e a Ásia, através do Canal do Panamá ou de Suez. Este novo corredor tem potencial para reduzir significativamente os custos de transporte, tornando-se uma via crítica para o comércio internacional.
No campo militar, é particularmente a Rússia que tem vindo a reforçar a sua presença militar no Ártico, estabelecendo bases e modernizando infraestruturas militares. Em resposta, os EUA e a NATO têm intensificado as suas atividades na região, promovendo exercícios militares conjuntos e investindo em tecnologias para operar em condições árticas adversas.
Porém, apesar das oportunidades económicas e estratégicas, a exploração do Ártico levanta sérias preocupações ambientais. O degelo do “permafrost”, ou seja, do solo que passa todo o ano congelado e que cobre 25% da superfície terrestre do Hemisfério Norte (Rússia, Canadá e Alasca), pode libertar milhões de toneladas de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, para a atmosfera, agravando e acelerando o aquecimento global. Este fenómeno tem consequências graves, tais como o aumento do nível médio das águas do mar, alterações nos ecossistemas, impactos na biodiversidade e riscos para a saúde pública.
Neste contexto, a cooperação internacional tem sido crucial para mitigar os riscos ambientais e garantir que o desenvolvimento da região seja sustentável. O Conselho do Ártico, uma plataforma de cooperação entre os oito países da região (Canadá, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia, Suécia e EUA), tem desempenhado um papel vital na coordenação de políticas para o desenvolvimento económico e a proteção ambiental.
De facto, a importância do Ártico na atualidade é inegável, representando uma arena de crescente competição entre as principais potências mundiais, nomeadamente os EUA e a Rússia. A disputa pelo controlo dos recursos e das rotas comerciais está a moldar a geopolítica global, como se tem observado, exigindo um equilíbrio entre exploração económica e preservação ambiental para garantir um futuro sustentável para a região e para o planeta.
Seria bom que a humanidade estivesse atenta ao papel crucial que o Ártico representa na atualidade, tanto no contexto ambiental como económico e geopolítico. As decisões tomadas em relação a esta região terão repercussões globais, tornando essencial a adoção de políticas sustentáveis e a cooperação internacional para preservar este frágil ecossistema para as gerações futuras.
Docente da UP do Instituto Universitário Militar