Os lucros dos quatro maiores bancos – Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI e Santander Totta – a operarem no mercado nacional continuam a bater recordes. Só no ano passado, as instituições financeiras lucraram mais de 11,5 milhões dia por dia, totalizando um resultado conjunto de 4.219 milhões de euros.
Mais uma vez, o campeão dos lucros foi a Caixa Geral de Depósitos ao registar um resultado de 1.735 milhões de euros, os maiores de sempre e mais 34% face a 2023, o que irá permitir ao banco público entregar dividendos de 850 milhões de euros ao acionista único, o Estado.
A margem financeira caiu 3,2% para 2,78 mil milhões de euros, as comissões subiram quase 3% para 743,2 milhões, enquanto os custos de estrutura aumentaram 4,2% para 1,06 mil milhões de euros, apesar de os gastos com pessoal terem recuado quase 6% para 593 milhões de euros. O banco liderado por Paulo Macedo fechou o ano passado com Portugal 6.067 funcionários, menos 176 do que em 2023, mas manteve a rede inalterada com 512 postos de atendimento entre agências, espaços Caixa e gabinetes de empresas.
Quase mil milhões
O Santander Totta apresentou lucros consolidados de 990 milhões de euros em 2024, ainda assim, uma queda de 3,9% face a 2023, apesar do aumento de 10,7% nos resultados recorrentes. O CEO, Pedro Castro e Almeida, considerou que o banco «continua a crescer de uma forma sustentável» e que «foi um ano muito bom para o Santander em Portugal, diria que para o Santander [a nível] global».
A margem financeira – diferença entre os juros cobrados nos créditos e os juros pagos nos depósitos – manteve-se como a principal fonte de receitas do banco, crescendo 6,6% em termos homólogos.
Em 2024, as comissões líquidas baixaram 1,1%, para 452,2 milhões de euros, representando um «crescimento relativamente generalizado nas comissões relacionadas com a atividade de clientes, em especial as de crédito, de fundos de investimento e de seguros». Já os custos operacionais cresceram 1,6%, para 528,3 milhões de euros, tendo as despesas com pessoal subido 2,5%, para 291,6 milhões de euros.
O banco revelou ainda que já «foram efetuados mais de mil pedidos de crédito» ao abrigo da linha de garantia pública para ajudar os jovens no financiamento para a compra de casa, correspondendo a um volume de empréstimos de cerca de 200 milhões de euros.
Também o BCP apresentou um resultado líquido de 906,4 milhões de euros em 2024, um aumento de 5,9% face ao ano anterior. Só a atividade em Portugal representou 786,4 milhões de euros, correspondendo a um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior.
Em Portugal, a margem financeira do BCP totalizou-se nos 1.335,3 milhões de euros em 2024, situando-se 9% abaixo dos 1.466,6 milhões de euros apurados em 2023. «Este desempenho reflete acima de tudo o aumento dos custos de funding, parcialmente compensado pelo maior rendimento gerado tanto pela carteira de crédito a clientes, como pela carteira de títulos».
Na atividade em Portugal, as comissões líquidas totalizaram 588,3 milhões de euros no final de 2024, correspondendo a um crescimento de 5% face aos 560,3 milhões de euros apurados em 2023, enquanto os custos operacionais totalizaram 673,1 milhões de euros em 2024, situando-se 9,1% acima dos 616,7 milhões de euros apurados em 2023. Por seu lado, os custos com o pessoal totalizaram 722 milhões de euros, situando-se 14,3% acima dos 631,8 milhões de euros contabilizados no ano anterior. «Quer na atividade em Portugal quer na atividade internacional, os custos com o pessoal foram superiores face aos verificados no ano anterior», revelou a instituição financeira, que terminou o ano com 6.203 trabalhadores e com 398 balcões.
Melhor resultado de sempre
O BPI obteve um resultado líquido de 588 milhões de euros, em 2024, uma subida de 12% face aos 524 milhões registados no ano anterior. Só a atividade em Portugal contribuiu com 511 milhões. «Alcançámos neste exercício o melhor resultado de sempre. Captámos mais poupanças, com particular destaque para o investimento em fundos e seguros de capitalização, onde registámos um crescimento de 10% e concedemos mais crédito às famílias e às empresas», disse João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do banco.
Na atividade em Portugal, a margem financeira subiu 4% para 977 milhões de euros e as comissões (na cresceram 12% para 327 milhões de euros. A instituição financeira registou um crescimento homólogo de 3% no crédito e de 5% nos recursos de clientes. O produto bancário cresceu 12%, alcançando um valor de 1.337 milhões de euros.
De olho no novobanco
Para já, apenas os bancos espanhóis afastaram um possível cenário de compra do novobanco que, tal como o Nascer do SOL avançou, está avaliado na ordem dos cinco a seis mil milhões de euros. O BPI remeteu uma decisão para o acionista, no entanto, o CaixaBank tem vindo a afirmar que não tem em cima da mesa o crescimento internacional por via de aquisições e Portugal não escapa a esta realidade.
O mesmo argumento tem sido seguido pelo Santander Totta que, na apresentação de resultados, admitiu excluir o crescimento por aquisições em Portugal. «A estratégia em Portugal é clara, é de crescimento orgânico. Não está no nosso radar crescer por aquisições», disse Pedro C astro de Almeida, salientando que «há potencial no mercado português para continuar a crescer».
Posição diferente tem o BCP que tem sido apontado como um dos potenciais interessados na compra da instituição financeira liderada por Mark Bourke que, ainda esta semana, disse que a ida do novobanco para a bolsa, a confirmar-se, deixa o BCP entusiasmado e não tira qualquer valor ao banco que lidera. Ainda assim, Miguel Maya sobre o interesse do BCP quanto a esta possível aquisição voltou a repetir a ideia de que o objetivo «é crescimento orgânico», admitindo que é sua «obrigação analisar» quando uma operação vai ao mercado. «Não estamos em nenhuma corrida», salientou.
Também interessado está o banco público. Paulo Macedo disse ainda esta quinta-feira que a Caixa está «a analisar a hipótese» de fazer uma oferta de compra pelo novobanco, referindo que a CGD «tem, obviamente, uma ideia das condições [que a Caixa idealizaria] para que houvesse um interesse mais concreto». E teceu ainda críticas ao presidente do Santander Portugal, que se mostrou preocupado com a hipótese de a Caixa comprar o novobanco.
«Fico mais preocupado se a banca espanhola ficar com 45% do mercado», respondeu. E não hesita: «Interessam-nos operações que possam ter sinergias com a Caixa, que possam acrescentar valor, e que o total seja maior do que o somatório das partes».