Lá vêm os mascarados 

Claro que há quem ande mascarado o ano inteiro. Trump, por exemplo, anda para aí mascarado de presidente dos EUA quando toda a gente sabe que ele é apenas um palhaço, perigoso! Mas adiante…

Querida avó,

As crianças nascidas em 2025 fazem parte de uma nova geração, com o nome “Geração Beta”.

Os pais destas crianças “Geração Millennials” nasceram entre 1981 e 1996.  A “Geração X” compreende os nascidos entre 1965 e 1980, é o meu caso.

O que tem mudado nas tradições de Carnaval de geração para geração?

Conta-me lá como era “no teu tempo”! Aposto que era muito diferente do de agora!

Era uma animação? Certamente não havia tantas máscaras compradas como agora, e improvisavam com o que tinham, não? Eu lembro-me de vestir uns trapos velhos, pintar a cara com lápis coloridos (tudo improvisado pela minha mãe) e sair para rua onde brincava com os amigos. Numa infância onde existiam poucos carros e menos perigos das crianças brincarem na rua.

As máscaras de super-heróis começavam a aparecer. O clássico era os rapazes mascarados de piratas, cowboys ou policias, as meninas de princesas e espanholas.

Havia os tradicionais entrudos, que eram bonecos de palha que representavam os males do ano e depois queimavam-nos, tradições que ainda existem. E também se atirava farinha e água uns aos outros! Hoje já não vejo nada disso.

As saudades que tenho dos bailes de máscaras na Casa do Povo onde o povo juntava-se todo!

Vocês comiam o quê no Carnaval? Em algumas terras existe a tradição de comer filhoses, sonhos, malassadas… Tudo feito em casa, bem docinho. Na Horta, por exemplo, existe a traição de comer as Fofas do Faial.

 No fundo, as tradições do Carnaval podem mudar, mas a alegria e a vontade de festejar ficam sempre, em alguns. O que não é o nosso caso.

Não te esqueças que o avô Ruy de Carvalho completa 98 anos no próximo dia 1, faz parte da “Grande Geração”.

Agora até me deu fome, avó! Acho que devíamos fazer umas filhoses juntos. Assim mantém-se a tradição, vamos a isso?

Encontramo-nos no sábado, no encerramento da tua exposição no Centro Comercial da Portela.

Bjs

Querido neto,

Li recentemente num artigo que as crianças estão a “comer” os verbos, de forma a simplificar a linguagem. Entre outras coisas, preocupa-me como as novas gerações se irão exprimir, enfim!

Lá vem mais um Carnaval.

Claro que há quem ande mascarado o ano inteiro. Trump, por exemplo, anda para aí mascarado de presidente dos EUA quando toda a gente sabe que ele é apenas um palhaço, perigoso! Mas adiante…

Todos os que me conhecem sabem que eu detesto o Carnaval. Isto vem desde miúda.

Eu explico.

As tias que me criavam, que não tinham nada que fazer, passavam tardes inteiras no Museu de Arte Antiga a olharem – e a tentarem copiar num papel – os fatos de damas antigas que viam nos quadros em exposição.

Depois levavam os desenhos à modista donde gastavam, e ela tentava fazer um fato como aquele. A seguir alugavam uma cabeleira e enfiavam tudo aquilo em cima de mim.

Depois levavam-me ao Politeama – que era o único teatro que fazia espetáculos de Carnaval e organizava concursos de máscaras, com prémios importantes. Claro que – ao contrário dos outros miúdos que se divertiam à brava a atirar saquinhos uns aos outros – eu não me podia mexer, para estar perfeita na altura do desfile pelo palco.

E era sempre eu que ganhava.

E o que era o prémio? Uma frisa, durante um ano inteiro, para todos os espetáculos do teatro.

Se fosse hoje, chamaríamos a isso exploração do trabalho infantil – porque, evidentemente, dada a minha idade, eu não podia assistir a espetáculo nenhum. As minhas tias é que lucravam com tudo.

E isto prolongou-se até eu já ser crescidota…

Por acaso agora, que vivo perto de Torres Vedras, até nem desgosto do Carnaval e gosto muito de ver o desfile – porque são adultos, normalmente os homens mascarados de mulheres e vice-versa. É uma paródia.

E, como todos os meus amigos sabem – para a paródia estou sempre pronta!

Dá um grande beijo ao Ruy.

Divirtam-se.