As mulheres que mandam na economia

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As mulheres que mandam na economia

Christine Lagarde é o principal rosto para decidir a política económica europeia, sendo muitas vezes associada à decisão de subida ou não das taxas de juro. Kristalina Georgieva assume os comandos do Fundo Monetário Internacional com responsabilidade nas previsões do crescimento económico. Por cá, temos Nazaré da Costa Cabral que avalia de forma independente o cumprimento e a sustentabilidade da política orçamental portuguesa.

Os destinos económicos e financeiros têm ao leme várias mulheres. Um dos exemplos máximos é Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), que tem como objetivo máximo a manutenção da estabilidade de preços, procurando assegurar que a inflação permaneça baixa, estável e previsível, tendo como mandato manter uma taxa de inflação de 2% a médio prazo, daí a decisão de descida de taxas juros nos últimos anos.


Lagarde foi a primeira mulher a presidir ao Banco Central Europeu, mas já tinha sido a primeira pessoa do sexo feminino a ser ministra das Finanças em França. Em 2011, assumiu as rédeas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Defensora da igualdade de género, chegou mesmo a dizer que a dominância dos homens no setor financeiro tornou possível alguns colapsos como o do banco Lehman Brothers. Durante o mandato no FMI, a advogada de formação foi responsável por negociar o aporte financeiro para os países da zona do euro. O facto de não ter formação económica foi motivo de várias críticas, uma vez que é incomum que uma pessoa sem esta formação seja escolhida para liderar o FMI ou o BCE, mas a verdade é que permanece no cargo.


A carreira política de Lagarde – nascida em Paris em 1956 – só teve início em 2005. E, até chegar ao FMI em 2011, pilotou a economia francesa durante a crise financeira internacional de 2008 e a crise da Zona do Euro em 2010 e 2011, algo que lhe chegou a dar grande credibilidade. A nível pessoal, Christine foi casada duas vezes e tem dois filhos. Desde 2006, o seu companheiro é o empresário francês Xavier Giocanti.


Muito preocupada com a emancipação feminina, Lagarde ganhou várias distinções tendo sido escolhida como a segunda mulher mais poderosa do mundo pela revista norte-americana Forbes.


Outro exemplo internacional é Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional que assumiu este cargo em 2019, tornando-se a primeira mulher de um país emergente a liderar o FMI. Deixou então o cargo de diretora-executiva do Banco Mundial. Filha de um engenheiro civil, Kristalina Georgieva nasceu em Sófia, na Bulgária, e estudou, no seu país, política económica e sociologia no Instituto de Economia Karl Marx. Seguiu depois para a London School of Economics, no Reino Unido. Nunca esquecendo de onde veio, Georgieva não esconde o orgulho do percurso. “Os meus avós tiveram muito pouca educação. Os meus pais terminaram o ensino médio. Eu fui a primeira na minha grande família a ter um doutoramento. De uma vila na Bulgária a CEO do Banco Mundial. Isso que é possibilidade!”, chegou a dizer antes ainda de a sua vida passar pelo FMI. Fluente em búlgaro, inglês e russo, a diretora geral do FMI dá ainda uns toques no francês.


O sucesso não se fica por aqui: chegou a ser nomeada, em 2010, ‘Europeia do Ano’ e ‘Comissária do Ano’ pela European Voice, um reconhecimento pela sua liderança na resposta da União Europeia a crises humanitárias. Em outubro de 2020, recebeu o prémio Distinguished International Leadership Award do Atlantic Council em reconhecimento às contribuições excecionais e distintas durante a sua carreira no serviço público.


Com uma carreira mais política e menos económica surge Ursula von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia. É belga, formada em medicina e mãe de sete filhos. Poliglota e ainda pró-europeia, algo que deve muito ao pai, Ernst Albrecht, que entre 1976 e 1990 foi ministro-presidente da Baixa Saxónia e alto funcionário da Comunidade Económica Europeia. Além de tudo isto, Ursula Von der Leyen é a primeira mulher à frente da Comissão Europeia. Estudou economia em Londres e não gostou, tendo depois voltado os interesses para a medicina. Era aliada de Angela Merkel e esteve em três ministérios alemães: Família, Saúde e Defesa – cargo que também foi a primeira a chefiar -, tendo deixado este último para presidir à Comissão Europeia. Mas antes disso, morou (1992-1996) nos Estados Unidos numa altura em que o marido, Heiko von der Leyen, fazia parte do corpo docente da Universidade de Stanford. Após o regresso à Alemanha, foi membro do corpo docente no departamento de epidemiologia, medicina social e pesquisa de sistemas de saúde do MHH. Além disso, fez um mestrado em saúde pública. A sua escolha para os comandos da Comissão Europeia não foi consensual e a sua popularidade também não era elevada. Como mulher, prometeu uma Comissão paritária em género. Mas não só. Garantiu um sistema europeu de proteção contra o desemprego, um direito de asilo mais harmonioso e o reconhecimento do direito de iniciativa ao Parlamento para projetos legislativos.


Também na vertente mais política surge Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu. Apesar de ser já a terceira mulher à frente do Parlamento Europeu foi a mais nova de sempre a assumir o cargo.

Rostos nacionais Um dos rostos nacionais de destaque é Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho de Finanças Públicas. A disciplina financeira é um “espelho” da robustez económica e da estabilidade social de um país e permite aos governos terem “a margem necessária de concretização das políticas públicas para as quais foram mandatados pelos cidadãos”. Este é um dos lemas da presidente do Conselho das Finanças Públicas que tem como função ser ‘polícia’ do cumprimento das regras orçamentais em Portugal e da sustentabilidade das finanças públicas.


Nazaré da Costa Cabral concluiu em 1994 a licenciatura em Direito, terminou o mestrado em Ciências Jurídico-Comunitárias, na mesma instituição, onde também fez o doutoramento em Direito, na variante de Ciências Jurídico-Económicas, que terminou em 2007. Fez ainda a licenciatura em Economia, na Nova School of Business & Economics, que concluiu em 2015. Professora e autora de vários livros complementam o seu currículo.


Das muitas ‘achegas’ que deu ao país, chegou a dizer que Portugal devia preocupar-se com a “solidez e estabilidade salarial” e em “garantir que os trabalhadores possam contar com um salário”, vendo com maus olhos a “multiplicação de apoios sociais com caráter não contributivo”.


Noutro cargo mas não menos importante temos Sandra Maximiano, que em 2023 foi nomeada presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom). É economista e está empenhada na função que desempenha. Espera mais concorrência no mercado e já disse que vai lançar um estudo nacional para conhecer os preços das telecomunicações e espera os primeiros resultados já este ano.


Em janeiro deste ano, Sandra Maximiano assumiu ainda as suas funções como vice-presidente do Grupo Europeu de Reguladores Postais (ERGP).