Turismo do Algarve – de Salazar ao futuro previsível

A nova RTA tem modelo adequado ao Algarve fora do absurdo quadro legal vigente e nasce com a prioridade à qualificação do território.

Os 55 anos da Região de Turismo do Algarve permitem abordar o futuro previsível à luz do passado, tema que idade e experiência me fazem trazer à liça. Com receita das casas de ferias, Algarve é região turística mais importante do país e Albufeira segundo município, antes do Porto – orgulho neste trabalho de gerações.

  1. Posicionar destino Algarve na Costa Leste da América do Norte e gerar novo ciclo de crescimento
    Em abril de 1962 Salazar decide que despesas do aeroporto de Faro «serão feitas com dispensa no cumprimento de todas as formalidades legais, incluindo o visto do Tribunal de Contas». Salazar posiciona a Área Turística do Algarve na Bacia Turística Alargada do Mediterrâneo. E revela compromisso que gera iniciativas empresariais. Move-o imperiosa necessidade de divisas e o exemplo de Espanha, onde o turismo é já um sucesso.
    Aquisições recentes por investidores institucionais estrangeiros alteram o tecido empresarial e tornam possível programa profissional de branding e marketing & vendas na Costa Este dos EUA de adequada oferta regional. É o caso de golfe e residence, e visitas a Lisboa Sevilha, Granada e Córdova.
  2. Identificar e fomentar a cadeia de valor do modelo Cote d’Azur é crucial para a sustentabilidade do turismo do Algarve no futuro
    Entre 1963/65, o ministro da Obras Publicas (MOP) licencia empreendimentos que marcam o futuro do turismo do Algarve: Vale do Lobo, Praia Maria Luísa, Vilamoura, Vila Lara, Prainha, Salvor, Anglopor e Penina.
    Em Vale do Lobo e Penina é licenciada a venda de lotes de moradias para financiar o hotel e o golfe. Vilamoura acolhe turistas em hotelaria e residência secundária e residentes permanentes. É reconhecida a utilização de alojamentos pelo proprietário na época baixa e exploração turística na época alta. É apoiada a instalação de reformados estrangeiros em residência permanente.
    Esta visão do futuro é vítima de políticas publicas e lobi privados, que demonizam a ‘imobiliária’ até hoje com prejuízo da Região e do País.
    O modelo Cote d’Azur assenta na procura de investimento em casas de férias (151.269 em 2021) pela classe média. O modelo da hotelaria vendida a operadores de pacotes de férias e voos charter passa a ser dominante e protegido pela política e opinião publicas, erro crasso a corrigir.
  3. O ambientalismo radical de fachada científica é substituído pela sustentabilidade holística que compatibiliza ambiente, sociedade e economia.
    Em 1963, o Plano Regional do Algarve é pioneiro em compatibilizar ‘conservar e desenvolver’, antecipando o Design with Nature de Ian McHarg (1989) e a sustentabilidade que integra ambiente, sociedade e economia do Relatório Brundtland (1987).
    A partir dos anos 90 forma-se o ambientalismo radical de fachada científica com o ambiente a dominar tudo o resto e quase a excluir o desenvolvimento. É a derrota da visão culta, que urge recuperar.
  4. O futuro depende da qualificação do território ser a prioridade de nova RTA fora do obsoleto modelo atual
    Em 1969, a RTA nasce no MOP com o ‘plano de obras de infraestruturas urbanísticas e interesse turístico do Algarve’. Na Comissão Regional o MOP tem presença relevante, extinta com o 25 de abril.
    A nova RTA tem modelo adequado ao Algarve fora do absurdo quadro legal vigente e nasce com a prioridade à qualificação do território.

Analista Sénior de Turismo e Transporte Aéreo