A Europa pode perder o lugar à mesa dos Grandes

O Presidente foi eleito pelos americanos para defender os seus interesses e não pelos europeus para defender os seus próprios…

Os Estados não têm amigos eternos, tal como não têm inimigos perenes. Os Estados têm interesses permanentes. Disse-o Lord Palmerston, o estadista inglês do século XIX. Um tempo em que permaneciam vivas a experiência e sabedoria acumuladas ao longo de 26 séculos de civilização. Uma experiência e uma sabedoria que a ilusão do fim da História, e outras semelhantes, foram apagando. Esse tempo em que as nações europeias eram governadas por estadistas e não por pessoas simpáticas com uma mão cheia de nada e outra cheia de boas intenções ou seja, de nada também; e isto, na melhor das hipóteses porque, na pior, é melhor não falarmos.

Vem isto a propósito do choque provocado, nos países europeus e na tecno-burocracia vagamente política de Bruxelas, pela viragem histórica verificada na política norte-americana em relação à Europa, viragem essa determinada pela atual Administração Trump. Porque a Europa dita ocidental não era, afinal, uma amiga eterna, como a Federação russa não era, também, uma inimiga perene dos Estados Unidos. Os interesses permanentes da América, ou, pelo menos, a leitura que deles faz a atual Administração assim o determinaram. E o atual Presidente foi eleito pelos americanos para defender os seus interesses e não pelos europeus para defender os seus próprios. Podemos lamentá-lo, estamos no nosso direito, mas é mais sábio aceitá-lo e mais produtivo encolher os ombros e seguir em frente, principalmente, é fundamental interiorizá-lo e retomar a velha tradição, adequada à estrita realidade, de entender a política externa como a defesa dos interesses permanentes dos nossos Estados europeus. De cada um por si próprio, e, depois, dos interesses permanentes do continente europeu como um todo. Os governos não são ONG’s como o próprio nome destas o indica. Os governos não são, ou não devem ser, orientados por ideias mais ou menos generosas e altruístas, mas pelo bem estar e pela perenidade dos povos que a cada momento se encontram a seu cargo. A política externa é o reino do que é, e não o reino do que deve ser. Orientada por juízos de realidade e não por juízos de valor, por mais luminosos que estes possam parecer.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores deputados

Vemos, no Chega, com séria preocupação que os governos de Portugal, os governos dos demais países europeus e a burocracia de Bruxelas se encontram profundamente desorientados e perdidos sem encontrar um lugar lúcida e claramente pensado e determinado, no novíssimo panorama definido pelos atuais eixos geopolítico, geoestratégico e geoeconómico que definem e estruturam o novo mundo. Provam-no, a título de exemplo, as movimentações erráticas e os discursos contraditórios dos líderes políticos europeus. Principalmente provam-no a permanente agitação do Sr. Macron, destinada a mascarar, com a procura do protagonismo na política externa, o seu clamoroso desastre na política interna.

Finalmente: incapaz de encontrar o seu lugar no mundo e um caminho seguro dentro dele, a Europa e os países europeus correm o risco de perder, definitivamente, o seu lugar à mesa dos Grandes. É conhecida a sentença de que ‘quem não tem lugar reservado à mesa dos grandes, faz parte do menu’. A Europa, por este caminho, após 26 séculos à cabeceira da mesa, seguramente que irá encontrar outro lugar de honra só que, desta vez, no menu.