Duzentos e cinquenta…

Quatro noites, do Dr. Luís Montenegro para dormir no hotel, daria para pagar o meu ordenado, incluindo as Finanças e a Segurança Social…

Do título desta crónica falta a última palavra: euros! Fi-lo de propósito, porque, depois de pensar nos números, tenho de fazer uma pausa para converter em valores: duzentos e cinquenta euros!

Quando estava no seminário, havia um colega que contava uma anedota que ilustra bem os belos tempos que estamos a passar com a política portuguesa. Vou aqui descrever essa mesma anedota: um homem chegou a uma padaria e disse: ‘Queria noventa e nove carcaças’. O padeiro achou estranho e perguntou: ‘Noventa e nove? Então, porque é que não leva cem?’. Ao que o homem lhe respondeu: ‘Eh que exagero! Para que tanto pão!’.

Quando ouvi a resposta, sobre a estadia num hotel, do nosso então primeiro-ministro, Dr. Luis Montenegro, lembrei-me desta história. 

Vale a pena relembrar. A jornalista, afoita que é, perguntou ao então primeiro-ministro: ‘O senhor paga trezentos euros por noite no hotel?’. Como uma criança que foi apanhada pela mãe a meter a mão no chocolate, o Dr. Luís Montenegro responde: ‘Não! São apenas duzentos e cinquenta!’. Na realidade apeteceu-me dizer: ‘Eh que exagero… para quê tanto dinheiro… são só duzentos e cinquenta euros’.

É verdade! O mesmo acrescentou que eram pagos por si mesmo. O dinheiro não veio do bolso dos contribuintes, mas do seu próprio bolso. Temos um primeiro-ministro que ganha uns cinco mil euros e paga por noite uns duzentos e cinquenta euros. O mesmo é dizer: paga por mês sete mil e quinhentos euros. 

Eu tenho um problema… ou melhor, vendo bem, tenho muitos problemas… um deles é que sou muito limitado a fazer contas e por isso tenho de fazer conversões… Como já estou com quase cinquenta anos, ainda sou daqueles que pensa em euros e tem de converter em escudos ou, como se dizia no nosso tempo, em contos: cinquenta euros são dez contos….

Então comecei a converter as noites do Senhor primeiro-ministro em valores que eu possa considerar normais para aqueles que pagam os seus impostos para sustentar estas estruturas do Estado Português. 

Quatro noites, do Dr. Luís Montenegro para dormir no hotel, daria para pagar o meu ordenado, incluindo as Finanças e a Segurança Social. Duas noites bem dormidas do primeiro-ministro nesse tal hotel, daria para pagar a reforma da minha mãe. Uma noite mesmo que mal dormida do Dr. Montenegro daria para pagar a reforma de muitas das minhas paroquianas e paroquianos.

É verdade, ou parece ser verdade, que o dinheiro é do Dr. Montenegro e cada um faz com o seu dinheiro o que achar melhor… é um princípio básico que deve continuar a existir depois que terminou a inquisição… 

É, no entanto, também verdade, que, se o dinheiro é do Dr. Montenegro, o primeiro-ministro é nosso. O Dr. Luís Montenegro é primeiro-ministro de Portugal e nós merecemos que os nossos representantes nos representem… 

Ora, para que alguém nos represente, é necessário que experimente um pouco de nós que trabalhamos um ano inteiro para ganhar pouco mais do que os sete mil e quinhentos euros que ele gastou nas noites do paraíso. 

Quem tiver paciência, poderá ir, no YouTube, às escutas telefónicas do Eng. José Sócrates e ouvir a voz mesma do seu filho: ‘Pai… quando é que a casa de Paris está pronta… estou farto de viver num hotel!’. 

E assim vai a política… que procura em cada dia representar aqueles que os alimentam!