Só seremos uma sociedade evoluída quando conseguirmos proteger todos do mais horrível crime que existe, aquele que é cometido em casa, que persegue para o trabalho e que mata sem travões no meio da rua.
No lançamento da terceira petição com o meu grupo ‘Por um país mais justo’, consegui constatar histórias e pedidos de ajuda ainda mais horríveis do que os que já conhecia. Mulheres sufocadas dentro de casas-abrigo após os seus agressores lhes escreverem a avisar que as suas facas desta vez não ficarão apenas encostadas ao pescoço delas e das suas filhas.
Autênticas ‘violações’, cometidas no bendito casamento e em lares portugueses onde as relações sexuais são forçadas com base na violência extrema do fazer apagar a identidade da outra pessoa, cortando-lhes membros, rapando-lhes a cabeça e sobrancelhas.
Ameaças de morte feitas sob a utilização dos filhos, pois através deles ‘saberão sempre onde elas andam’. E funerais prontos, sem dinheiro para os realizar, nem para a mãe, nem para a filha, onde são necessários ‘crowfundings ou angariações de fundos’ para que se possa arrumar também a desgraça financeira causada por dois homicídios em contexto de violência doméstica.
Se tudo isto não bastasse, diariamente são me pedidos advogados para dúvidas, ajudas financeiras, casas e muito apoio psicológico. Recebo uma média de cinco pedidos de ajuda por dia. Sejam eles na forma material, de desabafo ou monetária de mulheres ainda em reconstrução devido a casos extremamente graves provocados pelo flagelo da violência doméstica.
Precisamos de entrar sem manobras e fazer ver aprovadas as nossas propostas. São duas as alterações legislativas para autonomizar o crime de feminicídio, exatamente o crime de ódio de homens contra mulheres, e a violência doméstica ser punível com penas mais gravosas de modo a que o agressor não possa beneficiar da eterna pena suspensa.
Por fim, ainda no domínio da violência doméstica, importa consagrar expressamente a regra do concurso de crimes sempre que a agressão ocorra perante os filhos da vítima direta. Também cada um deles é então uma vítima autónoma de violência doméstica, que também compreende maus-tratos psíquicos, como é, por exemplo, uma brutal agressão da mãe da criança para a própria criança.
Já vamos tarde. No entanto, mais vale tarde do que nunca!
Ativista