O clima político romeno está tenso desde novembro, quando o Tribunal Constitucional decidiu anular as eleições das quais Calin Georgescu emergiu como vencedor. As novas eleições estão marcadas para maio, e Georgescu parecia bem lançado para uma nova vitória, mas foi impedido de concorrer.
Várias manifestações irromperam em Bucareste e a indignação era palpável, incluindo a que chegou de Washington, com a nova administração americana liderada por Donald Trump a criticar fortemente as decisões das altas instâncias romenas.
Com o ex-diplomata e professor, acusado de ter inclinações pro-Moscovo e anti-NATO, algo que o especialista Riccardo Marchi rebateu na última edição do Nascer do SOL, fora da corrida, a direita romena foi obrigada a apressar-se na escolha de um novo candidato.
Plataforma conjunta
Como forma de ampliar a sua rede de apoio, o AUR (Alliance for Uniting Romanians) e o POT (Young People Party) decidiram apresentar dois candidatos, sob a condição de, na eventualidade de ambas as candidaturas serem aprovadas, um dos dois abandonaria a corrida para o apoio ser concentrado em apenas uma figura, não correndo o evidente risco de dispersão de votos.
Chegados a este ponto, o candidato que representará esta fação do eleitorado romeno será o líder do AUR, George Simion, de 38 anos, após a desistência da aliada Anamaria Gavrila, do POT. Gavrila disse que decidiram «apoiar aquele que tem mais hipóteses». «Temos de ir para além dos partidos», continuou, numa declaração em que se faz acompanhar de Simion, publicada nas redes sociais, «como disse Georgescu, temos de apoiar este movimento, dando-lhe todas as hipóteses».
Simion agradeceu a atitude de Gavrila numa publicação na sua conta oficial da rede social X: «Hoje, mais que nunca, a Roménia precisa da unidade das suas forças nacionais. Agradeço à minha colega, Anamaria Gavrila, por ter percebido a importância deste momento histórico e por estarmos juntos nesta enorme luta pela democracia e pela liberdade, pelo futuro!».
«Nós prevaleceremos!», concluiu o líder do AUR, que já se tinha dirigido aos seus seguidores quando a sua candidatura foi aprovada: «É 100% seguro. Estarei nas urnas nas eleições presidenciais de 4 de maio. Vamos ganhar e vamos restaurar a democracia não só na Roménia, mas em toda a Europa. Chegou a hora dos patriotas!».
Vitória provável na primeira volta
É de recordar que Simion concorreu nas presidenciais de novembro, tendo ficado pelo quarto lugar com 14% dos votos. Mas, caso consiga conquistar os votos de Georgescu, que obteve 22,94%, deverá estar garantido na segunda volta do dia 18 de maio. Segundo as sondagens do AtlasIntel, realizada ainda antes de se saber quem seria o candidato oficial da frente soberanista, é precisamente isso que deverá acontecer.
O estudo mostra que o candidato da AUR conseguirá em volta dos 30,4% dos votos, o suficiente para vencer a primeira volta. É também provável que beneficie de toda a polémica e de todas as acusações que têm sido dirigidas ao Tribunal Constitucional e ao órgão responsável pelo controlo eleitoral, mas, segundo as previsões, a vitória na segunda volta não está garantida, já que os possíveis oponentes – Crin Antonescu, líder da coligação pro-União Europeia e Nicusor Dan, Presidente independente da Câmara de Bucareste – deverão reunir um apoio mais amplo.
Pronta para rumar a outros países do leste da Europa?
Simion tem recolhido apoio a nível internacional, principalmente da parte dos partidos europeus pertencentes à mesma família política – o ECR, família conservadora da qual Simion é vice-presidente desde janeiro -, e demonstra o ímpeto do movimento nacionalista. Esta vaga soberanista é apoiada, evidentemente, pela Casa Branca, que já mostrou, mais que uma vez, o seu desagrado quando ao rumo que a União Europeia tem estado a seguir, sendo o exemplo máximo desse criticismo o discurso de J. D. Vance em Munique no mês passado.
Assim, a Roménia poderá estar prestes a dar um passo parecido ao que foi dado por outros países da Europa de Leste, nomeadamente a Hungria e a Eslováquia, ambos críticos acérrimos de Bruxelas, mas, e como foi dito anteriormente, a vitória está longe de estar garantida.
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