Caudilho com pés de barro

Sánchez, com o seu Governo Frankenstein instável e com semelhanças a Franco, é um caudilho com pés de barro

Com os acontecimentos que hoje pautam a conjuntura internacional – das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente à administração Trump –, é fácil ficar sobrecarregado com o ritmo alucinante a que as coisas têm acontecido, deixando pouco espaço para prestar atenção a outras coisas que, mesmo que menos prementes, não deixam de ser importantes. E o que tem acontecido em Espanha é um dos casos mais flagrantes. O Governo ‘Frankenstein’ – uma geringonça à espanhola – liderado pelo socialista Pedro Sánchez, tem provado ser nocivo para os espanhóis. Não consegue aprovar orçamentos e é sustentado por uma maioria contranatura nas Cortes Gerais, tendo sido criada uma dependência de partidos independentistas catalães e bascos, minando a coesão espanhola e a própria constituição aprovada por referendo em 1978 – um marco fundamental no processo de transição do regime totalitário franquista.  

As sucessivas tentativas de controlar a imprensa, principalmente o El País, o maior jornal espanhol, são também uma das características deste governo dito progressista. Mas durante esta semana chegaram-nos boas notícias da redação madrilenha: Joseph Oughourlian é o novo presidente do diário e começou com um editorial arrasador. Com o título, traduzido do espanhol, O meu compromisso com o EL PAÍS: liberdade editorial e independência, o texto compara Sánchez a Franco: «Seria inaceitável que, no momento em que recordamos a morte do ditador Francisco Franco, há 50 anos, alguém se sentisse tentado a tentar apoderar-se de um órgão de comunicação social independente a partir do governo, quer diretamente, quer utilizando uma empresa pública como instrumento». 

É muitas vezes atribuída a Pedro Sánchez uma extraordinária habilidade política, como se fosse um discípulo da doutrina maquiavélica. Ora, se Sánchez se aproxima dos ensinamentos de Maquiavel no que diz respeito ao cinismo e à incessante busca – e retenção – de poder, o líder socialista saltou algumas partes importantes da obra do grande pensador florentino. «O primeiro método para aferir a inteligência de um governante é olhar para os homens que o rodeiam», dizia. Olhando para o entorno do Presidente do Governo, não é difícil ser reticente quanto à sua qualidade. Dos fiéis escudeiros como María Jesús Montero ou Yolanda Díaz, à família chegada – veja-se os casos da sua esposa e do seu irmão – passando por José Luis Ábalos e Koldo Garcia, se há coisa que Sánchez não está é bem rodeado. Outra das passagens importantes do filósofo do século XVI diz o seguinte: «Se um príncipe mantiver o seu Estado através de exércitos mercenários, nunca será estável nem seguro». Bem, parece-me que a estratégia de Sánchez em manter o poder através de partidos que representam uma franja independentista desrespeita esta máxima. 

A dependência destes grupos fica evidente nas incoerências do discurso de Pedro Sánchez, que diz ter um Governo de combate à extrema-direita apoiando-se em partidos de extrema-direita; acusa os partidos à direita de xenofobia quando requerem um controlo mais apertado no que diz respeito à imigração, mas, se Carles Puigdemont – foragido da Justiça espanhola e líder do Junts – exige o controlo da imigração na Catalunha, Sánchez cede. E estes são apenas dois exemplos da fragilidade do socialista, que governa Espanha num contexto tão complexo como o atual. 

Por tudo isto, as semelhanças com Franco já descritas, juntamente com a instabilidade do seu executivo, fazem de Pedro Sánchez um caudilho, mas com pés de barro.