Nasceu em Paris, mas morreu junto ao mar como o último viking, em Saint-Malo. Foi desde cedo apaixonado pelas letras e pela escrita, tendo fundado uma revista regionalista pouco depois de se formar. Cumprido o serviço militar como pára-quedista, foi mobilizado para a Argélia, onde combateu e foi condecorado, experiência que inspiraria uma das suas obras mais conhecidas, Comandos de Caça. Colaborou em variadíssimas revistas e escreveu mais de uma centena de livros. O leque de temas abrangidos foi vasto, da Normandia ao paganismo, da História à política, dos romances ao mar e aos marinheiros. Foi também crítico literário e as suas biografias de autores foram publicadas em vários volumes. Defensor da Europa das Pátrias Carnais, esteve na fundação de um movimento regionalista normando e participou na criação do GRECE e da chamada Nova Direita, de Alain de Benoist. Tornou-se uma referência para o Movimento Normando, para a associação Terre et Peuple, de Pierre Vial, e, para preservar e defender a sua obra, foi fundada a Associação dos Amigos de Jean Mabire.
O meu primeiro contacto com a sua obra foi na adolescência, quando o fascínio pela Segunda Guerra Mundial me levou às colecções de História militar publicadas em Portugal pela Ulisseia. Em livros como Os Panzers da Guarda Negra, As Waffen SS, publicado sob o pseudónimo Henri Landemer, ou Os Samurais, escrito em co-autoria com Yves Bréhéret, mas principalmente o seu Comandos de Caça, fiquei maravilhado e absorvido com o estilo com que abordou o difícil tema da guerra. Foi igualmente o tempo do meu primeiro contacto com a obra de Saint-Loup, de seu verdadeiro nome Marc Augier, de quem Mabire foi o herdeiro directo na defesa da Europa das Pátrias Carnais. Ambos seriam referências que jamais esqueceria e pensadores que me acompanhariam na formação e consolidação dos meus ideais.
As pátrias carnais, a história, a cultura, o paganismo, a defesa da identidade, a terra e o povo, entre tantos outros; estava cimentada uma ligação eterna com este bardo normando. E a Europa, sempre o sonho da Europa –unia-nos um destino comum!
Passados anos, em que fui lendo mais obras suas, conhecendo melhor o seu percurso e vendo como havia tocado tantos outros europeus como eu, fiz uma viagem onde ele esteve constantemente no meu pensamento. Percorri de lés a lés a Normandia, a sua amada pátria carnal. Da obra de engenharia moderna em Le Havre ao ancestral e mágico Mont Saint-Michel, passando por Honfleur, de onde partiram os navegadores transatlânticos, e pelas praias do desembarque que marcou o início do fim da guerra fratricida europeia, vi, observei e apreciei a terra e o povo pelos quais Jean Mabire tanto lutou para perpetuar, enquanto reconheci e me identifiquei como mais um membro da nossa grande família europeia.
Guiavam-me os livros – sempre os livros! –, mas também a experiência vivida e Mabire era, nessa síntese, um exemplo. As leituras, como a escrita, reflectem a vida. Nunca a substituem. Essa foi a lição que cedo aprendi e segui até hoje.
Numa longa e cativante entrevista com Laurent Schang, em que reflecte sobre a figura do aventureiro, Mabire alertou: «o romance de aventura não é mais que substituição. O leitor vive o que não é, revive mesmo o que não viveu. Fenómeno ao qual a televisão dá uma dimensão fascinante e onírica. “Fazemos” a guerra ou o amor por procuração em frente ao pequeno ecrã. Triunfo da ilusão absoluta.»
Mas será que nestes tempos dominados pela imagem a aventura está condenada a ser uma memória do passado? Mabire recusava tal fatalismo e, na mesma entrevista, respondeu lapidarmente: «Não, a aventura não é o passado. Acredite, viveremos ainda mais perigosamente no século XXI.»