Autoeuropa: Trabalhadores da Vanpro no novo fornecedor de assentos

Grupo alemão escolheu outro fornecedor de assentos para o novo modelo elétrico. Uma decisão que pôs em causa 475 postos de trabalho, mas há quem possa mudar de empresa sem perder direito à indemnização.

Há trabalhadores da Vanpro, fornecedora de assentos de automóvel para a Autoeuropa há mais de 30 anos, que poderão passar para a Brose Sitech empresa que irá desenvolver os assentos do novo modelo que irá ser produzido na fábrica de Palmela. O Nascer do SOL já tinha avançado que o fim do contrato por parte da Volkswagen (VW) na Alemanha com a Vanpro iria pôr em causa 475 postos de trabalho.

Ao nosso jornal, Daniel Bernardino, da comissão de trabalhadores do Parque Industrial, diz que esta foi a solução encontrada, após várias reuniões, referindo que «foi possível alcançar um entendimento de forma a garantir que os trabalhadores da Vanpro, após terminarem o vinculo com a empresa tenham uma perspetiva de emprego». Não quis, no entanto, adiantar quantos trabalhadores poderão ser ‘salvos’, para não criar falsas expectativas. «Sabemos que o número de trabalhadores que a Brose Sitech irá empregar será inferior ao número de trabalhadores atualmente na Vanpro, mas queríamos que fosse dada prioridade em termos de recrutamento».

Ainda assim, admite que a ideia é ter reuniões com outras empresas do Parque Industrial com o objetivo de fazer um acordo semelhante ou «encontrar outras soluções de emprego, não só para os trabalhadores da Vanpro como para todos os trabalhadores que ficarem sem vínculo laboral em todo o Parque Industrial».

Mas esta mudança para a Brose Sitech exige o cumprimento de condições: «Os trabalhadores selecionados no processo de recrutamento da Brose Sitech não perdem o direito à indemnização desde que cumpram o calendário previsto de redução de trabalhadores da Vanpro, entrando de imediato na Brose Sitech, após o término do contrato com a Vanpro». Por outro lado, «os trabalhadores terão um contrato promessa por parte da Brose Sitech antes da sua saída da Vanpro e após a seleção da Brose Sitech e aceitação por parte do trabalhador», apurou o nosso jornal.

Já em relação à possibilidade de a Autoeuropa poder vir a receber estes trabalhadores, Daniel Bernardino afirma que é um tema que está a ser equacionado, mas admite que exige cuidados redobrados. «Neste momento, há trabalhadores da Autoeuropa que estão na perspetiva de passarem para o quadro da empresa e não podemos dizer que não podem permanecer na fábrica de Palmela para entrarem trabalhadores da Vanpro. Isso seria complicado do ponto de vista social», salienta.

Aposta no novo modelo

Tal como o nosso jornal já avançou, a Autoeuropa perdeu o modelo T-Roc elétrico para a fábrica de Wolfsburgo, na Alemanha, mas ganhou o novo modelo ID.Every1. Ao que o Nascer do SOL apurou, para muitos é visto como o novo ‘Carocha’, em termos de impacto na marca já que tem todo o potencial para ser icónico e fundamental para a marca e cuja produção estava a ser disputada pela República Checa e Eslováquia. Fonte ligada ao processo lembra que as fábricas estão sempre em competição e ganha a que for mais capaz, a mais competitiva para produzir o novo modelo. «Os carros não são atribuídos por decreto, ao contrário do que muitos pensam e como a fábrica da Autoeuropa produz o o T-Roc pensavam que também iria fazer o elétrico. Só que as coisas não funcionam assim, o carro que vai para a Autoeuropa esteve em concurso com várias fábricas e foi uma competição dura», salienta.

Fonte ligada ao processo admite ainda que se trata de carro essencial para a marca e para a fábrica de Palmela é um modelo que vai democratizar o acesso à mobilidade elétrica urbana, uma vez que é pequeno e apresenta «uma autonomia simpática para o círculo urbano de 250 a 300 quilómetros, daí ser importante para a marca e para o grupo». E explica que não é por Portugal produzir o T-Roc a combustão que teria de produzir o modelo elétrico. «São plataformas e investimentos completamente diferentes. Fazer um carro elétrico não tem nada a ver com um carro a combustão nem com um híbrido. Seria necessário fazer à mesma um investimento avultado, apesar da fábrica de Palmela produzir o T-Roc», salienta.

O presidente do Banco Português de Fomento já veio referir que se tratou de um trabalho intenso que irá permitir a Portugal «ganhar um investimento de 1.500 milhões de euros. Vamos ganhar com isso a manutenção dos 4.500 postos de trabalho e a ampliação até mais 1.000. Vamos ganhar com isso a sobrevivência daquilo que para mim é um enorme benchmark com mais de 40 anos de sucesso em Portugal, que é a Autoeuropa», disse em entrevista ao Jornal de Negócios.

Recorde-se que a Autoeuropa tem, atualmente, um volume de negócios de cerca de 3,8 mil milhões de euros e 4.842 colaboradores. Produziu 236.100 unidades no ano passado, ou seja, cerca de 4% das exportações nacionais e representou 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023.