Tribunal prevê julgamento sobre ineligibidade de Le Pen “no verão de 2026”

União Nacional anunciou a convocação de uma manifestação para o próximo domingo, em Paris

O Tribunal de 2.ª Instância de Paris anunciou esta terça-feira que foram apresentados “três recursos” da condenação que tornou inelegível a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen. A sua análise “deverá permitir uma decisão no verão de 2026”

Se tal prazo for cumprido, isso significa que uma segunda decisão neste caso de desvio de fundos europeus pela dirigente política para pagar a funcionários do seu partido será proferida vários meses antes das eleições presidenciais em França, agendadas para 2027.

Numa entrevista concedida na segunda-feira à noite à TF1, Marine Le Pen condenou o que classificou como “uma decisão política” e “práticas reservadas aos regimes autoritários”.

A dirigente do União Nacional apelou para que “a justiça se apresse” a reanalisar a sua condenação a cinco anos de inelegibilidade, com efeito imediato, e quatro anos de prisão (dois dos quais de pena efetiva atenuados para uso de pulseira) por desvio de fundos públicos.

As sondagens atribuem a Le Pen a posição dianteira na primeira volta das eleições presidenciais de 2027.

O Tribunal Penal de Paris decidiu, na segunda-feira, que foi efetivamente posto em prática um “sistema” entre 2004 e 2016 para fazer “poupanças” no partido de extrema-direita Frente Nacional (que se tornou União Nacional em 2018), utilizando o dinheiro do Parlamento Europeu para pagar aos assistentes dos deputados que na prática trabalhavam para o partido.

Mais 23 pessoas foram condenadas, juntamente com o partido, neste caso.

Em conferência de imprensa, Marine Le Pen acusou esta terça-feira o sistema judicial francês de “lançar uma bomba nuclear” com a sua decisão que a impede de se candidatar nos próximos cinco anos a cargos públicos sujeitos a sufrágio universal.

“Não vamos deixar que isso aconteça, vamos defender o povo francês, que tem o direito de votar em quem quiser, e defender o país, que está a ser desrespeitado”, declarou, sublinhando que Le Pen sublinhou que “utilizará todos os meios ao seu alcance para que os franceses possam votar livremente nos seus futuros dirigentes”.

“A justiça e a verdade devem prevalecer”, afirmou. “Roubaram-nos as eleições legislativas e não vamos deixar que nos roubem as eleições presidenciais”, prosseguiu, acusando os magistrados de “ingerência” em assuntos políticos. “Julgaram-me num processo que é, acima de tudo, político”, observou.

Em seguida, a União Nacional anunciou a convocação de uma manifestação para o próximo domingo, em Paris, de apoio a Le Pen. Tal mobilização foi questionada pelo ex-primeiro-ministro Gabriel Attal. “É uma manifestação contra a independência do poder judicial”, que é um dos pilares da democracia, argumentou o atual secretário-geral do partido Renascimento, do Presidente francês, Emmanuel Macron.

Por seu lado, o procurador-chefe do Tribunal de 2.ª Instância do país, Rémy Heitz, defendeu que o veredicto judicial contra Le Pen foi emitido por três juíz