Gal Gadot. A primeira israelita com uma estrela no Passeio da Fama

Nunca imaginou que viveria da representação. Estudou Direito e desde muito jovem que se tornou modelo. Além disso, esteve no exército israelita durante dois anos. É a nova rainha má no filme ‘Branca de Neve’ e nunca deixou de defender o seu país

Muitos conhecem-na como a Mulher Maravilha. Em hebraico, o seu primeiro nome significa «onda» e o seu sobrenome, «margens dos rios». Fez o serviço militar obrigatório e depois foi instrutora de combate. Em 2004, foi considerada a Miss Israel e trabalhou como modelo para inúmeras marcas icónicas como a Maxim. Chegou mesmo a ser considerada pela revista israelita Shalom Life uma das cinco mulheres judias mais inteligentes, talentosas e belas do mundo. Estudou Direito, mas a paixão pela representação falou mais alto. É mãe de quatro filhas e já admitiu que se pudesse daria à luz uma vez por semana. Em 2018, foi nomeada uma das 100 pessoas mais influentes pela Time. Gal Gadot, de 39 anos, tornou-se recentemente a primeira mulher israelita a ser homenageada com uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood, numa altura em que se continua a viver o conflito no Médio Oriente.

Na cerimónia, a atriz do recente remake de Branca de Neve – que dá vida à malvada madrasta da princesa –, fez um discurso emocionado, dirigido essencialmente ao marido, o empresário israelita Jaron Varsano, e às quatro filhas do casal: Alma, de 13 anos, Maya, de 8, Daniella, de 3, e Ori, de 13 meses. «Sou apenas uma rapariga de uma cidade em Israel, esta estrela vai lembrar-me que, com trabalho duro, paixão e um pouco de fé, tudo é possível», começou por dizer. «Sempre que o meu sucesso aumentava, eu engravidava… É o que digo aos meus agentes: ou estou a fazer filmes, ou a fazer bebés — chega de bebés. Mas o Jaron sempre me lembrou de sonhar e de ser livre para fazer o que eu quisesse», continuou com humor. «Obrigada por fazerem parte do ‘circo’, como costumamos dizer. Vocês permitem-me cumprir os meus sonhos e espero que saibam que podem fazer o mesmo. Inspiram-me todos os dias a esforçar-me para ser uma pessoa melhor, para ser forte, gentil e corajosa, tal como vocês são, e espero que se sintam orgulhosas», afirmou referindo-se às filhas. «Quero que saibam que isto não tem a ver com fama, filmes ou qualquer coisa desse género. Isto é sobre seguir uma paixão e trabalhar arduamente. E, quero que saibam que, se o fizerem, podem alcançar tudo, minhas doces meninas», acrescentou.

Contra tudo e todos

Apesar da sua emoção e felicidade, a cerimónia acabou por ficar envolta em polémica, sendo interrompida por dezenas manifestantes pró-Palestina e pró-Israel. Aliás, começou com 15 minutos de atraso devido às interrupções. Durante o evento, os manifestantes fizeram-se ouvir e ocorreram conflitos entre os grupos. Cartazes como «Heróis lutam como os palestinianos» e «Viva Viva Palestina», encheram as ruas. A multidão gritava: «Para cima com a libertação; para baixo com a ocupação». Um dos manifestantes, Roma Ealaicos, disse à Variety: «Estamos todos muito chateados com o que está a acontecer em Gaza. No último ano e meio, e especialmente nas últimas 24-48 horas, 400 pessoas inocentes foram mortas pelo exército israelita, sem provocação. Não há razão para celebrarmos uma israelita», exaltou. 

Recorde-se que a artista tem defendido Israel desde o início do conflito entre o país e o grupo terrorista Hamas, em outubro de 2023. «Eu estou com Israel e tu também deverias estar. O mundo não pode ficar ‘em cima do muro’ quando estes atos horríveis estão a acontecer», escreveu a atriz nas redes sociais na altura. 

Além disso, num evento que ocorreu em março deste ano, Gal afirmou que «nunca imaginou que nas ruas dos EUA, e em diferentes cidades ao redor do mundo, veríamos pessoas que não condenam o Hamas, pelo contrário, que o celebram, justificando e aplaudindo um massacre de judeus».

Antes da cerimónia, a atriz também falou com a mesma revista explicando que, até ao início deste conflito, tentou sempre ficar de fora da política. No entanto, depois desse acontecimento, sentiu-se obrigada a falar: «Quando as pessoas foram sequestradas das suas casas, das suas camas, homens, mulheres, crianças, idosos, sobreviventes do Holocausto, que passaram pelos horrores que aconteceram naquele dia, eu não consegui ficar em silêncio. Fiquei chocada com a quantidade de ódio, com a quantidade de pessoas que pensam que sabem tudo quando na verdade não têm ideia do que está a acontecer», explicou. «Eu não sou uma hater. Eu sou neta de um sobrevivente do Holocausto que veio para Israel e construiu tudo do zero depois de toda a sua família ter sido eliminada em Auschwitz», completou.

E, mesmo depois de receber críticas por algumas das suas declarações – várias pessoas foram mesmo contra a sua escolha para o filme da Disney –, insistiu: «Quando a tua bússola está limpa, a tua consciência está limpa. Eu sei o que estou a defender e sei o que desejo para o mundo», assegurou.

Do exército aos grandes ecrãs

Gal Gadot nasceu no dia 30 de abril de 1985, em Petah Tikva, mas cresceu em Rosh Ha’Ayin, ambas no Distrito Central de Israel. O seu pai era engenheiro e a sua mãe professora. Ambos nasceram em Israel e a família paterna está no país há seis gerações. Já os seus avós maternos são imigrantes na Europa. O seu avô, Abraham Weiss, foi prisioneiro no campo de concentração de Auschwitz, onde perdeu toda a sua família, e sobreviveu ao Holocausto; a sua avó também escapou aos nazis. Por isso, segundo a mesma, cresceu num ambiente «bem judeu e israelita». A artista tem uma irmã mais nova, Dana.

De acordo com a Variety, Gadot foi uma criança atlética tendo praticado inúmeros desportos durante a sua adolescência. Estudou jazz, hip-hop, foi mesmo dançarina durante 12 anos e um dos seus primeiros trabalhos foi como babysitter. O seu sonho era ser coreógrafa, mas a vida trocou-lhe as voltas.

Em 2004, com apenas 18 anos, conquistou o título de Miss Israel e acabou por ganhar fama no seu país. Além de ter levado para casa um Citroen C3, representou Israel no concurso Miss Universo, no Equador. À revista Glamour, a artista revelou que sempre imaginou que participar no concurso «seria uma experiência muito boa», mas «nunca imaginou que ganharia».

Apesar de muitos israelitas começarem o serviço militar obrigatório aos 18 anos, Gal começou apenas aos 20. «Fui instrutora de combate, mas nunca estive em campo a fazer algo perigoso ou com armas. Ficava na academia militar a treinar os soldados e a mantê-los em forma. Fiz isso durante dois anos. Aprendi a usar uma arma durante o acampamento de recrutas, mas nunca estive numa situação em que precisei de usá-la», contou numa entrevista. Durante essa altura, continuou a trabalhar como modelo.

Depois de deixar o serviço militar obrigatório, a jovem iniciou os seus estudos em Direito, na universidade IDC Herzliya, em Herzliya, Israel. Nesse período foi convidada para ser capa da prestigiosa revista Maxim – «As Mulheres do Exército de Israel». A fotografia acabou por gerar muita controvérsia tanto em Israel quanto nos EUA e sua popularidade fez com que Gadot fosse primeira página do jornal The New York Post.

Quando terminou o primeiro ano na universidade – já nas bocas do mundo pela sua carreira de modelo –, foi convidada para um casting para o papel da Bond Girl, em 007 – Quantum of Solace. Apesar de não conseguir ficar com o papel, acabou por nascer um gosto pela representação e começou a estudar com um dos melhores professores de representação israelita. «Descobri algo que amava fazer», disse Gadot à Variety. «E uma coisa levou à outra… O meu primeiro papel no cinema foi com a ex-agente do Mossad Gisele Yashar, em ‘The Fast and the Furious’», contou.

Seguiram-se filmes como Knight and Day; Triple 9; Criminal; Keeping Up With the Joneses; Batman v Superman: Dawn of Justice; Heart of Stone; Death on the Nile; Red Notice e, claro, Wonder Woman.

No seu último trabalho, o remake da Branca de Neve do realizador Marc Webb, Gal saiu da sua zona de conforto e apesar do filme ter gerado muita polémica muito antes da sua estreia, a artista está muito satisfeita com a longa-metragem. No filme, trocou o seu fato de Mulher Maravilha para dar vida a uma Rainha Má e assumiu o desafio de cantar num filme pela primeira vez. «Foi diferente de tudo aquilo que já fiz (…) Foi um papel delicioso», garantiu.