Yves Boisset. O ‘realizador de combate’

1939-2025. Era o cineasta mais censurado de França.

Houve um tempo em que muitos dos grandes artistas não estavam apenas comprometidos com uma educação sentimental, mas com a formação cívica do público, assumiam um conjunto de causas, entregavam-se ao conflito, e Yves Boisset foi dos cineastas que mais fizeran avançar essa linha, a ponto de o Nouvel Observateur, nos anos 1970, o ter louvado como «o homem mais censurado de França». O realizador por trás de filmes como O Atentado (1972), Dupont Lajoie (1975) ou Juiz Fayard – ‘O Xerife’ (1977), bateu-se com o poder, denunciando sistematicamente os seus abusos. Da guerra da Argélia ao assassínio do líder da oposição marroquina Ben Barka, passando pelo conluio entre os círculos políticos e o submundo do crime, o seu cinema doía, inquietava, revoltava. Era realmente um perigo, e sinal disso, uma das suas maiores distinções foi a forma como esteve na mira do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen e dos seus aliados. Morreu na segunda-feira, aos 86 anos, depois de vários dias internado no hospital franco-britânico de Levallois-Perret.

Nascido a 14 de março de 1939, em Paris, o seu espírito indomável foi-lhe inculcado desde cedo, sendo filho de professores. Criado numa quinta, o seu pai foi o epítome da mobilidade social durante a Terceira República: terminou a sua carreira como Inspetor-Geral da Instrução Pública depois de ter ensinado literatura (francês, latim, grego). A sua mãe era professora de alemão. Tinha 8 anos quando uma tragédia ensombrou a família: o seu irmão mais novo engoliu um medicamento para adultos que o avô materno tinha deixado à vista, e morreu. Isto deixou nele um forte sentimento de injustiça, que ele iria exorcizar ao longo da vida.

Iniciou o seu percurso como crítico de cinema, antes de colaborar com realizadores notáveis como Bertrand Tavernier e Jean-Pierre Coursodon no livro Vingt ans de cinéma américain. Viria a estrear-se na realização em 1968 com Coplan sauve sa peau, um filme de espionagem ligeiro que preparou o terreno para as suas obras posteriores mais sérias. Ao longo da década seguinte fez dez filmes, e estabeleceu a sua reputação de cineasta comprometido com os temas mais controversos e muitas vezes tabu.