Pavlidis. De patinho feio a domador de dragões

No início do ano, Pavlidis era notícia por ser o avançado menos eficaz do Benfica desde 2014/15. Mas bastou só uma semana para o grego se afirmar. No domingo tornou-se o primeiro jogador do Benfica a fazer um hat-trick no estádio do FC Porto

Os golos são como o ‘ketchup’. Quando aparecem, é tudo de uma vez”. A frase é de Cristiano Ronaldo e assenta que nem uma luva a Vangelis Pavlidis, o grande protagonista da goleada do Benfica no Estádio do Dragão, no domingo, por 4-1. Oavançado grego marcou três dos golos com que os encarnados selaram a mais expressiva vitória no reduto do rival nos últimos 80 anos.

Perante um FC Porto fragilizado, numa temporada de muitas mudanças, tanto na presidência, como na equipa técnica e no plantel, Pavlidis é o mais recente herói do universo encarnado. No entanto, nem sempre foi assim.

Nascido em Salónica em 1998, deu nas vistas no Europeu de sub-17 na Bulgária, em 2015, onde foi considerado um dos 15 atletas mais promissores. Andou pela Alemanha, alinhando pelo Bochum e pelo Dortmund B, antes de rumar ao campeonato holandês. Quando chegou ao Benfica, o internacional grego, de 26 anos, vinha de três anos seguidos a marcar acima dos 20 golos no AZ Alkmaar, e a sua contratação aguçou o apetite dos adeptos, com a pré-época a ser entusiasmante, ao anotar sete golos nos seis embates realizados. Parecia um goleador nato.

Contudo, quando os jogos oficiais começaram, isso foi-se desvanecendo. Pavlidis custou 18 milhões de euros aos cofres encarnados, mas tardava em justificar esse investimento, seguindo na senda de outros avançados que, em negócios idênticos ou até mesmo por valores superiores, fracassaram nos últimos anos ao serviço do emblema lisboeta.

Apesar da forma como conseguia trabalhar para o coletivo na frente de ataque, e dos constantes elogios de Roger Schmidt, primeiro, e de Bruno Lage, depois, Pavlidis era um dos rostos do mau arranque de época do Benfica, que motivou a saída do treinador alemão, à quarta ronda, e o regresso do português, quatro anos depois.

Avançado menos eficaz

As vitórias consecutivas começaram a aparecer, com um futebol mais ofensivo e muitos golos marcados, mas não pelo grego, que se envolvia bem na dinâmica da equipa, embora faltando a capacidade para a finalização que já tinha evidenciado.

Desta forma, os sete golos apontados nos primeiros 29 duelos com a camisola do Benfica não eram um bom prenúncio, com o helénico a perder até o estatuto de titular em alguns jogos para o brasileiro Arthur Cabral, outro investimento falhado.

Em 16 de janeiro, Pavlidis era notícia por ser o avançado menos eficaz do Benfica desde 2014/15, fazendo pior do que muitos jogadores considerados ‘flops’ que por lá passaram. No entanto, bastou só uma semana para o grego ‘calar’ tudo e todos.

Num confronto tanto épico como polémico na receção ao FC Barcelona, que foi à Luz vencer por 5-4 para a Liga dos Campeões, o grego apontou um ‘hat-trick’ e, desde aí, o ‘ketchup’ nunca mais parou de fluir. São 17 tentos nos derradeiros 17 encontros, que o transformaram naquilo para o qual foi contratado: melhor marcador das águias.

Foi suplente utilizado no jogo seguinte e não marcou, no desaire na visita ao Casa Pia, por 3-1, mas, a partir daí, esteve quatro encontros consecutivos a marcar, frente à Juventus, ao Estrela da Amadora, ao Moreirense (bis) e ao Mónaco, voltando a ser suplente utilizado no difícil triunfo perante o Santa Clara, resolvido com um golo de Bruma.

Voltaria a marcar aos monegascos, tornando-se o jogador do Benfica com mais golos numa só edição da Liga dos Campeões (sete), e também fez do Boavista e do Sporting de Braga vítimas, dando a passagem às ‘meias’ da Taça de Portugal.

Ficou em branco no reencontro com o FC Barcelona, para os quartos de final da Liga dos Campeões, que ditou a eliminação do Benfica da prova milionária, mas marcou ao Nacional, ao Rio Ave e ao Farense, tendo falhado apenas diante do Gil Vicente, numa partida em que voltou a sair do banco e esteve 17 minutos dentro de campo.

O primeiro da história

O ponto alto da época aconteceu no domingo, ao apontar um novo ‘hat-trick’ no reduto do rival FC Porto e tornando-se no primeiro jogador benfiquista capaz de tal feito em toda a história. O primeiro e o terceiro golos resultaram igualmente da mestria de Aktürkoglu e Di María, mas o segundo, com um excelente trabalho, é inteiramente obra sua.

De patinho feio até domador de dragões, Pavlidis tem feito uma época claramente em crescendo e, até ao final da temporada, tem um papel crucial na ambição dos encarnados pelo 39.º título de campeão nacional, numa luta acérrima com o rival Sporting, que procura um bicampeonato que já não conquista há mais de 70 anos.

Dragões fora da corrida

O FC Porto, que estava há muito arredado desta corrida, ficou ainda mais longe do topo da tabela. Com seis jornadas por disputar,  encontra-se a 12 pontos do líder e terá de se contentar com a luta pelo terceiro lugar face ao Sporting de Braga, numa temporada que até começou bem, com a conquista da Supertaça, mas que rapidamente foi ao fundo: Vítor Bruno, que substituiu Sérgio Conceição no comando técnico da equipa, só se aguentou até ao mês de janeiro. Depois, Martín Anselmí veio da Argentina para liderar o conjunto nortenho, mas sem melhoras que se vejam.

Pelo meio, a morte do ‘Presidente dos Presidentes’ Jorge Nuno Pinto da Costa, aos 87 anos, ainda marcou mais o período negro do FC Porto, agora presidido pelo ex-treinador André Villas-Boas, responsável, enquanto treinador, pela última conquista europeia do clube.

O título de campeão português promete ser discutido até ao fim pelos dois rivais lisboetas, com a penúltima jornada a oferecer um Benfica-Sporting que poderá ser decisivo e que levará o vencedor a festejar na praça do Marquês de Pombal.