A dona do apito

Catarina Campos foi a primeira mulher a dirigir um jogo do principal escalão do futebol masculino. Foi um momento marcante para a árbitra, de 39 anos, que espera ter aberto portas para que no futuro outras mulheres possam estar nos mesmos palcos.

Catarina Campos é árbitra internacional há cinco anos e integra a categoria de elite da UEFA desde 2023. Teve um trajeto rápido e alicerçado em exibições convincentes que levaram o Conselho de Arbitragem a nomeá-la para dirigir o jogo da primeira liga entre o Casa Pia e o Rio Ave, onde teve como assistentes Andreia Sousa e Vanessa Gomes. A árbitra foi também nomeada para VAR no Benfica-Farense desta semana. Há um mês e meio já tinha sido a primeira mulher a chefiar uma equipa de arbitragem totalmente feminina nas competições profissionais, num jogo da segunda liga entre o Paços de Ferreira e o Feirense. O seu percurso na arbitragem compreende ainda jogos da Liga dos Campeões feminina, cuja final se realiza no Estádio José Alvalade, a 24 de maio. A árbitra portuguesa faz também parte da lista de 12 juízas que vão apitar o Europeu feminino, que se realiza na Suíça, em julho.


Catarina Campos é formada em Comunicação Social pelo Instituto Politécnico de Viseu, mas foi a arbitragem que a conquistou. Tirou o curso em 2008, passados quatro anos entrou para os quadros da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e, em 2018, recebeu as insígnias da FIFA como reconhecimento do seu valor. Destacou-se no meio da arbitragem quando mostrou o cartão branco, símbolo do fair play, às equipas médicas do Benfica e Sporting num jogo do campeonato feminino por terem prestado assistência a um adepto que se sentiu mal. «Ser árbitra é uma tarefa que não é propriamente fácil de desempenhar. Não é muito amada pelo público em geral, mas o árbitro é fundamental no jogo», afirmou, em 2023, durante uma campanha da FPF para recrutar elementos para a arbitragem. No passado fim de semana entrou na história da arbitragem feminina em Portugal.
O jogo entre o Casa Pia e o Rio Ave (2-1) teve alguns momentos quentes que Catarina Campos resolveu com calma e sabedoria. «Quero agradecer às equipas por, na generalidade do jogo, não terem complicado em demasia o meu trabalho, aceitarem as decisões e respeitarem a equipa de arbitragem. Houve uma ou outra situação pontual, mas isso faz parte da emoção do futebol», salientou. No final, com um largo sorriso no rosto, afirmou: «Sinto-me honrada e orgulhosa por estar a representar uma classe e a abrir portas para que outras mulheres no futuro possam estar nestes palcos. É um marco importante». «Todos fazemos parte deste jogo e estamos preparadas para assumir este compromisso. É um dia muito feliz para mim», acrescentou.

Reações
O Casa Pia venceu, mas o seu treinador foi expulso por Catarina Campos. Apesar disso, considerou o trabalho da árbitra positivo. «A Catarina tem uma grande carreira pela frente. Acredito que pode ser um ponto de partida para eventuais alterações no sentido de não haver separação de género. Somos todos treinadores, femininos e masculinos, e árbitros», disse João Pereira. O treinador do Casa Pia lamentou ainda a expulsão. «Passei a mensagem de que ia tentar fazer um bom trabalho, infelizmente não consegui e fui expulso. Não queria entrar para a história como o primeiro treinador a ser expulso. Antes de sermos árbitros, treinadores ou jogadores, somos pessoas e todos temos emoções», justificou. Petit, treinador do Rio Ave, também elogiou o trabalho de Catarina Campos. «Fez uma excelente arbitragem. Deixou jogar e não marcou aquelas faltinhas. Foi interessante e gostei porque não passou ao lado do jogo. Teve firmeza no critério e dou os parabéns», sublinhou.
O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) espera que a nomeação de Catarina Campos para a primeira liga inspire novas gerações. «Esta nomeação reflete o excelente trabalho desenvolvido ao longo dos anos no futebol feminino e a crescente valorização das nossas árbitras, que demonstram, jogo após jogo, competência, dedicação e profissionalismo», afirmou José Borges.