Quando tudo é passado, o futuro não acontece

A direita moderada precisa de uma esquerda igualmente moderada, aberta ao diálogo e com uma visão moderna da sociedade.

Há quanto tempo não ouvimos algo novo e mobilizador vindo da esquerda democrática na Europa? A crise da esquerda moderada é uma realidade: em vários países, os partidos socialistas perderam força, ideias e, nalguns casos, desapareceram. França é exemplo disso. A Alemanha também. E, mesmo nos supostos “casos de sucesso”, como Espanha, o crescimento económico não resulta das políticas do Governo, mas sim da capacidade intrínseca do país – que, note-se, vive há três anos sem orçamento aprovado.
A esquerda cristalizou-se numa resposta às crises financeiras do passado. Ficou presa a uma narrativa ideológica que não dialoga com as necessidades reais das sociedades. Em Portugal, essa rigidez é visível. A ‘geringonça’ teve um impacto profundo: ideologizou o PS, arrastando-o para a esquerda radical e afastando-o do centro político reformista, onde está a maioria dos portugueses.


O resultado? Uma agenda repetitiva e esgotada: taxar riqueza, combater precariedade, defender o Estado Social, promover a igualdade de minorias, e aceitar uma circulação global sem reconhecer os enormes desafios das migrações. Tudo isto sem dar prioridade à criação de riqueza, ao investimento em setores de valor acrescentado e à valorização do trabalho qualificado.


As respostas da esquerda aos problemas dos cidadãos são frágeis. Na saúde, na educação, nas condições de vida dos jovens, faltam soluções e sobra ideologia. Criou-se um sistema educativo a duas velocidades e impôs-se uma agenda identitária, desligada da realidade da maioria. O ambiente tornou-se bandeira de empobrecimento, esquecendo o enorme potencial das tecnologias verdes e das energias renováveis para relançar a economia e a indústria europeia.


A frase de António Costa – «o Governo cai no dia em que precisar dos votos do PSD para aprovar um orçamento» – diz tudo: a esquerda desistiu de dialogar. Fechou-se no seu mundo, convencida de que a direita moderada acabaria por ceder à extrema-direita, quando, na verdade, é no centro que as democracias se constroem.


Hoje, mais do que nunca, precisamos de diálogo, soluções práticas e reformas estruturais. Os cidadãos querem estabilidade política, crescimento económico, serviços públicos com qualidade e um futuro com oportunidades. Não querem radicalismos. A radicalização pode animar militantes, mas afasta eleitores.


Paradoxalmente, a direita moderada precisa de uma esquerda igualmente moderada, aberta ao diálogo e com uma visão moderna da sociedade. Mas ao ler o programa do PS, em plena pré-campanha, não encontramos essa ambição. Falta visão, falta presente e, acima de tudo, falta futuro.
Num momento em que a Europa precisa de confiança, crescimento, defesa da democracia, valorização do trabalho e das pessoas, o PS apresenta-nos uma agenda virada para trás. E quando tudo é passado, o futuro não acontece.