Pedro Nuno Santos vs Inês Sousa Real: a distância entre os dois vai de Lisboa ao Porto

A líder do PAN esteve ao ataque e tentou encostar o socialista a uma imagem de radical, algo que Pedro Nuno “registou”. Só concordaram sobre o IVA zero no cabas essencial.

O debate entre os líderes do PS e do PAN foi o primeiro com um candidato fora do estúdio e isso provavelmente prejudicou a interação entre os dois – apesar do tom constante de parada e resposta, moderado com mestria pela pivot Sara Pinto. A líder do PAN esteve ao ataque e tentou encostar o socialista a uma imagem de radical, algo que Pedro Nuno “registou”. Só concordaram sobre o IVA zero no cabas essencial.

Inês Sousa Real foi a primeira a responder às questões da jornalista Sara Pinto sobre as propostas do partido sobre política fiscal. A porta voz do PAN tentou estender o braço às empresas e empresários, dizendo que elas não podem ser diabolizadas e tentou marcar a diferença em relação ao seu adversário defendendo a descida do IRC: “Não estamos a fomentar o que é uma carga fiscal excessiva para as empresas”.

A partir do Porto, Pedro Nuno Santos acusou o toque e defendeu a posição socialista. “Achamos que a redução do IRC, de forma transversal e sem critério, é errada”, acrescentando que o imposto não é um problema. Para confirmar essa tese, recordou os lucros “recorde” de várias firmas e que tal não teve repercussão nos salários nem no que é pago aos produtores, por exemplo. Por esse motivo, acrescentou, a opção do PS do “desagravar os impostos que toda a gente paga, independentemente dos seus rendimentos”, voltando a recordar a promessa de IVA zero para bens essenciais. Inês Sousa Real encontrou aqui espaço para encostar o socialista à extrema-esquerda: “Achei que estava a debater com o Bloco de Esquerda e não com o PS”, atirou, acrescentando que o socialista tinha acabado de diabolizar as empresas. Já sobre o IVA zero, recordou que o seu partido tinha feito essa proposta em novembro e que o PS a “rejeitou”. Antes de passar ao tema seguinte dos preços dos combustíveis, Pedro Nuno não quis deixar a adversária sem resposta dizendo ter “registado” a tentativa de Inês Sousa Real de colocar um rótulo de radicalismo no IRC e que a posição do PS foi sempre “privilegiar as empresas que dão um destino economicamente útil aos seus lucros. Não há aqui nenhuma radicalização”.

Já sobre os impostos sobre os combustíveis, defendeu a manutenção dos apoios uma vez que, disse, a maioria dos portugueses não tem acesso a transportes públicos, algo em que pretende investir. “Mas até lá chegarmos não podemos sobrecarregar as famílias que dependem do automóvel para trabalhar.” Recordou ainda o que o PS fez no governo quando reduziu o preço do passe.

Quando o debate seguiu para o tema da habitação, os dois mostraram as suas diferenças. Pedro Nuno justificou a aprovação da alteração À lei dos solos com a vontade em minorar os impactos negativos da proposta do governo na lei dos solos e que conseguiu reduzir alguns problemas, como a garantia de que os preços terão de ser acessíveis. “Não acho que a lei seja a solução, aliás a AD criou problemas no tema da habitação. Adotou medidas do lado da procura que não tendo sido acompanhadas do lado da oferta levou à aceleração dos preços”, disse. As vítimas, acrescentou, foram os jovens. “Temos que aumentar a construção pública e a privada.”

Já Inês Sousa Real afirmou que a lei permite a destruição de espaços verdes e recordou que o PAN conseguiu a bonificação do IMI e enumerou várias medidas que ficaram pelo caminho. “PS e PSD tinham uma meta de mais 50 mil fogos até 2026 e só 10% foi cumprido”, disse. Defendeu o financiamento local para ajudar os municípios como está a ser feito em França. Atacou a proposta do PS de aproveitar os lucros da CGD dizendo que esses lucros são obtidos em comissões e na exploração dos trabalhadores. Em vez disso disse preferir créditos mais competitivos da CGD. Não se opõe à medida socialista mas diz que não é solução. Já Pedro Nuno Santos, a quem coube terminar o debate, respondeu dizendo que não há muitas mais medidas a tomar: “o que é preciso é construir.”