Lança na próxima semana o Ponto Final, um livro onde reúne uma série de texto publicados na imprensa nos últimos anos, muitos deles nas páginas do Nascer do SOL . Garante que com o fim do mandato se acaba a vida política mas não a intervenção cívica. O seu livro tem o título Ponto Final. Quer isto dizer que é um ponto final na sua vida pública, a partir do momento em que deixar as funções de presidente da Câmara do Porto?
Sim, é essa a minha vontade. Pelo menos não continuar a envolver-me na vida política ativa, ou seja, executiva. Acho que vou continuar a ter uma intervenção cívica porque todos nós fazemos política de uma forma ou outra. Mas não quero continuar na política ativa.
Um dos temas sobre os quais tem escrito muito é a crítica ao centralismo de Lisboa e à forma como o país é governado a partir do Terreiro do Paço. Isso teve mudanças nos últimos tempos ou acha que se mantém tudo igual e que é preciso mudar a forma de governar em Portugal?
Acho que Lisboa é provavelmente uma das grandes vítimas do centralismo. Por uma razão óbvia: porque as pessoas têm de conviver com essa presença opressiva do Estado e do poder. Muitas vezes são os meus colegas, presidentes de Câmara de Lisboa que se queixam. Agora se me pergunta se está melhor? Não está melhor. Se quisermos ser otimistas dizemos que está igual. Mas hoje a pressão centralista já não se situa tanto na classe política é mais nos níveis intermédios da administração pública que controlam tudo e que naturalmente, têm uma visão do país a partir de um único ponto cardeal.
Uma das questões que acompanhou, sobretudo nos últimos anos como Presidente da Câmara, foi a questão do crescimento da imigração e do aumento da insegurança. Como avalia aquilo que foi a governação nestes 11 meses? Acha que alguma coisa mudou? Para melhor, para pior ou está tudo na mesma?
Acho que está melhor e vou explicar porquê. Porque finalmente acho que os erros que foram cometidos pelo anterior governo, nomeadamente a criação da AIMA que foi um enorme disparate, foram corrigidos. Portanto, acho que neste momento o discurso do Governo, que agora Pedro Nuno Santos também já acompanha, é um discurso responsável relativamente à imigração. Ou seja, nós precisamos de imigrantes, a nossa economia precisa dos imigrantes, temos é de criar condições para que os imigrantes vivam em condições. Nós somos um país fortemente envelhecido e precisamos de rejuvenescer o país e só o podemos fazer à conta da imigração. Mas isso tem de ser um processo responsável. Acho que qualquer ligação entre a imigração e a violência, e a insegurança, pode afetar a perceção, mas ligar uma coisa a outra acho um disparate. Isso verdadeiramente só o Chega é que faz. Não vi, felizmente, este governo fazer. Agora, porque é que melhorou, porque nós estamos hoje mais alinhados com as preocupações da esmagadora maioria dos países europeus de que temos de ter tento relativamente à imigração. Tem de haver uma regulação como em tudo. Não pode ser uma maré viva, tem de ser uma maré, mas tem de ser uma maré controlada.
Outro problema que também afeta muito o Porto e as grandes cidades é a questão da habitação. Está tudo na mesma? Acredita que estes financiamentos do PRR possam ajudar a resolver definitivamente o problema?
Em primeiro lugar acho que é preciso o secretário-geral do Partido Socialista, que teve responsabilidades em matéria de habitação no governo anterior, ter uma grande lata para dizer que a responsabilidade é da governação no último ano. Quem há uns anos veio garantir que nos 50 anos do 25 de Abril ia haver 5% de habitação pública e ela não chega aos 2,5% agora tem esta proposta do financiamento dos lucros da Caixa Geral de Depósitos que é um disparate. Os lucros da Caixa Geral de Depósitos vão para o Estado, depois o que é que o Estado faz com eles, dizer que vai alocar para aqui ou para ali, é ridículo, não há nenhum economista a defender isso. Nós temos um problema na habitação muito sério, porque durante os últimos anos deixou de se construir habitação pública e habitação privada. Os números na construção são alarmantes, não houve uma renovação de stock e houve um aumento de procura que resulta de vários fatores. Eu ainda hoje estive a ver no Porto que o aumento das famílias monoparentais aumenta a procura pelo efeito do desdobramento das famílias, é uma coisa que pouca gente assinala. E depois também a vinda de imigrantes e de turistas para o país, aumenta naturalmente a procura. Não havendo oferta temos um problema. A oferta não tem sido aumentada porque o Estado não tem tido políticas ativas para construir habitação ou para criar um mercado fundiário de habitação. Por outro lado, quem tem algumas poupanças, dificilmente vai colocar as suas poupanças comprando um andar para arrendar a terceiros, porque o risco de incumprimento por parte do inquilino é muito grande e se o inquilino não pagar a renda ele se calhar vai andar dois anos até conseguir tirar de lá o inquilino e quando chegar lá vai ter o andar destruído. O Estado, tal como fez no tempo de Oliveira Salazar, mas isto agora parece interessar à esquerda, tem a ideia de que o ónus social na questão da habitação pode ser feito do lado do proprietário.
E a construção de nova habitação com os fundos do PRR está a ajudar a resolver o problema?
Sim, alguma coisa.
Mas são suficientes para resolver o problema?
Não há uma solução única para o problema da habitação, nem uma varinha mágica. Agora, se me perguntar se no nosso caso nós estamos a aproveitar tudo o que podemos do PRR? Estamos.
Está no fim do mandato, já há vários candidatos ao seu lugar e já sei que não quer apoiar nenhum deles, mas fica preocupado com quem é que pode vir atrás de si?
Não, não. Estou muito tranquilo com os candidatos que vão sendo conhecidos. Ainda faltam alguns, com certeza e é bom que assim seja. É bom que as pessoas tenham a vontade de fazer política ativa. Não estou nada aflito nem preocupado. Pelo contrário. São pessoas que com certeza vão fazer diferente de mim. É perfeitamente razoável que a sociedade, em função dos novos problemas, procure novas soluções. E é bom que a campanha eleitoral sirva para esclarecer os portugueses sobre o que cada um dos protagonistas propõe e depois faça a sua escolha, desde que não se estrague o que está feito e consolidado.
Vamos ter novas eleições, como é que olha para esta situação de instabilidade política que os últimos anos têm trazido a Portugal?
Preocupa-me naturalmente a questão da ingovernabilidade, que resulta de circunstâncias e de erros de avaliação. E preocupa-me também outra coisa: na situação atual – e nós começamos agora a ouvir as propostas dos partidos -, não há verdadeiramente nenhum partido que seja reformista. Nem mesmo o Iniciativa Liberal, porque o IL propõe menos Estado, mas não propõe melhor Estado. Portanto, o que me preocupa é que quando as condições de governabilidade se reduzem, também a probabilidade de reformar o país, de fazer as reformas necessárias vai sendo reduzida.
Mas se ficar tudo na mesma?
Há a probabilidade de daqui a um ano, termos novas eleições e continuarmos a ser um país sem continuidade na governação, lá está, o grande problema é que não faz reformas. E quando nós ouvimos as propostas do Secretário-Geral do Partido Socialista, percebemos que é assim uma mistura de Marx com Pai Natal. No fundo é uma tentativa de nos enfiar o barrete, porque nós percebemos que é, quase em situação de desespero, prometer coisas que não são possíveis, em que ninguém acredita.
Porquê?
Quando o maior partido da oposição nos propõe sol na eira e chuva no nabal, e nos diz que nós precisamos de trabalhar menos, que vamos ganhar mais e pagar menos impostos… Parece ser uma forma demagógica de propor alguma coisa ao eleitorado, ainda por cima ao som de uma rapper. É mau sinal. Agora, há várias situações que podem surgir das eleições e que podem ditar outro futuro. Se a AD mais o Iniciativa Liberal conseguirem a maioria, é improvável, mas é possível. A segunda hipótese é que o Iniciativa Liberal e a AD tenham, apesar de tudo, mais do que todos os partidos de esquerda somados ao PS. Se essa situação se colocar isso vai pôr o Chega numa situação muito mais difícil, porque já não pode ter aquela cumplicidade que teve logo no início deste mandato em que, na Assembleia da República, fez acordos objetivos com o Partido Socialista.
Acha que estes casos que envolveram o primeiro-ministro o vão marcar, mesmo que ganhe as eleições, vão deixá-lo numa situação de fragilidade?
Acho que cada um de nós, já fez a sua avaliação. A não ser que surgisse alguma coisa que nós não saibamos, já fizemos essa avaliação. Haverá quem ache que não vê nada, haverá quem ache que ele esteve mal eticamente, haverá quem ache que ele não explicou as coisas da forma mais conveniente. Mas acho que essa posição está feita. Agora há uma coisa que me parece óbvio: no dia 18 de maio vamos ter um daqueles duelos, como dizíamos nos filmes de western, em que aparecem dois pistoleiros e em que um deles vai sair de morte, e a partir daí tudo será diferente.
Na semana passada, curiosamente no mesmo dia em que Pedro Duarte anunciou que iria ser candidato ao Porto, o senhor recebeu no Mercado do Bolhão todo o governo e o candidato Pedro Duarte, algo que foi visto como um ato de campanha. Sentiu-se usado nessa operação?
Há pouco mais de um ano, se forem pesquisar, as pessoas encontrarão na internet, o governo Costa, a última reunião do Conselho de Ministros que organizou, foi exatamente na cidade do Porto. Por acaso foi no edifício da Câmara Municipal do Porto e fez mais ou menos a mesma coisa. Também fui convidado para me sentar à mesa no início da reunião e dizer algumas palavras, e também no fim da reunião, fui convidado para tirar uma fotografia com o governo. Curioso, passou um ano e fez-se a mesma coisa. Não me senti nada usado, fui ao Mercado do Bolhão receber o senhor primeiro-ministro, é evidente que vinha Pedro Duarte, que tinha lançado nessa manhã a sua candidatura. Acho mais ou menos normal, no ano passado aconteceu a mesma coisa com o Partido Socialista e também estavam por lá pessoas que vão ser candidatos autárquicos. Agora um Presidente da Câmara, tem de estar presente. Depois fizeram uma road em que eu não participei. Acho engraçado que quem está tão escandalizado, há um ano não estava escandalizado.
As duas pessoas que vão apresentar o seu livro, no Porto e em Lisboa, são Paulo Portas e Sérgio Sousa Pinto. Porquê estas escolhas, até porque Sérgio Sousa Pinto e Paulo Portas estão na agenda política: um hipotético candidato presidencial e o outro acaba de decidir abandonar as listas do Partido Socialista?
Quando convidei o Sérgio ele ainda não tinha tomado essa decisão. Mas eu gosto muito do Sérgio Sousa Pinto, porque é das poucas pessoas livres em Portugal que nunca teve problemas de dizer aquilo que pensa, não é politicamente correto. O Paulo Portas, convidei-o, com toda a amizade que nós temos, pela enorme admiração que eu tenho por ele, por aquilo que eu acredito que ele ainda tem para dar ao país.
Disse que o Paulo Portas ainda tem muito para dar ao país, acha credível que ele venha a apresentar-se como candidato presidencial?
Ainda hoje ouvi falar nisso. Acho que sim, acho que o Paulo Portas tem condições para se apresentar ao país como candidato a Presidente da República.
E acha que teria alguma hipótese de vencer essas eleições?
Lembro-me sempre do Dr. Mário Soares que com 8% nas sondagens, acabou eleito. Também me lembro de um rapaz chamado Rui Moreira, que há 12 anos também tinha 8% nas sondagens e quando chegou ao fim, ganhou as eleições. Portanto, acho que é possível e acho que Paulo Portas é um homem brilhante. É uma avaliação que ele tem de fazer. Não faço ideia.
E se avançasse, seria o seu candidato?
Se me pedir apoio, é quase impossível recusar.
O que quer dizer que não se revê em nenhum dos candidatos que já se posicionaram?
Não tem a ver com rever, revejo-me nas qualidades quer do almirante, quer de Marques Mendes. Qual será o melhor em função da circunstância do país pós-eleições? Vai depender das eleições e, portanto, o que me parece é que se Luís Marques Mendes soubesse que ia haver uma crise política, seguramente teria aguardado algum tempo. Aquilo que vai acontecer com as legislativas vai seguramente contaminar as eleições presidenciais e também as escolhas dos portugueses.
E, portanto, tudo ainda pode mudar de acordo com aquilo que venha a acontecer nas eleições?
Claro, sendo que qualquer desses dois candidatos, são excelentes candidatos. E até juntaria também António Vitorino, que também ainda não decidiu. A escolha que farei será seguramente a seguir às eleições autárquicas, agora o meu projeto é levar o meu mandato até ao fim, principalmente quando tenho vereadores virados para várias candidaturas autárquicas. Obriga-me a manter a coesão, a disciplinar-me e não me expor a tomar grandes posições.
O que quer dizer que não se revê em nenhum dos candidatos que já se posicionaram?
Não tem a ver com rever, revejo-me nas qualidades quer do almirante, quer de Marques Mendes. Qual será o melhor em função da circunstância do país pós-eleições? Vai depender das eleições e, portanto, o que me parece é que se Luís Marques Mendes soubesse que ia haver uma crise política, seguramente teria aguardado algum tempo. Aquilo que vai acontecer com as legislativas vai seguramente contaminar as eleições presidenciais e também as escolhas dos portugueses.
E, portanto, tudo ainda pode mudar de acordo com aquilo que venha a acontecer nas eleições?
Claro, sendo que qualquer desses dois candidatos, são excelentes candidatos. E até juntaria também António Vitorino, que também ainda não decidiu. A escolha que farei será seguramente a seguir às eleições autárquicas, agora o meu projeto é levar o meu mandato até ao fim, principalmente quando tenho vereadores virados para várias candidaturas autárquicas. Obriga-me a manter a coesão disciplinar-me e não me expor a tomar grandes posições.