A vida difícil dos moderados

O estigma de que a direita moderada é privilegiada, não quer saber das desigualdades, que é egoísta e individualista, são rótulos que estão colados à pele de cada um dos seus intervenientes. É ainda preciso parecer que se é de esquerda para fazer passar um discurso moderado de direita

Não é “trendy” ou “cool” dizer bem de governos de centro-direita. Não está na moda. A moderação é uma enorme maioria em silêncio que não tem nada para dizer nas redes sociais. O que prende, o que vende e o que chama à atenção, são frases curtas e exclamativas que despertem lágrimas ou indignação. É assim nas redes e é assim nos comentários televisivos ou artigos de opinião. Estamos também assim no universo noticioso, nos debates entre políticos e em quase todos os fóruns públicos. Os impostos baixam ou descem; há exames ou não há exames; abrem-se as portas aos migrantes ou devem ser todos deportados; a gasolina sobe ou desce; somos contra ou a favor da eutanásia, do aborto ou do casamento entre pessoas do mesmo sexo; separamos o lixo ou não acreditamos nas alterações climáticas; tratamos os cães como filhos ou somos selvagens. O discurso ou na narrativa política (como agora se diz) nestes termos é quase impossível.

No meio desta barulheira maniqueísta são os moderados que ficam a falar sozinhos. E os moderados de direita ainda mais sozinhos, porque o discurso da liberdade individual, da tolerância, da meritocracia, da criação de riqueza por iniciativa privada foi sempre difícil de passar. Continua o estigma de que a direita moderada é privilegiada, não quer saber das desigualdades, que é egoísta e individualista e não quer saber das minorias, são rótulos que estão colados à pele de cada um dos seus intervenientes. É preciso parecer que se é de esquerda para fazer passar um discurso moderado de direita. 

Há anos que é assim e agora piorou. Com a direita populista a nadar na piscina dos grandes, a água ficou turva e os moderados são espremidos pelos dois lados, com discursos que estranhamente não são contraditórios. Do lado da esquerda são cada vez menos os políticos moderados – ainda há o PS de Francisco Assis e de Sérgio Sousa Pinto, alguma esperança no Livre e nada mais. Do lado direito, temos a AD. 

Os partidos do centro-direita combatem num terreno minado: defender as empresas e garantir que o Estado funciona, apostar no investimento público mas garantir que os impostos não sobem, reformar a administração pública sem tocar nas pessoas, nos vencimentos e nos direitos, oferecer um ensino de qualidade mas exigente e que consiga responder a todos; ser social sem ser assistencialista. Ou seja, ser moderado, pragmático e racional. Ora, se nem nas campanhas de álcool a moderação é uma bandeira fácil de vender, na política ainda menos. Um comentador que elogie políticas desta direta moderada tem de estar disposto a ser acusado de ser de direita – um carimbo que quem anda na televisão ninguém quer exibir na testa. 

Sérgio Sousa Pinto, um soarista dos sete costados que ainda resiste na defesa do velho PS, é hoje um ícone da direita. Nada podia ser tão estapafúrdio quanto isto. O que Sérgio Sousa Pinto faz na televisão é ser intelectualmente honesto, de resto é de esquerda com muito orgulho. Continuamos, em 2025, a ter de parecer de esquerda para podermos ser considerados moderados. O outro problema é que sound-bytes com as palavras equilíbrio, regular, empreendedorismo não vendem nem servem para cartazes.