A região do Darfur, no oeste do Sudão, pode ser o próximo “campo de batalha do conflito” e, consequentemente, a origem de um novo país.
De acordo com investigadores do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), a região do Darfur abrange cinco estados sudaneses e “tem uma importância no conflito que não pode ser subestimada”.
A força que se opõe ao Governo sudanês há dois anos — os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa) — controla a maior parte do Darfur e “é provável que a região venha a ser a próxima fronteira e campo de batalha do conflito”.
“As RSF capturaram algumas das capitais dos estados do Darfur logo no início da guerra, com exceção de Al-Fashir, mas os recentes ganhos das Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla inglesa) na capital, Cartum, poderão incitá-las a expandir a sua expedição militar para oeste”, declarou investigadora Maram Mahdi.
Por seu lado, o investigador Moses Chrispus Okello explicou que o Darfur é etnicamente diferente do restante país, constituído nomeadamente pelo povo Massalit, alegadamente alvo de genocídio por parte das RSF.
“O Darfur tem imensos depósitos de petróleo e ouro, o que tem sido do interesse da Rússia e dos Emirados Árabes Unidos”, contextualizou. Com as RSF a prepararem-se para declarar um Governo paralelo no país, poderão existir, “no mínimo duas administrações a governar o Sudão”, disse.
“Eu digo ‘no mínimo’, porque há grupos na zona do Darfur que manifestaram interesse numa separação”, explicou o investigador, para quem esta ideia “não é sem precedentes”, uma vez que o Sudão do Sul “foi criado a partir de uma divisão do Sudão”.
Segundo dados das Nações Unidas, o conflito que eclodiu em 15 de abril de 2023 entre o exército, comandado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, governante de facto do país desde um golpe de Estado em 2021, e o seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdan Dagalo, chefe das RSF.
A guerra já colocou cerca de 30 milhões de sudaneses – o que representa duas em cada três pessoas – a necessitarem de ajuda humanitária, numa altura em que os fundos internacionais disponíveis para este fim estão a ser reduzidos em todos os setores.
Também a Organização Mundial da Saúde alertou que 3,7 milhões de sudaneses estão afetados pela desnutrição.